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Condição é responsável por grandes perdas em rebanhos brasileiros
DESTAQUES: • Redução da população de animais errantes; • Método cirúrgico simples e de rápida recuperação; • Escolha da técnica e idade deve ser determinada por um médico veterinário. |
A castração é um procedimento cirúrgico que visa a saúde dos animais domésticos, principalmente de cães e gatos. Esse procedimento é seguro e simples quando realizado por um médico veterinário especializado, a recuperação é rápida e o animal não tem efeitos colaterais significativos.
Do ponto de vista social os animais habitantes das ruas são promotores de diversas zoonoses que acabam interferindo no bem estar da população do local e como fonte de risco para infecções de humanos e outros animais. Além disso, animais abandonados são isentos de qualquer tipo de cuidado, sem vacinas, vermífugos, carrapaticidas e sofrendo com a falta de alimento e água eles acabam por revirar lixos e aumentar a disseminação de doenças.
Outro ponto relevante é que eles estão sujeitos a que em cada ciclo reprodutivo das fêmeas elas venham a emprenhar e trazer ao mundo mais animais, aumentando a população de animais errantes e agravando todos os problemas já relatados. Não há uma lei específica que garante a castração de animais de rua, porém existem vários projetos ligados a essa causa e que entende suas implicações. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil enfrenta um desafio importante no controle populacional de cães e gatos, cujo crescimento exponencial tem impactos negativos para o bem-estar animal, na fauna silvestre, meio ambiente e saúde pública.
É sabido que a sociedade está mudando e surge com ela novas reivindicações por direitos. Atualmente, é possível observar mais lares com cães e gatos do que com crianças de até 14 anos. E 61% dos tutores consideram seus cães e gatos como membros da família, exigindo atenção, cuidados e políticas públicas. Em 2024, foram realizadas ações de castração em todas as regiões brasileiras, com o aporte de emendas parlamentares e dotação orçamentária própria. Gestores responsáveis pela pauta animal receberam diferentes formações para implementações de ações nos municípios.
Dentre as bases da formulação do programa preconizou-se:
1) formação contínua de gestores;
2) arcabouço legal;
3) estudo das localidades para atendimento prioritário ou emergencial;
4) levantamento do quantitativo de animais a serem esterilizados;
5) identificação e registro animal;
6) tratamento prioritário aos animais de tutores baixa renda;
7) tratamento prioritário a comunidades circundantes a áreas de preservação e conservação, comunidades tradicionais e florestas;
10) combate aos maus-tratos e ao abandono;
11) educação para os direitos animais e guarda responsável;
12) resposta a animais em situação de desastres.
Em relação à castração de pequenos animais, tem se percebido que, por muito tempo, a visão prevalente foi unilateral, ou seja, se considerava apenas os benefícios da prática, visando erradicar comportamentos indesejáveis dos domiciliados e controlar a população de animais errantes. No entanto, estudos recentes demonstram que o tema é mais complexo, pois não engloba apenas riscos e benefícios fisiológicos, mas também uma pauta social extremamente importante a ser discutida e considerada no momento de tomar a decisão.
No que diz respeito aos efeitos a longo prazo da gonadectomia em cães e gatos, há divergências, isso porque o ato cirúrgico da remoção de gônadas sexuais confere uma mistura de riscos e benefícios que variam conforme a idade na castração, espécie, sexo e raça. Quanto aos benefícios mais destacados na literatura, há associação da castração com redução do abandono, aumento da expectativa de vida, incidência reduzida de distúrbios reprodutivos e eliminação de mudanças comportamentais indesejáveis e físicas bem como redução de agressão e perambulação, além da redução de uivo, demarcação de território e incidência reduzida de tumores mamários.
As principais condições dos animais, levando em consideração peso, idade, idade à castração, tempo de exposição aos hormônios gonodais e raça, avaliados concomitantes à gonadectomia foram: hemangiossarcoma, linfoma, osteossarcoma, mastocitoma, displasia de quadril, doença do disco intervertebral, ruptura do ligamento cruzado cranial, incontinência urinária, urolitíase, hiperadrenocorticismo, obesidade, epilepsia e alterações comportamentais.
Ademais, cães castrados, independentemente da idade à castração, apresentam maiores chances de desenvolver problemas ortopédicos. A castração antes dos 6 meses ou antes dos 12 meses, sobrepeso (acima de 20kg) e idade avançada (acima de 12 anos) também foram fatores extremamente importantes para o desenvolvimento das afecções, em específico displasia de quadril e displasia de cotovelo.
De acordo com as pesquisas, surge a hipótese de que os hormônios sexuais possuem um papel protetor na integridade dos ligamentos. Porém, deve-se considerar que estas afecções foram propensas a ocorrer em cães obesos ou em sobrepeso, embora a obesidade seja uma consequência da castração. Portanto, estratégias direcionadas para prevenção do excesso de peso devem ser realizadas para animais após a castração por meio de um manejo dietético adequado para cada espécie e raça, levando em consideração fatores idiossincráticos de cada animal.
