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Estudo revela instrumentos utilizados por humanos para sobreviverem na Era do Gelo

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Indivíduos criaram roupas sofisticadas há 13.000 anos usando ossos de pequenos carnívoros, demonstram descobertas arqueológicas recentes

A regulação da temperatura comportamental foi uma restrição fundamental ao ritmo da dispersão humana. Os humanos modernos são fisiologicamente adaptados aos climas quentes da África subsaariana, e a expansão para as latitudes do norte exigiu a adoção de tecnologias que os protegiam contra condições frias, como a confecção de roupas sob medida. Existem poucas evidências diretas sobre essas roupas, devido ao material, mas evidências indiretas incluem agulhas de osso, usadas para costurar essas roupas, como revela estudo da revista PLOS ONE publicado no dia 27 de novembro.

Os 32 artefatos (agulhas de osso) avaliados nesse estudo foram recuperados de escavações arqueológicas pelo Departamento de Antropologia da Universidade de Wyoming entre 2015 e 2022 do sítio La Prele, localizado em Wyoming (EUA), local onde um mamute foi abatido há 13.000 anos.

“Presumíamos que seriam feitas de ossos de bisão ou mamute, que compõem a maioria dos ossos de animais encontrados em La Prele e outros sítios de mesma idade nas Grandes Planícies e Montanhas Rochosas da América do Norte”  disse o arqueólogo Spencer Pelton, autor principal do estudo. Em vez disso, o estudo descobriu que as agulhas foram criadas a partir de ossos de raposas vermelhas, linces-vermelhos, pumas, linces, lebres ou coelhos,  capturados em armadilhas.

ERA DO GELO
Escavação no sítio arqueológico de La Prele em 2016, onde encontraram agulhas feitas de ossos de raposa vermelha e gato selvagem. Fonte: Danny Walker

“Foi extremamente surpreendente que essas agulhas fossem feitas de ossos de pequenos carnívoros”, disse Pelton. Os cientistas chegaram a essas conclusões extraindo colágeno dos artefatos e analisando sua composição química, especificamente cadeias curtas de aminoácidos conhecidas como peptídeos, e, depois, comparando-as com dados de peptídeos (pequenas moléculas que são produto da quebra de proteínas, como o colágeno) de animais conhecidos por terem existido durante aquele período na América do Norte, por meio da técnica de espectrometria de massa.

Encontrar as pequenas agulhas exigiu uma escavação minuciosa e precisa, disse Pelton. No entanto, a equipe só encontrou as agulhas usando uma peneira fina de 1,6 milímetros para filtrar o sedimento escavado. “Relativamente poucos sítios arqueológicos são escavados com esse nível de precisão, então é possível que agulhas de osso tenham sido perdidas durante escavações anteriores em outros sítios”, disse Pelton. 

Essas agulhas de ossos foram importantes para costurar as roupas. Anteriormente, os humanos provavelmente usavam roupas mais soltas feitas com ferramentas menos precisas, mas, devido às temperaturas da Era do Gelo, foi necessário a confecção de roupas com costuras bem fechadas para maior proteção. Assim, essas agulhas permitiram aos humanos a capacidade de expandir seu território para lugares dos quais eram anteriormente excluídos devido à ameaça de hipotermia ou morte por exposição ao frio.

 

Colaboração:

Vitor Batista sobre o autor

Vitor Batista é graduando em ciências biológicas na FFCLRP/USP e acredita que a ciência precisa ser difundida para o público com linguagem acessível, sendo alcançada por meio de projetos como a Ilha do Conhecimento.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico intitulado “Early Paleoindian use of canids, felids, and hares for bone needle production at the La Prele site, Wyoming, USA”, publicado na revista PLOS ONE em 2024, de autoria de Pelton e colaboradores.

Matéria no site CNNBrasil, intitulada “Ferramentas pré-históricas revelam como humanos sobreviveram na Era do Gelo”, publicada em 05/12/2024.

 

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