Descoberta foi feita por equipe de três universidades brasileiras e abre novas possibilidades na paleontologia.
Pesquisadores brasileiros encontraram um parasita sanguíneo preservado nos ossos de um titanossauro, dinossauro famoso por seu pescoço comprido e grande tamanho. O dinossauro tinha osteomielite aguda, infecção óssea que afeta humanos e várias outras espécies de animais. A descoberta foi feita por uma equipe com cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É a primeira vez que um parasita pré-histórico é descoberto em um dinossauro. Antes, só existiam registros em fezes fossilizadas ou dentro de insetos preservados em âmbar, um tipo de resina fóssil.
Os pesquisadores notaram que havia algo de diferente nos ossos do titanossauro em 2017. Na época, a paleontóloga Aline Ghilardi percebeu que um dos ossos de dinossauros que estudava tinha um aspecto diferente, com nódulos (caroços) esponjosos. Curiosa com essa característica, a equipe de cientistas decidiu analisar o osso em mais detalhes. Em 2018, Tito Aureliano, paleontólogo colega de Aline, dedicou parte de seu mestrado na Unicamp para analisar os ossos em um microscópio e por meio de uma tomografia. Com isso veio a descoberta: o titanossauro sofria de osteomielite aguda e provavelmente sentia muita dor.
Mas o feito inédito da pesquisa só foi alcançado quando a equipe fez uma biópsia do osso infectado. Foi a primeira vez que uma biópsia foi feita nesse tipo de material. A pesquisadora Fresia Ricardi-Branco, da Unicamp, identificou um microfóssil dentro dos canais sanguíneos do osso. Em análises seguintes, a cientista Carolina Nascimento, que pesquisa paleoparasitologia na UFSCar, encontrou mais de 70 microrganismos do tipo preservados na amostra.
Além dos parasitas sanguíneos, uma colônia de bactérias também foi encontrada no fóssil. Por isso, não é possível saber se a infecção no dinossauro foi causada pelos parasitas ou se, assim como as bactérias, eles passaram a ocupar o osso por causa das feridas abertas pela infecção. A equipe de pesquisadores continua analisando o osso para responder a novas perguntas sobre o assunto.
O osso que despertou a curiosidade inicial dos cientistas havia sido encontrado em São Paulo e hoje é preservado em um laboratório de pesquisa da UFSCar. O artigo completo sobre a descoberta foi publicado em inglês na revista científica Cretaceous Research. Os pesquisadores também gravaram um vídeo em português explicando detalhes da pesquisa e como a doença afeta animais atuais e pode ter afetado o dinossauro.
News: Luanne Caires
Fontes e mais informações sobre o tema:
Artigo científico intitulado “Blood parasites and acute osteomyelitis in a NON-AVIAN dinosaur (sauropoda, titanosauria) from the upper cretaceous adamantina formation, bauru basin, southeast Brazil”, publicado na revista Cretaceous Research em 2020, de autoria de Aureliano T e colaboradores.
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0195667120303591
Matéria no site G1, intitulada “Em descoberta inédita no mundo, cientistas brasileiros encontram parasita preservado dentro de ossos de dinossauro”, publicada em 19/10/2020.
https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/10/19/em-descoberta-inedita-no-mundo-cientistas-brasileiros-encontram-parasita-preservado-dentro-de-ossos-de-dinossauro.ghtml
Vídeo no canal de Youtube “Colecionadores de Ossos”, intitulado “DINO ZUMBI: parasitas de sangue e doença óssea grave atingia dinossauros”, publicado em 18/10/2020.
https://www.youtube.com/watch?v=_kH96sPGjfg
(Editoração: André Pessoni)