Image default

Ilha vulcânica surgiu no pacifico: quais foram os primeiros seres a colonizá-la?

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Uma ilha surgiu no Pacífico sul em 2015, após erupção vulcânica, e os cientistas estudaram as primeiras formas de vida que passaram a colonizar a ilha

Em 2015, a erupção de um vulcão subaquático formou uma ilha na região sul do Oceano Pacifico, no Reino de Tonga. A ilha persistiu por sete anos antes de ser eliminada por outra grande erupção vulcânica em janeiro de 2022. O fenômeno é raro, foi apenas a terceira vez em 150 anos que uma massa de terra se formou da mesma forma e durou mais de um ano. Essa foi a primeira vez que isso aconteceu no trópicos.

A ilha foi chamada de Hunga Tonga e seu surgimento possibilitou uma oportunidade pouco vista para geólogos, vulcanólogos, biólogos e ecologistas. Isso porque o surgimento da ilha permitiu identificar uma forma de vida inesperada, que habitou a ilha ao longo dos setes anos: bactérias capazes de metabolizar enxofre e gases atmosféricos. O estudo foi publicado em janeiro de 2023 na revista mBi”.

O surgimento de ilhas assim, permite que pesquisadores entendam como os ecossistemas se formam, desde as primeiras formas de vida encontradas, como bactérias, até o aparecimento de animais e plantas. Mesmo que outra forte erupção no início de 2022 tenha destruído essa região insular, os cientistas conseguiram coletar dados impressionantes.

Os pesquisadores coletaram cerca de 32 amostras de solo, que vão de pontos desde o nível do mar até o topo do vulcão a 120 metros de altura. A partir das coletas, os cientistas extraíram e sequenciaram todo DNA encontrado nelas e realizaram análises metagenômicas, as quais estudam a diversidade, a taxonomia e o potencial funcional de uma comunidade microbiana coexistindo em um ambiente.

ilha pacífico
A ilha de Hunga Tonga registrada por imagens de satélites em 2018. Os pontos coloridos se referem aos locais de coleta das amostras. A imagem no canto inferior direito foi registrada em 2010, antes da erupção que formou a ilha e mostra duas ilhas vizinhas. Fonte: Dragone, N.B. e cols.

A descoberta das bactérias nas amostras da ilha foi inesperada, porque ao invés de cianobactérias – organismos fotossintetizantes que são tipicamente dominantes nos primeiros estágios da sucessão primária em outros ambientes terrestres – foram encontrados microrganismos com os mesmo hábitos dos que vivem em fontes termais e hidrotermais de profundidade. Em todas as amostras coletadas próximas ao vulcão foram encontradas bactérias e archaeas, mesmo que em menor diversidade e muito mais diferentes do que as áreas de vegetação, que dominaram rapidamente a ilha.

Geralmente, nas pesquisas feitas em ilhas recém-formadas, os pesquisadores focam em estudar o aparecimento de pássaros e plantas nesses locais. No entanto, a pesquisa liderada pelo ecologista microbiano Nick Dragone preferiu compreender como os microrganismos surgiram em um estágio tão inicial. Diferente do que os pesquisadores esperavam, as bactérias não surgiram na ilha a partir do oceano ou de excrementos de pássaros, mas sim do subsolo. Eles suspeitam que elas vieram de fontes termais associadas a erupções vulcânicas.

“Esses tipos de erupções vulcânicas acontecem em todo o mundo, mas geralmente não produzem ilhas. Tivemos uma oportunidade incrivelmente única. Ninguém jamais havia estudado exaustivamente os microrganismos neste tipo de sistema insular em um estágio tão inicial antes”, disse Nick Dragone.

O estudo das bactérias da ilha possibilitou que os pesquisadores entendessem o que acontece quando as ilhas se formam. No entanto, devido ao desaparecimento da ilha, outros estudos acerca destes microrganismos só poderão ser feitos através de dados já coletados pela equipe de Dragone. O cientista afirma que, embora seja impossível realizar novas coletas, seus resultados sugerem que os primeiros colonizadores microbianos da ilha têm origens e capacidades metabólicas únicas, incluindo a capacidade de gerar energia via enxofre e metabolismo de gases.

 

Colaboração: Jéssica de Moura Soares sobre a autora

Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo Científico de autoria de Dragone, N. B. e colaboradores, intitulado “The Early Microbial Colonizers of a Short-Lived Volcanic Island in the Kingdom of Tonga”, publicado na revista mBio em 11/01/23. https://doi.org/10.1128/mbio.03313-22

Matéria no site Olhar Digital, intitulada “Ilha surge do nada no meio do Oceano com forma de vida nunca vista”, publicada em 30/01/23. https://olhardigital.com.br/2023/01/30/ciencia-e-espaco/ilha-surge-do-nada-no-meio-do-oceano-com-forma-de-vida-nunca-vista/

Postagens populares

Pesquisa mostra que tímpano foi fundamental para répteis sobreviverem e se proliferarem ao longo da história evolutiva

IDC

Vírus no sangue de catadores de materiais recicláveis

IDC

Prêmio Nobel 2024

IDC

Estudos apontam que boas práticas utilizadas na agricultura que podem reduzir emissões de carbono no campo

IDC

Pesquisa mostra as alterações cerebrais que acontecem durante a maternidade

IDC

A pior extinção em massa do mundo teve início com Mega El Niño

IDC