#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)
A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP27) aponta a bioeconomia como uma das principais alternativas para trazer riqueza e desenvolvimento à Amazônia, sem prejudicá-la
De 6 até 18 de novembro, chefes de Estado, ministros e negociadores, juntamente com ativistas climáticos, prefeitos, representantes da sociedade civil e CEOs de grandes empresas participam da Conferência do Clima das Nações Unidas que está acontecendo em Sharm el-Sheikh, no Egito. A Conferência é o maior encontro anual sobre ação climática e a pauta da sua 27ª edição (COP27) baseia-se nos resultados da COP26 para fornecer ações para enfrentar a emergência climática.
Estão sendo abordados temas como a redução urgente das emissões de gases de efeito estufa, a construção de resiliência e adaptação aos impactos inevitáveis das mudanças climáticas, além do cumprimento de compromissos para financiamento da ação climática nos países em desenvolvimento.
A frase “A floresta em pé vale mais do que derrubada”, dita pelo seringueiro e ambientalista Chico Mendes, ganhou uma nova concepção nos últimos anos. A bioeconomia, conceito que surgiu a partir da década de 1970 no Hemisfério Norte para discutir formas de substituir os combustíveis fósseis por fontes de energia renovável, é vista pelos pesquisadores de hoje como uma das principais alternativas para trazer riqueza e desenvolvimento à Amazônia sem a necessidade de destruí-la.
Patrícia Pinho, diretora adjunta de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), explicou que é possível expandir consideravelmente a bioeconomia na região Norte do país. Segundo ela, “só o estado do Pará gera cerca de 5 bilhões de reais a partir de projetos baseados na sustentabilidade”.
O instituto em que Patrícia trabalha, publicou um estudo que estabelece os quatro pilares básicos da exploração dos recursos naturais de forma responsável e sustentável: desmatamento zero, diversificação dos meios de produção, fortalecimento de práticas milenares e, por último, o compartilhamento dos benefícios obtidos com a população original de cada lugar. A especialista destacou que pensar nesses quatro quesitos é essencial para que a bioeconomia detenha a exploração predatória de alcançar o chamado ponto de não retorno, em que a destruição da maior floresta tropical do mundo se tornará irreversível.
Angela Mendes, representante do Comitê Chico Mendes e filha do ambientalista, explica que “temos a extração do látex, da castanha e do açaí pelas populações da floresta, que acumulam muito conhecimento da biodiversidade há milhares de anos”. Esses processos são exemplos práticos de como a bioeconomia já opera na Amazônia. Mendes destacou que o país conta hoje com cerca de 80 reservas extrativistas, algumas delas com mais de um milhão de hectares, sendo operadas por uma população que tem cuidado com o território.
Denise Hills, diretora global de sustentabilidade da Natura&Co, deu o exemplo da ucuubeira, uma árvore que até os anos 1990 estava ameaçada de extinção e era vendida a 10 reais para fazer vassouras. Ela explica que “hoje, sabemos que o óleo da ucuuba [o fruto] tem um princípio ativo capaz de regenerar a pele e melhorar a celulite. O material é vendido a cerca de 100 reais e permitiu recuperar a espécie na natureza”.
Mendes destacou ainda a importância das legislações vigentes para manutenção da biodiversidade da floresta. Ainda, destacou a problemática dos recentes projetos de lei que tentam enfraquecer a proteção nesses locais, como o PL 6024 e o PL 3013, ambos em discussão na Câmara dos Deputados. “O mundo precisa entender que a população e os territórios originais são fundamentais para combater a crise climática”, concluiu.
Pesquisadores ainda discutem o papel da industrialização para garantir um valor agregado aos produtos amazônicos mantendo a floresta em pé. Carlos Nobre, fundador do Amazônia 4.0, que também é membro do conselho consultivo do XPrize Rainforest – Alana, contou que vários laboratórios criativos estão em fase de implementação ou estruturação na Amazônia. Como exemplos ele citou que “nós já temos biofábricas para a cadeia produtiva de cupuaçu e cacau, e temos planejamentos para a castanha, os azeites gourmet, o bambu, o açaí…”.
Para alcançar o sucesso de desenvolver a bioeconomia amazônica, Nobre explica que tudo envolve pesquisas científicas, incluindo o sequenciamento genômico de todas essas espécies vegetais. Além disso, ele informou sobre a capacitação técnica da população a partir da criação de escolas de negócios, com 20 cursos capacitadores. O cientista também trabalha num projeto para a criação de um grande instituto de tecnologia na região, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos. “Podemos encarar a bioeconomia da região não apenas com produtos primários, mas em desenvolver tecnologias para que isso melhore a qualidade de vida das pessoas, de modo que elas subam das classes D ou E para a classe B”, concluiu.
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Fontes:
Matéria no site BBC News Brasil, intitulada “A descoberta sobre ‘matéria escura’ que pode mudar o tratamento do câncer”, publicada em 28/10/2022. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63641032
Matéria no site da ONU, intitulada “COP27: Delivering for people and the planet!, acesso em 17/11/2022. https://www.un.org/en/climatechange/cop27