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Como o acaso determina nossas vidas
Sobre Categoria: Livro Título: O Andar do Bêbado Autor/criador: Leonard Mlodinow Ano de publicação/criação: 2008 Editora: Zahar Páginas: 324 |
Imagine um campeonato de beisebol, onde a grande final é decidida em uma “melhor de 7” (ou seja, o primeiro time que ganhar 4 partidas é vitorioso). Sendo este um esporte sem possibilidade de empate e considerando que o melhor time tenha 55% de chances de vencer (restando, então, 45% de chances para o time mais fraco), uma melhor de 7 parece uma maneira justa de determinar o campeão, certo? Apesar disso, a chance de o time mais fraco levar a taça é de 4 em 10. Em outras palavras, se fossem jogadas 10 “melhores de 7”, 4 vezes o time mais fraco sairia campeão.
Mas talvez 10% de diferença seja muito pouco; digamos que o time mais forte consegue vencer 2/3 dos jogos. Ainda assim, existe 25% de chances do time mais fraco levar o campeonato. Como fazer, então, uma disputa que garanta que o time mais forte vença, com menos peso para o acaso? Bem, uma final “melhor de 23” deixaria só 5% de chance do time mais fraco vencer!
Estes números parecem absurdos, e é difícil para qualquer pessoa chegar a esse tipo de interpretação sem parar para fazer as contas. Em O Andar do Bêbado, Leonard Mlodinow usa este e numerosos outros exemplos para mostrar que nossa mente não é muito boa ao lidar com estatística, e que temos muita dificuldade em interpretar o acaso.
Os exemplos do livro variam entre esportes, programas de auditório, investimento na bolsa de valores, o custo de uma multa de trânsito ou de perder um espelho retrovisor dando ré, entre muitos outros. Além de muito ilustrativa, a escrita é leve e divertida, não raramente fazendo rir enquanto acompanha o raciocínio matemático. Aliás, se você é do time de quem teme a matemática e tem aversão a fazer contas, não se preocupe: qualquer conta necessária para entender o assunto é conduzida passo-a-passo pelo autor, e sua lógica é sempre muito clara e fácil de acompanhar.
Para além de entender estatística e nossa dificuldade com ela, o livro também enfatiza o grande peso que o acaso tem em nossas vidas. Tente supor: quais as chances de um editor não querer publicar um livro que tem qualidade para se tornar uma das obras mais vendidas da história? Estamos falando de alguém cujo trabalho é justamente determinar o valor de mercado de uma obra; e de uma obra que seria exemplar em seu impacto no mercado e sua influência cultural, não simplesmente aceitável.
Alguns exemplos reais: Harry Potter foi rejeitado 9 vezes; Dr. Seuss foi rejeitado 27 vezes! Para estes autores, agora reconhecidamente bem-sucedidos, o acaso fez seus manuscritos caírem em mãos de editores incapazes de conceber o valor da obra por várias vezes sucedidas. Isso nos faz pensar quantas grandes obras podem nunca ter sido publicadas, porque seu autor tentou “só” 14 vezes enviá-las para editores… E, por outro lado, quantas obras medíocres não ganharam grande divulgação midiática, apenas porque deram sorte de cair nas graças de um editor influente.
A partir daí, Mlodinow discute o quanto tentamos usar o passado (no exemplo acima: características de obras que já venderam muito) para prever o futuro, em situações em que isso não é possível – seja porque não conseguimos observar as características apropriadas, ou porque o acaso tem muito mais peso do que qualquer intenção. Para tanto, o autor busca também exemplos nas bilheterias de filmes de Hollywood e nas flutuações das mais importantes ações das bolsas de valores.
O Andar do Bêbado nos ensina sobre enxergar o acaso em nossas vidas e sobre como não se desesperar com isso, ao mesmo tempo em que mostra a importância de levar a aleatoriedade em conta para não cair em ilusões de prosperidade por um esforço exagerado, muitas vezes até danoso. Tudo isso em uma escrita fluida e divertida, fazendo deste um livro não só acessível, mas também recomendável a todos os tipos de pessoas.
Colaboração: Fernando Figueiredo Mecca sobre o autor
Fernando é biólogo, professor e cientista. Mestre e doutorando em Neurociências, estuda os efeitos da depressão e antidepressivos sobre funções elétricas do cérebro. Também se interessa em educação e divulgação científica.
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(Editoração: Fernando Mecca e Loren Pereira)