Cientistas estabelecem uma comunicação bidirecional com indivíduos adormecidos durante sonhos lúcidos.
Os conceitos de sonhos lúcidos (percepção consciente de identificar o estado de sonho) e de incubação de sonhos (uma técnica que visa focar a atenção em algo específico antes de dormir para sonhar com isso) são os temas que inspiram o filme Inception (A origem). Nesta ficção científica há um grupo de indivíduos capazes manipular os sonhos, sendo consciente de suas ações além de influenciar os sonhos alheios. Assim como a descoberta publicada semana retrasada nesta mesma seção, “Rede de ‘estradas celestiais’ no espaço é revelada”, o estudo discutido essa semana nos remete ao universo de ficção científica. Dessa vez nos voltamos ao universo de Inception. Cientistas de diferentes centros de pesquisa neurológica e do sono conciliaram os resultados de seus grupos, revelando que é possível estabelecer uma comunicação com pessoas dormindo. O trabalho foi publicado na revista Current Biology.
Dormir nada mais é do que passar do chamado “estado de vigília” para o “estado de sono”, ou seja, é passar da condição de estar acordado, para uma condição de estar dormindo. O sono oscila em ciclos que dividem-se em: NREM (traduzido do inglês, Movimento Não Rápido dos Olhos”) e REM (traduzido do inglês, Movimento Rápido dos Olhos). O sono REM é caracterizado por ter intensa atividade cerebral, sendo também nesta fase que os sonhos acontecem. Como a maioria das pessoas têm dificuldade de lembrar dos sonhos ou possuem apenas lembranças fragmentadas, entender a importância neurológica dos sonhos era um desafio aos pesquisadores da área. Assim, estabelecer uma metodologia que permite uma interação bidirecional em tempo real entre o pesquisador e o indivíduo que está dormindo sinaliza uma ótima perspectiva para compreensão fisiológica da importância dos sonhos.

Em entrevista ao Gizmodo Brasil, o neurocientista cognitivo e autor da pesquisa, Ken Paller, explica que o objetivo desse estudo era aprender mais sobre o porquê de os sonhos acontecerem e como esse entendimento pode ser útil para a função mental durante o despertar. Em trabalhos anteriores observaram que estímulos sonoros externos podem influenciar o sono. Assim, entenderam que há indivíduos capazes de entrar em um estado de sonho lúcido, permitindo a interação entre o mundo externo e dos sonhos, uma vez que foi observado um tipo de resposta através de movimentos oculares. Nesse contexto, os pesquisadores pensaram que seria possível estabelecer uma comunicação bilateral entre os sonhadores e os observadores despertos em condições laboratoriais. Isso representa uma ótima metodologia para entender as implicações fisiológicas dos sonhos.
O trabalho contou com 36 voluntários sendo que alguns tinham experiência mínima anterior com sonhos lúcidos, outros eram sonhadores lúcidos frequentes e um era paciente com narcolepsia (indivíduo capaz de entrar no ciclo REM rapidamente) que tinha sonhos lúcidos frequentes. A metodologia desse estudo consistia na transmissão de estímulos externos tais como emissão de sons, luzes e contato físico, e na análise de respostas por meio de sinais eletrofisiológicos vindos do indivíduo que estava no estado de sonho lúcido. Para uma demonstração de prova de conceito, foram apresentados problemas matemáticos e perguntas do tipo sim ou não. Os sonhadores responderam em tempo real com movimentos oculares volitivos ou sinais dos músculos faciais.

Durante a análise os voluntários foram capazes de compreender novas informações, mantê-las, além de exprimir respostas simples e/ou volitivas (esforço deliberado, é uma das principais funções psicológicas humanas). Esse fenômeno foi chamado de “sonho interativo”. O compilado de resultados dos diferentes grupos de pesquisas exposto neste artigo, permite concluir que é possível analisar as características fenomenológicas e cognitivas dos sonhos em tempo real. Os autores afirmam que esse canal de comunicação relativamente inexplorado pode permitir uma variedade de aplicações práticas e uma nova estratégia para a exploração empírica dos sonhos. Apesar das boas notícias, eles ressaltam o pequeno número amostral do estudo e que, por isso, as conclusões devem ser vistas com ressalvas.
News: Iasmin Taveira
Fontes e mais informações sobre o tema:
Artigo científico intitulado “Real-time dialogue between experimenters and dreamers during REM sleep”, publicado na revista Current Biology em 2021, de autoria de Konkoly e colaboradores.
https://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822(21)00059-2
Matéria no site Gizmodo Brasil, intitulada “Cientistas descobrem uma forma de se comunicar durante os sonhos”, publicada em 19/02/2021.
https://gizmodo.uol.com.br/cientistas-forma-comunicacao-sonhos/
Conteúdo do site Wikipédia, acesso em 25/02/2021.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sono
(Editoração: André Pessoni)