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Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) e seu impacto global

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

Conheça as DNT e porque é importante combatê-las

DESTAQUES:
• Grupo de 20 doenças listadas pela OMS que prevalecem em países tropicais e subtropicais;
• DTN afetam pessoas em situações de vulnerabilidade socioeconômica;
• OMS lança novo roteiro 2021-2030 para DTN com metas globais para prevenção, controle, eliminação ou erradicação dessas doenças.

As Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) são doenças transmissíveis que prevalecem em países tropicais e subtropicais, afetando mais de um bilhão de pessoas que vivem em situações de pobreza ou próximas a vetores transmissores de agentes infecciosos. Elas são consideradas negligenciadas pelo reduzido investimento financeiro destinado ao seu controle ou erradicação, e são encontradas em vários países da África, Ásia e América Latina. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) enquadra 20 doenças nesse grupo, sendo elas:

1) Úlcera de Buruli

A Úlcera de Buruli é causada pela Mycobacterium ulcerans, seu quadro clínico pode variar entre nódulos e a típica úlcera, que ocorre geralmente nas pernas ou braços.

2) Doença de Chagas

É uma doença transmitida principalmente por insetos conhecidos como “barbeiros”. O agente causador é um protozoário denominado Trypanosoma cruzi. Indivíduos acometidos apresentam inicialmente a fase aguda da doença, com febre, dor de cabeça e inchaço de gânglios linfáticos. Mais tarde a doença pode evoluir para o quadro crônico, incluindo o aumento do tamanho do coração e insuficiência de seu funcionamento.

3) Dengue

O vírus da dengue é transmitido pela picada da fêmea do Aedes aegypti, mosquito de importância médica que se encontra bem adaptado às condições urbanas, multiplicando-se em depósitos de água parada.

4) Dracunculíase

Doença causada pelo Dracunculus, um nematóide que parasita tecidos subcutâneos. Os sintomas incluem lesões dolorosas ou que coçam, nódulos subcutâneos únicos ou múltiplos nas pernas, cabeça ou abdome.

5) Equinococose

Conhecida também como Hidatidose, é uma doença causada por vermes cestódeos do gênero Echinococcus. Os sintomas mais comuns são desconforto abdominal, icterícia, febre e aumento da massa abdominal.

6) Infecções por trematódeos

Infecções parasitárias causadas por diferentes espécies de trematódeos (classe de platelmintos, ou seja, vermes achatados), podendo infectar intestinos, fígado, pulmão e vasos sanguíneos do sistema digestivo ou urinário.

7) Tripanossomíase humana africana (doença do sono)

Doença causada pelo protozoário Trypanosoma brucei e transmitida pela picada da mosca tsé-tsé. A infecção atinge o sistema nervoso central e pode causar sérios danos neurológicos graves. Se não tratada em tempo oportuno pode ser fatal. 

8) Leishmanioses

São doenças causadas por diferentes espécies de protozoários do gênero Leishmania, que provocam, no ser humano infectado, um conjunto de síndromes clínicas, podendo acometer a pele, as mucosas ou as vísceras. A transmissão é realizada por diversas espécies de flebotomíneos.

9) Hanseníase

Doença infecciosa que causa lesões na pele e danos severos nos nervos, antigamente conhecida como lepra. O agente causador é a bactéria Mycobacterium leprae.

10) Filariose linfática

A Filariose linfática é causada pelo nematódeo, Wuchereria bancrofti, que vive nos vasos linfáticos dos indivíduos acometidos. A transmissão ocorre pela picada de fêmeas do mosquito Culex quinquefasciatus infectados com larvas de W. bancrofti.

11) Micetoma

A doença pode ser causada por múltiplos fungos e por bactérias filamentosas. É considerada um estigma social pois são infecções subcutâneas crônicas e progressivas que acometem pés, membros superiores ou as costas, deixando marcas profundas.

12) Oncocercose

Conhecida também como “cegueira dos rios”, decorrente da infecção produzida pelo nematódeo Onchocerca volvulus, o qual se instala no tecido subcutâneo de indivíduos acometidos. A transmissão ocorre pela picada do inseto Simulium infectado com larvas do nematódeo.

13) Raiva (hidrofobia)

Doença viral, aguda, progressiva e mortal. É causada por vírus da família Rhabidoviridae (RA BV), gênero Lyssavirus. É transmitido pelo contato direto com saliva de mamíferos infectados.

14) Escabiose (sarna)

Doença altamente infecciosa causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei, pode ser transmitida através do contato íntimo entre pessoas contaminadas. Causam prurido e coceira intensa.

15) Esquistossomose

Verminose causada pelo Schistosoma mansoni, tendo a água como veículo de transmissão. A transmissão ocorre pela liberação de ovos através das fezes do homem infectado. As formas intermediárias do parasita se desenvolverão em caramujos do gênero Biomphalaria. No Brasil, a doença é conhecida popularmente como “barriga d’água” ou “doença dos caramujos”.

