Viver em regiões elevadas impõe desafios diferentes quando comparados a locais mais baixos, principalmente em como lidar com a baixa concentração de oxigênio. É de se esperar, portanto, que populações vivendo nessas regiões tenham adaptações que favoreçam um estilo de vida diferente daquelas que vivem mais próximas ao nível do mar. Tentando explorar a evolução destas adaptações em populações humanas que vivem nos Andes, a mais de 2500 m de altitude, pesquisadores sequenciaram o genoma de pessoas que viveram próximo ao lago Titikaka entre 6800 e 1200 anos atrás. Comparando essas informações com duas populações modernas, uma também de grandes altitudes e outras de regiões baixas, os pesquisadores demonstraram que populações andinas têm corações e sistemas digestórios diferentes de outros grupos de humanos. Enquanto os tibetanos sobrevivem em grandes altitudes graças à particularidades na manutenção dos níveis de hemoglobina, os andinos têm uma proteína ligada à formação do músculo cardíaco diferente daquela de outras populações. Além disso, os pesquisadores também encontraram adaptações em regiões do genoma dessas populações que vivem nos Andes, relacionadas à eficiência da digestão de amido – uma diferença de grande importância, considerando que estes grupos tinham a batata como principal fonte de alimento ao longo de sua evolução. Além destas diferenças, o trabalho também mostrou que andinos modernos apresentam alelos relacionados à resposta imunológica que proporcionam maior resistência à varíola, trazida durante a ocupação europeia na América do Sul. A presença desses alelos indica que os andinos modernos são aqueles que sobreviveram aos surtos de varíola, uma demonstração de como populações humanas continuam evoluindo.
Tweet-science: Fernando F. Mecca
Artigo original: Revista Science Advances (Nov/2018) # The genetic prehistory of the Andean highlands 7000 years BP though European contact. Autores: J. Lindo, R. Haas, C. Hofman, e colaboradores.
(Editoração: Gabriel Ferreira, Priscila Rothier e André Pessoni)