Pequenos tanques de criação de peixe geram recursos e nutrientes que abastecem cultivo de vegetais e criação animal.
Em um contexto em que a fome no mundo tem aumentado e a crise mundial causada pela pandemia do COVID-19 é agravante da situação, uma tecnologia brasileira surge como alternativa para amenizar esse problema. Pesquisadores da EMBRAPA e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desenvolveram uma tecnologia sustentável de combate à fome chamada Sistema Integrado de Produção de Alimentos. O “sisteminha”, como os pesquisadores chamam o projeto, tem como cerne a piscicultura intensiva.
Em 2015, na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da ONU, 193 países concordaram em estabelecer 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para serem alcançados até 2030. No geral, esses objetivos visam acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e garantir que todos tenham vidas dignas e prósperas. O objetivo número 2 denomina-se “Fome zero e agricultura sustentável”, que descreve ações com a finalidade de erradicar a fome no mundo, alcançar a segurança alimentar, melhorar a qualidade nutritiva da população e promover agricultura sustentável.
Segundo relatório publicado pela ONU no primeiro semestre de 2020, cerca de 690 milhões de pessoas passaram fome em 2019, aproximadamente 60 milhões de pessoas a mais que em 2015. Devido à crise mundial causada pela pandemia do COVID 19, a ONU prevê que 130 milhões de pessoas cheguem à fome crônica até o final deste ano. No contexto brasileiro, a insegurança alimentar moderada teve alta de 87,53% nos últimos sete anos, enquanto a insegurança alimentar leve e a grave tiveram aumento de 71,5% e 48,8%, respectivamente. Os dados foram disponibilizados em setembro pelo IBGE.
Em meio a esse cenário preocupante, a piscicultura intensiva se apresenta como uma aliada. Os tanques de criação de peixes são ricos em nutrientes e são reaproveitados para diferentes finalidades da produção vegetal e animal. Na proposta dos cientistas da Embrapa e da UFU, há a concretização de um sistema de produção integrado, reutilizando os nutrientes do tanque que permite o cultivo de frutas e hortaliças, assim como a criação de aves e pequenos animais.
Em 2014 os pesquisadores estimaram que com 5 mil reais seria possível adquirir todos os materiais para construção do sistema. No entanto, uma vez que o sistema pode ser construído a partir de diversos materiais (até mesmo materiais reutilizados) como papelão, plástico ou alvenaria, pode-se economizar cerca de 90% dos itens requeridos para montagem, tornando-o acessível. Além disso, o pequeno espaço ocupado para o estabelecimento do projeto possibilita sua aplicação em zonas rurais e até mesmo urbanas. Comunidades quilombolas e indígenas também já foram beneficiadas com essa tecnologia.
Em entrevista à revista Pesquisa Fapesp, os pesquisadores enfatizam que o objetivo é tirar famílias da pobreza e aumentar em 300% a diversidade de alimentos para consumo próprio. Além disso, o excedente pode ser comercializado. Como consequência, o projeto vem sendo adotado por muitas famílias no Brasil, principalmente no Nordeste, e tem tido uma marcante repercussão no combate à fome e na garantia de segurança alimentar. Além de impactar muitas famílias no Brasil, sete países africanos têm interesse no projeto que já tem um reconhecimento notável. Em 2017, a iniciativa ganhou o Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional, concedido pelo Ministério da Integração Nacional.
News: Iasmin Taveira
Fontes e mais informações sobre o tema:
Documento da EMBRAPA intitulado “Sisteminha Embrapa – UFU – FAPEMIG: Sistema Integrado de Produção de Alimentos – Módulo 1: tanque de peixes”, publicado no site da EMBRAPA em agosto de 2019, de autoria de Guilherme LC, Sobreira RS e Oliveira VQ.
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/201476/1/Sisteminha-Embrapa-UFU-Fapemig-Baixa2019.pdf
Matéria no site Pesquisa FAPESP, intitulada “Sistema contra fome” , publicada em novembro de 2020.
https://revistapesquisa.fapesp.br/sistema-contra-a-fome/
Matéria no site da ONU News, intitulada “ONU: fome atinge mais de 820 milhões de pessoas no mundo”, publicada em 15/07/2019.
https://news.un.org/pt/story/2019/07/1680101
Matéria no site G1, intitulada “Fome no Brasil: em 5 anos, cresce em 3 milhões o nº de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, diz IBGE”, publicada em 17/09/2020.
https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/09/17/fome-no-brasil-em-5-anos-cresce-em-3-milhoes-o-no-de-pessoas-em-situacao-de-inseguranca-alimentar-grave-diz-ibge.ghtml
Comunicado de imprensa do site da UNICEF, intitulado “À medida que mais pessoas não têm o suficiente para comer e a desnutrição persiste, acabar com a fome até 2030 é uma incerteza, alerta relatório da ONU”, publicado em 13/07/2020.
https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/acabar-com-fome-ate-2030-e-incerteza-alerta-relatorio-onu
(Editoração: André Pessoni)