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Alergia: conceitos e tratamentos

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Sobre
Categoria: Artigo – Revista Eletrônica Frontiers for Young Minds
Título original: Allergy: Concepts and Treatments
Ano de publicação: 2020
Link do artigo original: https://kids.frontiersin.org/articles/10.3389/frym.2020.00043

Resumo

A alergia é uma síndrome caracterizada por uma reação corporal indesejável contra uma substância inofensiva. As alergias são muito comuns e a prevalência de doenças alérgicas cresceu nos últimos 50 anos. Não está totalmente claro porque algumas pessoas desenvolvem reações alérgicas e outras não. Neste artigo, exploramos como ocorre uma reação alérgica, bem como discutimos as causas da alergia e seus tratamentos.

 

IMPORTÂNCIA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A alergia é um problema mundial e há uma alta prevalência de síndromes alérgicas, como asma alérgica e alergias alimentares em crianças. É importante entender o que desencadeia a alergia e como prevenir/tratar uma reação alérgica. Não só isso, destacamos também o uso da imunoterapia e como ela pode melhorar a qualidade de vida de pessoas que não respondem aos medicamentos.

O QUE É UMA ALERGIA?

Todos nós temos um sistema de reconhecimento e defesa em nossos corpos, que é chamado de sistema imunológico. O sistema imunológico é composto de células, substâncias chamadas anticorpos e muitos outros componentes. Quando somos vacinados ou quando somos infectados por um microrganismo que pode causar doenças, nosso sistema imunológico visa desenvolver células e anticorpos que nos protegerão contra esse microrganismo específico. Os anticorpos são moléculas produzidas por células chamadas Células B, e eles têm a capacidade de se ligar ao microrganismo invasor para prevenir ou combater uma infecção. No entanto, em uma alergia, o sistema imunológico reage de maneira diferente.

Uma alergia ocorre quando, por algum motivo, o sistema imunológico cria uma resposta contra uma substância inofensiva, como o pólen ou um determinado tipo de alimento. As alergias são muito comuns e estima-se que cerca de uma em cada três pessoas tenha algum tipo de alergia. A alergia pode gerar uma reação em qualquer parte do corpo. Por exemplo, uma alergia alimentar pode causar problemas nos intestinos, com sintomas como dor abdominal e diarreia. A alergia pode se manifestar nos pulmões na forma de asma alérgica, causando dificuldade para respirar e superprodução de muco.

COMO ACONTECE UMA RESPOSTA ALÉRGICA?

Quando o corpo de uma pessoa alérgica encontra um alérgeno (a substância que causa a reação alérgica), o sistema imunológico produz células e anticorpos contra aquela substância inofensiva. Alérgenos comuns são mostrados na Figura 1. Algumas das células produzidas em uma resposta alérgica são chamadas de células T helper tipo 2 (Th2), e essas células Th2 ajudam outras células, chamadas de células B, a produzir um certo tipo de anticorpo chamado imunoglobulina E (IgE). A IgE se liga a certas células do sistema imunológico, tornando essas células muito sensíveis ao alérgeno. Quando a pessoa entra em contato com o mesmo alérgeno novamente, as células imunológicas revestidas com IgE liberam produtos químicos que causam inflamação e inchaço, e esses produtos químicos são a causa dos sintomas de coceiras e espirros que, frequentemente, ocorrem na tentativa do corpo de remover o alérgeno. As células Th2 também podem ir para o local em que o alérgeno entrou no corpo e promover inflamação. Por exemplo, os olhos de uma pessoa alérgica podem ficar inchados, vermelhos e coçando, em resposta a um alérgeno no ar, como o pólen.

alergia
Figura 1 – Exemplos de alérgenos comuns.
Ácaros presentes na poeira da casa, pelos de animais domésticos, componentes em remédios, venenos e outras substâncias presentes em insetos, castanhas, ovo, leite, e pólen de flores.

POR QUE SÓ ALGUMAS PESSOAS TÊM ALERGIAS?

Embora saibamos muito sobre como ocorrem as reações alérgicas, a razão exata pela qual algumas pessoas desenvolvem alergias e outras não ainda é um mistério. Sabemos que existe uma predisposição genética, o que significa que se sua mãe ou seu pai têm alergias, é mais provável que você também as tenha. Fatores ambientais também desempenham um papel na probabilidade de desenvolver alergias [1-3], como:

– Onde você mora (se é rural ou urbano);

– Fatores de estilo de vida (se você se exercita, por exemplo);

– Hábitos alimentares (os alimentos que você ingere); e

– Remédios (antibióticos, por exemplo).

COMO SÃO DIAGNOSTICADAS AS ALERGIAS?

Para ter certeza de que uma pessoa é alérgica a alguma coisa, o médico pode realizar alguns testes simples. Os mais populares são chamados de teste cutâneo em picada e teste de IgE.

No teste cutâneo, o médico ou enfermeiro coloca pequenas quantidades de diferentes alérgenos sob sua pele. Se você for alérgico, desenvolverá uma protuberância vermelha onde o alérgeno foi colocado. O médico pode dizer o quão alérgico você é pelo tamanho da protuberância vermelha. No teste de IgE, o médico fará alguns exames de sangue para ver se você tem uma quantidade elevada de IgE na corrente sanguínea ou IgE específica para alguns alérgenos comuns.

COMO SÃO TRATADAS AS ALERGIAS?

