Pesquisa mostra que doença responsável por diminuir em 80% a população de demônios-da-tasmânia deixa de representar ameaça de extinção a esses animais.
Os diabos-da-tasmânia, ou demônios-da-tasmânia, são pequenos mamíferos que vivem na Austrália, especificamente numa ilha ao sul do continente australiano chamada Tasmânia. Acredita-se que esses animais tenham sido exterminados da Austrália continental há 3 mil anos por matilhas de cães selvagens nativos. Desde meados dos anos 90, cientistas têm observado que muitos diabos-da-tasmânia desenvolvem um tipo de câncer facial, caracterizado pela aparição de tumores na face do animal, impedindo-os de se alimentar e matando-os de fome. Apesar de raro entre mamíferos, esse câncer é um tipo de doença transmissível entre os animais e estava ameaçando a espécie de extinção. A doença foi chamada de tumor facial do diabo. Assim, há grande preocupação acerca da extinção desses animais e muitos programas de preservação vinham sendo desenvolvidos para lidar com a situação, bem como pesquisas para achar uma cura. Porém, um estudo recente publicado na revista Science sugere que essa doença pode não representar uma ameaça iminente aos animais.
Quando a doença chegou ao seu pico no ano 2000, estimava-se que cada animal doente infectava cerca de 3,5 outros animais. Atualmente, os animais infectados podem passar a vida sem transmitir o câncer. Esses dados levam os cientistas a fazer considerações de que a doença pode desaparecer com o passar do tempo. A transmissão ocorre majoritariamente devido à lutas na temporada de acasalamento e por carcaças de outros animais para sua alimentação. O mecanismo evolutivo para entender como o tumor evoluiu para uma versão contagiosa ainda não é bem entendido. O estudo publicado na Science teve o objetivo de caracterizar a distribuição geográfica do câncer, identificar se existem diferentes linhagens tumorais circulantes e quantificar as taxas de transmissão entre as linhagens através da técnica de filodinâmica. Essa abordagem permite o estudo de patógenos de evolução lenta com grandes genomas por meio da análise de genes que evoluem de forma mensurável.
O estudo publicado na Science, feito com amostras de 51 tumores coletados de 2003 a 2018, identificou 28 genes que evoluíram a uma taxa consistente. Assim, foram rastreadas como mutações específicas se espalharam pelas amostras de tumor ao longo do tempo. Isso possibilitou inferir a taxa na qual o próprio câncer estava se espalhando entre os demônios, permitindo observar que a transmissibilidade da doença havia diminuído. Essa redução na taxa de transmissão está relacionada ao comportamento dos diabos-da-tasmânia, que são animais solitários, e também ao possível surgimento de tumores menos virulentos.
Apesar das boas notícias, os demônios-da-tasmânia ainda não estão seguros. Cientistas encontraram um segundo tipo de tumor facial do diabo. Porém, esses dados recentes a respeito da diminuição da taxa de transmissibilidade do câncer representam esperança para esses pequenos animais, permitindo inferir que os demônios-da-tasmânia não serão extintos em breve.
News: Iasmin Taveira
Fontes e mais informações sobre o tema:
Artigo publicado na Revista Science, intitulado “A transmissible cancer shifts from emergence to endemism in Tasmanian devils”, publicado em 11/12/2020.
https://science.sciencemag.org/content/370/6522/eabb9772
Artigo publicado no site Science, intitulado “Tasmanian devils claw their way back from extinction”, publicado em 10/12/2020.
https://www.sciencemag.org/news/2020/12/tasmanian-devils-claw-their-way-back-extinction
Artigo publicado no site Eureka Brasil intitulado “Um câncer transmissível”, publicado em 09/12/2020.
http://eurekabrasil.com/um-cancer-transmissivel/
(Editoração: André Pessoni)