16) Infecções por helmintos transmitidas pelo solo

Também conhecida como geo-helmintos, é causada pelo contato com o solo contaminado com ovos embrionados ou larvas de diferentes parasitas. Bastante comum em regiões que não se tem acesso à água potável e saneamento básico.

17) Envenenamento por picada de cobra

Grande problema de saúde pública em que a maioria das vítimas encontra dificuldades de acesso ao atendimento em tempo oportuno. É uma triste realidade em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil. Pode levar a incapacidades permanentes e até mesmo amputações devido às diferentes toxinas presentes na diversidade de serpentes.

18) Teníase/Cisticercose

Taenia solium e Taenia saginata são duas espécies de vermes cujos cisticercos, quando ingeridos, resultarão no desenvolvimento do verme adulto no intestino humano, causando a Teníase. Quando alguém ingere os ovos de T. solium, o verme adulto não se desenvolve em seu intestino, mas um cisticerco se desenvolve em algum tecido do corpo (muscular, nervoso ou ocular), causando a Cisticercose.

19) Tracoma

Doença inflamatória dos olhos que afeta a córnea e a conjuntiva. É causada pela bactéria Chlamydia trachomatis.

20) Bouba

É causada pela bactéria Treponema pertenue e é transmitida pelo contato com a pele de indivíduos infectados, sendo altamente contagiosa.

 

Essas doenças possuem mortalidade e morbidade significativas, custando às comunidades subdesenvolvidas prejuízo e perda de produtividade socioeconômica. Além disso, são responsáveis por graves consequências como a deficiência, a exclusão social, a discriminação e a estigmatização. Essa última consequência é fortemente relatada nos casos de Leishmaniose Tegumentar e Filariose linfática.

Na agenda global de desenvolvimento e saúde da ONU, as DTN têm um longo caminho a ser percorrido, haja visto que a maioria dessas enfermidades atingem pessoas que vivem em situações de vulnerabilidade. De modo geral, prevenir e tratar as DTN tem grande custo-benefício. São objetivos da Agenda de Desenvolvimento Sustentável a criação de metas e intervenções intersetoriais para controlar, prevenir, eliminar e até mesmo erradicar as DTN.

Para alcançar tais metas, a OMS lançou um novo roteiro 2021 – 2030 para DTN, que objetiva acabar com a negligência e promover o acesso a quimioterapia preventiva, gestão de casos individuais, medidas de saneamento e higiene e controle de vetores dentro das comunidades vulneráveis, melhorando as condições de vida, o acesso à educação e à água potável, direitos esses que são básicos e imprescindíveis para a manutenção da vida. O alcance da equidade em saúde é também um objetivo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

As DTN deixam marcas importantes nas pessoas acometidas e seu controle somente poderá ser realizado a partir de abordagens colaborativas. Apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas, falta muito a se fazer para atingir com êxito as novas metas elencadas. Por persistirem como problema global de saúde pública, torna-se urgente acelerar ações que visam reduzir a incidência, a prevalência, a morbidade, a incapacidade e a morte.

Esclarecer os papéis de gestores e todas as partes interessadas são estratégias importantes no entendimento do contexto cultural das diferentes comunidades atingidas. Além disso, para superar essas barreiras, esforços coletivos e principalmente investimentos robustos no campo da ciência e inovação tecnológica serão fundamentais, bem como a defesa e a valorização do nosso Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Colaboração:

amamentaçãoPriscilla Elias Ferreira da Silva sobre a autora

Licenciada em Ciências Biológicas, Mestra em Ciências (Clínica das Doenças Infecciosas e Parasitárias). Atualmente é doutoranda em Ciências (Parasitologia e Imunologia Aplicadas) pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Infectologia da UFTM. Faz pesquisas na área da Leishmaniose Visceral (LV), Doença Tropical Negligenciada de suma importância no Brasil.

 

Referências:

Livro “Atlas interativo de leishmaniose nas Américas: aspectos clínicos e diagnósticos diferenciais”, de autoria de Maia-Elkhoury, A.; Hernandez, C.; Ovalle-Bracho, C.; e colaboradores, publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde em 2021.

Livro “Doenças infecciosas e parasitárias – Guia de bolso”, elaborado e editado pelo Ministério da Saúde do Brasil em 2010. 8ª ed.

Matéria no site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) intitulada “Doenças tropicais negligenciadas: OPAS pede fim dos atrasos no tratamento nas Américas”, publicada em 28/01/2022 (Website)

Site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) sobre doenças tropicais negligenciadas (Website)

Site da OMS sobre doenças tropicais negligenciadas (Website)

Site da OMS o roteiro 2021 – 2030 para controle das doenças tropicais negligenciadas (Website)

(Editoração: Fernando F. Mecca)

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