Se você tiver um teste de alergia positivo e souber a qual(is) alérgeno(s) é alérgico, o melhor tratamento é evitar o contato com esses alérgenos. No entanto, é mais fácil evitar o contato com alguns alérgenos, como amendoim ou leite, do que evitar alérgenos transportados pelo ar, como poeira ou pólen. Você pode imaginar não ser exposto a nenhum pólen durante a primavera? Uma vez que é muito difícil evitar completamente alguns alérgenos, principalmente os transportados pelo ar, foram desenvolvidos medicamentos para reduzir a inflamação e impedir a ocorrência da reação alérgica.

Se uma pessoa alérgica for exposta a uma grande quantidade de alérgeno, ou se tiver uma alergia muito grave, essa pessoa pode desenvolver uma reação grave em todo o corpo que pode ser fatal. Esta reação é chamada de choque anafilático. O choque anafilático pode ocorrer muito rapidamente após a exposição ao alérgeno. A pressão arterial da pessoa cai, ela pode ter extrema dificuldade para respirar e pode até resultar em morte. Portanto, se você vir alguém tendo um choque anafilático, peça ajuda rapidamente, pois é uma verdadeira emergência médica.

EXISTE CURA PARA A ALERGIA?

Os medicamentos desenvolvidos para tratar as alergias são seguros e úteis para o alívio dos sintomas da alergia, mas não curam as alergias [4]. Por mais de 100 anos, os cientistas têm trabalhado no desenvolvimento de uma cura para doenças alérgicas [5]. Isso é especialmente importante porque uma parte da população alérgica não responde bem aos medicamentos antialérgicos regulares.

Atualmente, o único tratamento com potencial de cura é a imunoterapia. A imunoterapia é um tratamento que regula o sistema imunológico de uma pessoa para que a pessoa responda de forma diferente a um alérgeno. A imunoterapia é usada para outras doenças além da alergia, inclusive como tratamento para certos tipos de câncer.

A imunoterapia para alergias envolve a administração de doses crescentes do alérgeno ao longo do tempo. Existem duas imunoterapias alérgicas diferentes: subcutânea, quando o alérgeno é colocado sob a pele do paciente (também chamadas de injeções para alergia) e sublingual, quando o alérgeno é colocado sob a língua do paciente (também chamados de tabletes antialérgicos). Ambos os tipos de imunoterapia têm pontos fortes e fracos, mas ambos são eficazes, até certo ponto, na redução das reações alérgicas.

Em geral, a imunoterapia alérgica visa ensinar o sistema imunológico a atuar de forma diferente, produzindo outro tipo de células T, chamadas células T reguladoras (Treg), e outros tipos de anticorpos, a imunoglobulina bloqueadora G (IgG) (Figura 2). As células Treg encontram as células Th2 e evitam sua ativação. Os anticorpos IgG encontram o alérgeno antes que ele encontre os anticorpos IgE nas células do sistema imunológico, e isso pode ajudar a prevenir a reação alérgica.

Figura 2 – O “super-herói” da imunoterapia para alergias.
Imunoterapia para alergias funciona principalmente através da criação de células T regulatórias, que inibem células Th2 causadores de alergia e estimulam a produção de anticorpos bloqueadores que previnem o alérgeno de entrar em contato com o “anticorpo da alegia”, IgE.

CONCLUSÃO

Em conclusão, as alergias são um sério problema de saúde. Embora existam medicamentos que aliviam os sintomas da alergia, a única cura para ela é o uso da imunoterapia, que muda a resposta do paciente ao alérgeno. A imunoterapia é geralmente prescrita para pacientes que não respondem aos medicamentos habituais. Cientistas de todo o mundo ainda estão trabalhando para entender as alergias para que possam desenvolver tratamentos melhores e, possivelmente, até mesmo uma cura para as alergias.

 

Tradução:

Beatriz Spinelli  sobre a tradutora           

Licenciada em Letras e mestra em Saúde, interdisciplinaridade e reabilitação pela Unicamp, pesquisando o ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos. Trabalha como editora de materiais didáticos na área de Linguagens e suas Tecnologias e tem um carinho muito grande pela educação especial, principalmente a educação bilíngue para surdos. Tem interesse por novas tecnologias voltadas à educação e por divulgação científica.

Fontes:

[1] ↑ Alberca-Custódio, R. W., Greiffo, F. R., MacKenzie, B., Oliveira-Junior, M. C., Andrade-Sousa, A. S., Graudenz, G. S., et al. 2016. Aerobic exercise reduces asthma phenotype by modulation of the leukotriene pathway. Front. Immunol. 7:237. doi: 10.3389/fimmu.2016.00237

[2] ↑ Schröder, P. C., Li, J., Wong, G. W., and Schaub, B. 2015. The rural-urban enigma of allergy: what can we learn from studies around the world? Pediatr. Allergy Immunol. 26:95–102. doi: 10.1111/pai.12341

[3] ↑ Yilmaz, B., Carvalho, J. C., and Marialva, M. 2019. The intestinal universe—full of gut heroes who need sidekicks. Front. Young Minds 7:111. doi: 10.3389/frym.2019.00111

[4] ↑ Larsen, J. N., Broge, L., and Jacobi, H. 2016. Allergy immunotherapy: the future of allergy treatment. Drug Discov. Today 21:26–37. doi: 10.1016/j.drudis.2015.07.010

[5] ↑ Ring, J., and Gutermuth, J. 2011. 100 years of hyposensitization: history of allergen-specific immunotherapy (ASIT). Allergy 66:713–24. doi: 10.1111/j.1398-9995.2010.02541.x

(Editoração: Fernando Mecca, Loren Pereira)

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