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Calibã e a bruxa - Ilha do Conhecimento
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Calibã e a bruxa

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Mulheres, corpos e acumulação primitiva

Sobre
Categoria: Livro

Título: Calibã e a bruxa: Mulheres, corpos e acumulação primitiva

Autor/criador: Silvia Federici
Ano de publicação/criação: 2004
Editora: Elefante
Páginas: 460

Em Calibã e a Bruxa, Silvia Federici conta a história de como o proletariado passou a existir como uma classe explorada e explorável. Para Federici, a figura central na transição do feudalismo para o capitalismo são os corpos das mulheres, que foram subjugados para reproduzir uma força de trabalho como a das máquinas. Um processo semelhante ocorreu com as divisões ao longo das linhas raciais, pois o capitalismo cresceu dividindo os que estão na base em linhas de gênero e raça.

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Capa do livro “Calibã e a bruxa: Mulheres, corpos e acumulação primitiva”, de Silvia Federici. Imagem: Editora Elefante.

Assim, Federici inicia uma discussão ao longo dos 3 primeiros capítulos do livro, sobre os protestos medievais contra o feudalismo e a ascensão da heresia popular, sendo esses protestos expressões da insatisfação dos trabalhadores camponeses e urbanos. Mas essa aparente revolução explorou os corpos das mulheres ao invés das classes sociais. O estupro foi descriminalizado e os bordéis europeus foram abertos, enquanto o Estado exercia maior poder sobre esses corpos.

Para a autora, este foi o primeiro passo para dividir os trabalhadores uns contra os outros, dividindo mais ainda homens e mulheres. O capitalismo, então “plantou no corpo do proletariado profundas divisões que serviram para intensificar e ocultar a exploração”, já que assim haveriam lutas internas ao invés da luta contra a exploração.

A partir do capítulo 4 do livro há uma dedicação à caça às bruxas na Europa. Para ela, essa caça foi um evento central no desenvolvimento de uma sociedade capitalista e também formou o proletariado moderno, servindo como uma campanha de terror que dividiu mulheres e homens, construindo uma nova ordem patriarcal, que colocou os corpos das mulheres, seu trabalho e poder reprodutivo sob o controle do Estado, transformando-os em recursos econômicos. 

A caça às bruxas não visava punir transgressões específicas, afirma Federici, mas sim criar um mecanismo para intimidar as mulheres e eliminar o comportamento feminino não conformista de algumas mulheres, o que era visto como uma afronta à ascensão das elites europeias da época.

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As mulheres de Paris. Xilografia reproduzida em The Graphic, 1871.

No geral, Calibã e a Bruxa é um livro fascinante e importante. Demonstra historicamente a ligação entre a desvalorização da mulher e a expropriação do trabalho. Assim, a violência moral e física contra as mulheres se mostra não como um problema, mas como uma parte inerente ao progresso do capital. Ao fazer isso, em seu ponto de vista, Federici vincula a luta feminista à luta contra o capital, demonstrando que a acumulação primitiva, processo inerente ao surgimento do capitalismo, foi realizada de forma intima ao papel da mulher na sociedade. Em outras palavras, o capitalismo só ascendeu devido à expropriação do poder feminino e dos meios independentes de subsistência, que permitiam juntos resistir ao surgimento da classe proletariada.

O interessante é que a autora demonstra isso por meio de uma análise dos julgamentos das bruxas, que longe de ser uma expressão da superstição medieval, as caças às bruxas eram um evento moderno que serviu para abrir caminho para o modo econômico capitalista que vivemos. Ao contrário do que propõe o historiador francês Michel Foucault, que acreditava que, como escreve em seu livro História da Sexualidade, que a sexualidade e as expressões sexuais não foram silenciadas na era moderna e, sim, adquiriram uma nova forma de discurso. Federici aponta que esta tese é plausível quando ignoramos os julgamentos das bruxas, já que para ela essas perseguições eram principalmente uma questão de repressão sexual, econômica e política das mulheres.

Apesar de trazer uma discussão interessante e confrontadora em relação a demais teóricos da época, também seria interesse abrir o diálogo para demais países, como o Brasil. Afinal, temos aqui diferentes recortes sociais e sociedades, inclusive sociedades matriarcais indígenas, e também outras religiões, que também se utilizam de “práticas mágicas” e medicinas alternativas, sofrendo muitas vezes perseguições raciais e religiosas até hoje. Seriam essas sociedades ainda transgressoras e resistentes à ordem capitalista atuais e por isso muitas vezes combatidas? Se sim, como elas combatem esse sistema ainda tão opressor? Fica assim o questionamento e algo a pensarmos e evoluirmos enquanto sociedade.

 

Colaboradora:

Nathália Amato Khaled sobre a autora

Nathália é perita criminal, professora, doutora em genômica e bioinformática, mestre em imunologia e graduada em Biomedicina. Fascinada pela área forense desde os 11 anos de idade, atua na mesma e vê na educação, aliada à ciência, as possibilidades de mudanças significativas para a sociedade. Nathália também é responsável pelo desenvolvimento do website e gestão de conteúdo no Ilha do Conhecimento.

 

(Editoração: Loren Pereira e Nathália Khaled)

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