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Cientistas dizem que os monumentos provavelmente foram construídos ao longo de um ‘braço’ agora extinto do Rio Nilo, Ahramat
Uma equipe de cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em trabalho publicado 16 de maio na revista Nature, trouxe novas evidências sobre um dos maiores mistérios da arqueologia: como os antigos egípcios construíram suas majestosas pirâmides, como as do complexo de Gizé, há mais de 4 mil anos? A hipótese em questão aponta para um “braço” perdido do Rio Nilo.
A pesquisa sugere que as pirâmides foram erguidas ao longo de uma antiga ramificação do Rio Nilo, agora desaparecida. Esta hipótese não é recente, já havia sido apontada por diversos arqueólogos, mas, até agora, ninguém tinha certeza da localização, forma, tamanho ou proximidade desta via navegável em relação ao local das pirâmides. Agora, com tecnologias modernas de mapeamento, a equipe registrou diversas evidências de que este braço do rio de fato existiu. Esta via, que os cientistas chamaram de Ahramat (que significa “pirâmide” em árabe), teria sido fundamental para o transporte dos pesados blocos de pedra e outros materiais necessários para a construção dos monumentos.
Para descobrir essa ramificação perdida, a equipe utilizou uma combinação de tecnologias avançadas, incluindo:
- Imagens de radar via satélite: Permitem “ver” sob a superfície da terra e detectar estruturas ocultas.
- Mapas históricos: Documentos antigos que ajudam a compreender como era a geografia do passado.
- Levantamentos geofísicos: Estudos que analisam as propriedades físicas do subsolo.
- Sondagem de sedimentos: Técnica em que amostras do solo são analisadas para encontrar vestígios de antigos cursos d’água.
Com esses métodos, os cientistas conseguiram mapear o Ahramat, que teria cerca de 64 quilômetros de comprimento e até 700 metros de largura. Esse “braço” do rio corria próximo a 31 pirâmides, facilitando o transporte dos materiais de construção.
Com isso, os pesquisadores acreditam que, ao invés de dependerem unicamente do trabalho humano para transportar os enormes blocos de pedra, os egípcios poderiam ter usado barcos no rio para mover esses materiais. Isso teria reduzido significativamente o esforço necessário, tornando o processo de construção muito mais eficiente.
Em conversa com a BBC, uma das co-autoras do estudo, Suzanne Onstine, afirmou que “localizar a verdadeira ramificação [do rio] e ter os dados que mostram que havia uma via navegável que poderia ser usada para o transporte de blocos mais pesados, de equipamentos, de pessoas, de tudo, realmente nos ajuda a explicar a construção das pirâmides”.
A localização desse braço do rio, próximo às pirâmides, explica por que tantas dessas estruturas monumentais foram construídas na região entre Gizé e Lisht. Hoje, essa área é parte do Deserto do Saara, mas, há milhares de anos, teria sido uma zona muito mais hospitaleira e acessível, graças à proximidade do Rio Nilo.
O Nilo sempre foi vital para a civilização egípcia. Ele fornecia água para a agricultura, tornava o solo fértil, era uma rota de transporte crucial e também desempenhava um papel central na cultura e religião do Egito Antigo. A descoberta desse braço extinto do Nilo reforça a ideia de que os egípcios usaram os recursos naturais ao seu favor, aproveitando a energia do rio para facilitar a construção das pirâmides.
Essa descoberta notável não só nos ajuda a entender melhor como as pirâmides foram construídas, mas também destaca a habilidade dos antigos egípcios em desenvolver técnicas a partir dos recursos naturais de maneira inteligente. O uso do Rio Nilo para transporte demonstra um impressionante conhecimento de engenharia e logística, desmistificando parte do enigma que envolve essas maravilhas da antiguidade.
Colaboração:
Jéssica de Moura Soares sobre a autora
Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Artigo científico de autoria de Ghoneim, E., Ralph, T.J., Onstine, S. e colaboradores, intitulado The Egyptian pyramid chain was built along the now abandoned Ahramat Nile Branch, publicado na revista Communications Earth & Environment, volume 5, p.233, em 16 de maio de 2024. https://www.nature.com/articles/s43247-024-01379-7
Matéria no site G1, intitulada “Cientistas dizem ter desvendado mistério sobre construção de pirâmides egípcias”, publicada em 18/05/24. https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2024/05/18/cientistas-dizem-ter-desvendado-misterio-sobre-construcao-de-piramides-egipcias.ghtml