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Vacina desenvolvida no Brasil promete proteger grávidas e bebês contra efeitos da cocaína

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque no jornalismo da semana)

UFMG desenvolve vacina capaz de prevenir os efeitos da exposição à cocaína desde a gravidez até o desmame em ratos

 

O uso contínuo de cocaína causa o transtorno do uso de cocaína (CUD, sigla em inglês), que é muito prevalente nas mulheres em idade reprodutiva. Mulheres grávidas que sofrem desse distúrbio e usam cocaína durante a gravidez representam um desafio clínico a ser enfrentado tanto por médicos quanto pelas próprias usuárias, uma vez que causa complicações tanto para mãe quanto para o feto. Apesar de o melhor jeito de prevenir a exposição pré-natal à cocaína seja a interrupção do uso da droga, apenas 25% das usuárias conseguem cortar o seu consumo. Assim, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais têm trabalhado no desenvolvimento de uma vacina que mitigue os efeitos colaterais da exposição à cocaína durante o período pré-natal. A pesquisa usando ratos como modelos animais é promissora e foi publicada na revista Molecular Psychiatry em agosto de 2021.

A cocaína atravessa a barreira hematoencefálica (estrutura que atua como filtro, protegendo o Sistema Nervoso Central de substâncias potencialmente neurotóxicas presentes no sangue e sendo essencial para função metabólica normal do cérebro) materna e fetal e a placenta, portanto, o uso da droga por mulheres grávidas causa deficiências no desenvolvimento obstétrico, o que implica em problemas na gestação que podem ser fatais; também é possível observar irregularidades no desenvolvimento fetal, além de problemas comportamentais e psicológicos de longo prazo na criança que passou por exposição à cocaína no pré-natal. Além disso, o aleitamento materno por usuárias de cocaína é proibido em alguns países. Sendo assim, o interesse médico para resolução dos problemas que decorrem do uso dessa droga durante a gravidez é enorme, dada sua relevância para a saúde pública.

vacina cocaína
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolve uma vacina anti-cocaína, que passou por testes em uma fase pré-clínica. Fonte: Mufid Majnun/Unsplash – Reprodução Revista Galileu.

Neste cenário, as vacinas anti-cocaína surgem como uma tecnologia eficiente para diminuir os efeitos da droga. O mecanismo básico dessa estratégia terapêutica consiste em um antígeno (substâncias estranhas capazes de desencadear a produção de anticorpos) à base de cocaína capaz de induzir resposta imune específica à droga, produzindo anticorpos anti-cocaína. Esses anticorpos sequestram a cocaína do sangue, o que reduz sua passagem pelas barreiras biológicas e limita seus efeitos psicoestimulatórios (responsáveis por intensificar o estado de alerta e concentração dos usuários), além de diminuir a compulsão pela droga. As vacinas anti-cocaína já foram testadas em humanos e observou-se que além de bem tolerada, possui um perfil de segurança favorável.

O destaque deste trabalho consiste no fato desta ser a primeira pesquisa de vacina para uso durante os períodos gestacional e de amamentação. Uma vez que mulheres grávidas entram em um estado imunossupressor, ou seja, num estado de inibição da atividade do sistema imunológico, e que este estado é amplificado pela imunossupressão causada pelo uso crônico de cocaína, a resposta imunológica das vacinas em grávidas que sofrem de CUD pode diminuir a eficácia da vacina. Assim, a fim de analisar a eficiência da vacina durante o período gestacional e a possibilidade de transmitir os anticorpos via amamentação, os pesquisadores realizaram dois experimentos em ratos. O primeiro tinha como objetivo avaliar se a vacinação pré-gestacional com a vacina GNE-KLH produz e mantém altos os níveis de anticorpos anti-cocaína durante a gravidez e o período pós-gestacional. Esta análise também avaliou se a vacinação anti-cocaína pode ser prejudicial para as mães e seus filhos. O segundo experimento visou analisar a influência do uso de cocaína nos níveis de anticorpos produzidos pela vacinação no período gestacional.

As ratas vacinadas apresentaram ótima resposta imunológica e a proteção aos efeitos da cocaína foi observada nos filhotes até a amamentação. Fonte: Wikimedia Commons.

No geral, foi observado que a vacinação anti-cocaína com a vacina GNE-KLH produziu e manteve os níveis de anticorpos IgG anti-cocaína e a eficiência durante a gravidez. Além disso, esses anticorpos também protegeram as ratas grávidas e seus filhotes contra os danos pré-natais da cocaína durante a gravidez até o desmame, estando presente no leite materno e nos filhotes.  Assim, este trabalho é a primeira evidência pré-clínica da eficácia de um mecanismo inovador para prevenir os danos da exposição pré-natal à cocaína, um problema de saúde pública em todo o mundo.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB e faz mestrado em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Galileu, intitulada “UFMG desenvolve vacina para proteger grávida e bebê de efeitos da cocaína”, publicado em /08/2021. https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2021/08/ufmg-desenvolve-vacina-para-proteger-gravida-e-bebe-de-efeitos-da-cocaina.html

Artigo científico intitulado “The GNE-KLH anti-cocaine vaccine protects dams and offspring from cocaine-induced effects during the prenatal and lactating periods”, publicado na revista Molecular Psychiatry em 2021, de autoria de Augusto e colaboradores. https://www.nature.com/articles/s41380-021-01210-1

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