Além disso, há o risco de desenvolvimento de incontinência urinária em cadelas. A castração é um fator de risco para o desenvolvimento de incompetência do mecanismo do esfíncter uretral e consequente incontinência urinária, principalmente para aquelas castradas antes dos 2 anos, cadelas mais pesadas e com idade avançada. Em gatos, a obesidade associa-se com sérios problemas como a redução de insulina e aparecimento de diabetes melittus, lipidose hepática, artrite degenerativa, doenças do trato urinário e alergias de pele.
A idade do animal é um fator relevante a ser levado em consideração ao escolher um método cirúrgico. Para suínos machos, o período neonatal é considerado ideal para a castração devido a maior facilidade no manejo e para que não se tornem agressivos, além de que o “mal cheiro” característico é drasticamente diminuído com a remoção das gônadas.
Já em cães e gatos domésticos esse período varia conforme a conduta do médico veterinário, sendo o recomendado esperar pelo menos o fechamento do canal inguinal, com aproximadamente seis meses. Entretanto, alguns estudos sugerem que castrar os animais mais cedo pode elevar o risco de doenças em algumas raças e principalmente em machos antes do completo desenvolvimento sexual (aproximadamente 1,5 anos). Em gatos, a castração antes de cinco meses pode ocasionar a adesão do prepúcio ao pênis na maturidade sexual, contudo, isso pode ser evitado com tratamentos específicos com injeções intramusculares de testosterona.
Dentre outros fatores, o âmbito socioeconômico e político é um dos fatores primordiais para a manutenção dos animais errantes devido a inexistência ou ineficácia de medidas de proteção animal que impeçam a reprodução, falta de educação sobre a guarda responsável, ausência de campanhas fixas de castração e extrema pobreza em algumas comunidades, sendo ideal haver um incentivo à castração como requisito para adoção de um animal de estimação.
Referente as técnicas de castração realizadas atualmente, as que se destacam nos machos são a orquiectomia e a vasectomia e nas fêmeas a ovariohisterectomia e a ovariectomia, além da incisão no flanco. A técnica de gancho também pode ser realizada em machos e fêmeas. A orquiectomia é um procedimento em que se retira os testículos e a vasectomia consiste em bloquear cirurgicamente a passagem dos espermatozoides.
A ovariohisterectomia consiste na remoção dos ovários e do útero, associada a prevenção e ao tratamento de doenças, como a piometra. Já a ovariectomia é o processo cirúrgico para a remoção apenas dos ovários. A incisão pelo flanco é recomendada em casos que a fêmea apresenta aumento das glândulas mamárias e em casos de comportamento agressivo. Assim sendo, determinar a idade apropriada para castrar o seu animal depende de uma análise de vários fatores, devendo ser feita por um médico veterinário.
Colaboração:
Ana Clara Silva Paiva sobre a autora
Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade de Uberaba (UNIUBE). Participa de programa de iniciação científica na área de Trypanosoma vivax.
Joely Ferreira Figueiredo Bittar sobre a autora
Graduada e Mestra Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Ciência Animal (UFMG) e pós-doutora pelo Centro de Pesquisas René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ Minas. Atua na área de Medicina Veterinária Preventiva, principalmente nos seguintes temas: Epidemiologia das principais enfermidades que acometem os bovinos, diagnóstico e controle de doenças parasitárias e imunologia envolvida nas respostas aos agentes parasitários.
Priscilla Elias Ferreira da Silva sobre a autora
Licenciada em Ciências Biológicas, Mestra em Ciências (Clínica das Doenças Infecciosas e Parasitárias). Doutora em Ciências (Parasitologia e Imunologia Aplicadas) pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Infectologia da UFTM. Faz pesquisas na área da Leishmaniose Visceral (LV) com ênfase em estudos envolvendo flebotomíneos.
Referências:
Arena, Laura. Overweight in Domestic Cats Living in Urban Areas of Italy: Risk Factors for an Emerging Welfare Issue, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.3390/ani11082246
Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Manejo Populacional Ético de Cães e Gatos. Brasília, Distrito Federal, 2024. https://www.gov.br/mma/pt-br/composicao/sbio/dpda/programas-e-Projetos/programa-nacional-de-manejo-populacional-etico-de-caes-e-gatos
Bunnel, Mary. Male animal sterilization: history, current practices, and potential methods for replacing castration, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fvets.2024.1409386
Neres, Helyab. Riscos e benefícios da castração em cães e gatos: uma revisão sistemática de estudos observacionais, 2024. DOI: 10.54033/cadpedv21n7-264
Principais técnicas de castração para cães e gatos, 2021. VetSapiens
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(Editoração: Nathália A. Khaled)