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Como as mudanças climáticas ameaçam a biodiversidade da Terra?

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Estudo mostra como mudanças climáticas irão afetar as redes de interações ecológicas e contribuir para eventos de extinção

Os ecossistemas do planeta mantém uma sintonia entre eles, garantindo a manutenção de uma rede de interações ecológicas. A estrutura e a dinâmica da rede podem modular vários processos que podem reduzir ou aumentar a taxa de extinção de espécies.

Atualmente, o planeta se encontra na sexta era de extinção em massa e o conceito de co-extinção (perda de espécies causada por efeitos diretos ou indiretos decorrentes de outras extinções) vem sendo apontado como um dos principais fatores que contribuem para a perda de biodiversidade global, amplificando fortemente o efeito das extinções primárias (o desaparecimento de uma espécie decorrente de impactos ambientais causados por ações humanas).

Dentre os fatores que podem estar envolvidos com isso, os efeitos das mudanças climáticas ganham destaque. Diante disso, um estudo publicado na revista Science Advances, aponta que entre 2020 e 2100, a média da redução da biodiversidade local no planeta pode chegar a 17,6%. Além disso, eles mostram que as co-extinções irão aumentar o efeito das extinções primárias em 184,2%.

Existem muitas causas que se desenvolvem simultaneamente ao rápido aumento nas taxas de extinção observadas. Essas causas foram estudadas por modelos que relacionam a extinção e fatores como mudanças no uso da terra, colheita excessiva, poluição, mudanças climáticas e invasões biológicas, que são apontados como processos dominantes na causa de eventos de extinção. Para este trabalho, os pesquisadores relacionaram as mudanças climáticas e o uso da terra no período entre 2020–2100 com teias alimentares (interações existentes entre várias cadeias alimentares diferentes de um determinado ecossistema) de vertebrados terrestres.

No final da pesquisa, os cientistas chegaram à  conclusão de que as comunidades perderão até metade das interações ecológicas, reduzindo assim a complexidade das cadeias alimentares, sua conectividade e a resistência da comunidade. Os autores ainda ressaltam que a pesquisa leva em conta apenas animais vertebrados (peixes, anfíbios, répteis, mamíferos e aves, grosso modo). Ou seja, o impacto pode  ser muito maior ao se considerar animais invertebrados, que representam um número ainda maior de seres vivos no planeta quando comparados com os vertebrados.

biodiversidade mudanças climáticas
Cadeias alimentares terrestres e aquáticas podem ser alteradas levando a perda da biodiversidade. Fonte: Wikimedia

Para entender melhor como a co-extinção funciona é preciso lembrar que os ecossistemas funcionam em forma de cadeia. Isso significa que predadores dependem das presas, parasitas dependem de hospedeiros, simbiontes (relação ecológica onde ambos os envolvidos dependem um do outro) dependem de seus parceiros simbiontes. Dessa forma, a extinção de uma única espécie pode alterar toda dinâmica do ecossistema. Assim, o sistema fica instável e, consequentemente, as outras espécies ficam mais susceptíveis às variações ambientais e adversidades – o que leva a co-extinções.

As espécies de grandes vertebrados serão as mais afetadas pelas co-extinções, devido principalmente à sua forma de reprodução. Por um lado, animais maiores, como cavalos, têm uma prole por vez.

Por outro lado, cachorros, que são animais menores, dão vida à uma ninhada de filhotes, o que é uma estratégia favorável em momentos de instabilidade ecológica. Sendo assim, grandes vertebrados seriam os primeiros a serem extintos em um mundo de mudanças climáticas rápidas e em que as populações de grandes animais podem não ter tempo para criar seus filhotes e manter a própria população. 

Outro ponto importante para ser levado em consideração é o habitat dos animais. Grandes vertebrados dependem de habitats específicos, com grandes espaços ininterruptos, os quais podem ser destruídos por mudanças climáticas e mal uso de terras. Além de grandes vertebrados, animais com restrição alimentar, como pandas e coalas, podem ser grandemente prejudicados, uma vez que sua alimentação depende exclusivamente de dois tipos de plantas. Sendo assim, se há extinção dessas plantas, esses animais provavelmente morrem.

Já animais menores, como ratos e guaxinins, se alimentam de diferentes tipos de comida, ou seja, se um alimento não está disponível, ainda haverá outro. Essa versatilidade é mais prevalente em pequenos animais. Porém, espécies endêmicas são exceção à regra e também estão suscetíveis à extinção. 

Por fim, os autores concluem que o modelo que relaciona as mudanças climáticas e o uso da terra com teias alimentares de vertebrados terrestres revela que o preço extremo da mudança global para a diversidade de vertebrados pode ser de importância secundária em comparação com os danos à estrutura da rede ecológica.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes:

Artigo científico intitulado “Coextinctions dominate future vertebrate losses from climate and land use change”, publicado na revista Science Advances em 2022, de autoria de STRONA e  BRADSHAW. https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abn4345

Matéria no site SoCientifíca, intitulada “Quais animais as mudanças climáticas irão extinguir primeiro?”, publicada em 04/02/2023. https://socientifica.com.br/quais-animais-as-mudancas-climaticas-irao-extinguir-primeiro/

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