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Neste estudo, entre homens e mulheres de diversos grupos raciais e étnicos, parar de fumar foi associado a grandes reduções na mortalidade associada ao tabagismo
Em um trabalho publicado recentemente na revista JAMA Network Open, cientistas investigaram a associação entre tabagismo, cessação do tabagismo e mortalidade por raça, etnia e sexo entre adultos dos EUA. Os resultados mostram que entre homens e mulheres de diversos grupos raciais e étnicos, o tabagismo atual foi associado a uma taxa de mortalidade pelo menos duas vezes maior por todas as causas. Porém, parar de fumar, particularmente em idades mais jovens, foi associado a reduções substanciais no excesso relativo de mortalidade associado ao tabagismo continuado. Assim, fumantes de cigarro que param antes dos 35 anos têm taxas de mortalidade semelhantes, dentro de um determinado período de tempo, àqueles que nunca fumaram, sugere o estudo.
O principal objetivo do estudo foi entender quais são os perigos contemporâneos do tabagismo e os benefícios de parar de fumar, classificando por raça, etnia e sexo entre os adultos dos EUA. Para isso os cientistas analisaram dados de 551.388 adultos norte-americanos, e viram que o tabagismo foi associado a uma maior mortalidade por todas as causas em comparação com nunca fumar, independentemente de raça, etnia ou sexo.
O novo estudo usou dados do National Health Interview Survey dos EUA, uma pesquisa baseada em questionários usada para monitorar a saúde da população dos EUA, e do National Death Index, um banco de dados dos registros de óbitos do país. A análise incluiu dados de pesquisa dos mais de meio milhão de adultos que preencheram questionários entre janeiro de 1997 e dezembro de 2018 e tinham entre 25 e 84 anos no momento do recrutamento. Estes incluíam fumantes atuais, ex-fumantes e os chamados nunca fumantes, ou seja, pessoas que fumaram menos de 100 cigarros em suas vidas.
De acordo com os dados obtidos, quase 75.000 desses participantes do estudo morreram até o final de 2019. Em comparação com os que nunca fumaram, os fumantes atuais mostraram uma taxa de mortalidade por todas as causas significativamente maior, em geral, bem como taxas mais altas de morte por câncer, doenças cardíacas e pulmonares, especificamente.
O estudo também indica que aqueles que pararam de fumar em idades mais avançadas ainda tiveram benefícios substanciais, mas suas taxas de mortalidade excederam aqueles que pararam antes de atingirem os 35 anos. Por exemplo, ex-fumantes que pararam de fumar entre 35 e 44 anos apresentaram uma taxa 21% maior de morte por qualquer causa, em comparação com os que nunca fumaram. E aqueles que pararam entre as idades de 45 e 54 anos mostraram uma taxa de mortalidade por todas as causas 47% maior do que os que nunca fumaram. Em particular, aqueles que pararam de fumar aos 45 anos reduziram seu risco excessivo de morte em até 90%.
Dentre os grupos, fumantes brancos não hispânicos apresentaram a maior taxa de mortalidade por todas as causas, que foi três vezes maior do que a de nunca fumantes. Fumantes não brancos, incluindo pessoas hispânicas e não hispânicas, tiveram taxas de mortalidade ligeiramente mais baixas, cerca de duas vezes mais do que nunca fumaram. Isso pode estar relacionado ao fato de que esses participantes relataram fumar menos cigarros por dia, em média; começar a fumar em idades mais avançadas; e sendo menos propensos a fumar diariamente, em comparação com indivíduos brancos.
Portanto, enquanto o tabagismo estava associado a um maior risco de morte em todos os grupos raciais e étnicos pesquisados, “parar de fumar estava associado a riscos substancialmente revertidos para todos os grupos”, escreveram os autores do estudo. Da mesma forma, o estudo também descobriu que, quanto mais tempo se passou desde que uma pessoa parou de fumar, mais próxima sua taxa de mortalidade estava daquela de quem nunca fumou.
Este é o terceiro grande estudo a sugerir que 35 anos pode ser a idade ideal para parar de fumar, principalmente para aqueles que começam a fumar jovens, diz John P. Pierce, professor emérito do Departamento de Medicina de Família e Saúde Pública da Universidade da Califórnia, San Diego, que não participou do estudo. “Já se sabe há muito tempo que quanto mais cedo um fumante parar, melhor No entanto, agora é possível ser mais específico em relação à idade em que um fumante desiste.” Assim, ter um prazo de 35 anos pode ser potencialmente motivador para jovens fumantes que desejam parar de fumar, escreveu Price. “Sem um objetivo próximo, é tentador para os fumantes abandonar uma tentativa de parar com pensamentos do tipo ‘Eu realmente não preciso fazer isso agora’. O estudo fornece os dados necessários para definir uma meta motivadora próxima de parar de fumar antes dos 35 anos”, finalizou ele.
Colaboração: Jéssica de Moura Soares sobre a autora
Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Matéria no site Science Alert, intitulada “Giant US Study Identifies Best Age to Quit Smoking to Avoid Death Risks”, publicada em 26/10/22. https://www.sciencealert.com/giant-us-study-identifies-best-age-to-quit-smoking-to-avoid-death-risks