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Novo tratamento é realizado antes da radioterapia com medicamentos que já são disponíveis e de baixo custo
No último congresso da ESMO, a Sociedade Europeia de Medicina Oncológica (European Society For Medical Oncology), foi apresentado um novo tratamento contra o câncer de colo de útero que os cientistas acreditam ser o maior avanço na área nos últimos 20 anos. E o mais interessante é que se trata de um conjunto de medicamentos baratos e já disponíveis e com indicação de serem usados antes do tratamento com radioterapia. Segundo os resultados apresentados, a nova abordagem reduziu em 35% o risco de mulheres morrerem da doença.
O câncer do colo do útero afeta milhares de mulheres todos os anos no Reino Unido, onde foi conduzida a pesquisa, muitas delas na faixa dos 30 anos. No Brasil, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais incidente entre mulheres. Para o ano de 2023 foram estimados 17.010 casos novos, o que representa um risco considerado de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres. Apesar dos avanços nos tratamentos de radioterapia, o câncer reaparece em até um terço dos casos, o que faz com que novas abordagens sejam bastante necessárias.
Nesse contexto, os cientistas defendem os tratamentos com medicamentos, também chamado de quimioterapia. “Um conjunto crescente de evidências tem mostrado o valor de sessões adicionais de quimioterapia antes de outros tratamentos, como cirurgia e radioterapia, em vários outros tipos de câncer. Pode não somente reduzir as chances de o câncer voltar, como pode ser rapidamente iniciado, com medicamentos já disponíveis em todo o mundo”, disse o Dr. Iain Foulkes, do Cancer Research UK.
Para o estudo, 250 mulheres com câncer do colo do útero receberam o novo tratamento – um intensivo de seis semanas de quimioterapia com carboplatina e paclitaxel, seguido pelo tratamento “habitual” de radioterapia, com cisplatina e braquiterapia semanais, conhecido como quimiorradiação. Outras 250 mulheres – o grupo de controle – receberam apenas a quimiorradiação habitual. Cinco anos depois, 80% das mulheres que receberam o novo tratamento estavam vivas e em 73% o câncer não havia retornado ou espalhado-se. Em comparação, no grupo de tratamento “habitual”, 72% estavam vivas e 64% não tinham visto o câncer regressar ou espalhar-se.
A Doutora Mary McCormack, principal pesquisadora do estudo do UCL Cancer Institute e UCLH, disse: “Nosso estudo mostra que este curto período de quimioterapia adicional administrado imediatamente antes da TRC padrão pode reduzir o risco de retorno do câncer ou de morte em 35%. Este é o maior avanço no tratamento desta doença em mais de 20 anos”.
“Estamos entusiasmados com as melhorias que este estudo pode trazer para o tratamento do câncer do colo do útero e esperamos que sessões curtas de quimioterapia de indução sejam rapidamente adotadas na prática clínica”, concluiu o Dr. Foulkes.
Dado que os dois medicamentos quimioterápicos são baratos, acessíveis e já aprovados para utilização em pacientes, os especialistas acreditam que eles poderão tornar-se o novo padrão de tratamento relativamente rápido. Eles alertam, no entanto, que nem todas as mulheres com câncer do colo do útero devem ter os mesmos resultados positivos obtidos. Em muitas das mulheres que participaram do estudo, o câncer ainda não tinha começado a se espalhar por outras partes do corpo. Não está claro até que ponto a terapia funcionaria bem para mulheres com doença em estágio mais avançado.
Colaboração:
Jéssica de Moura Soares sobre a autora
Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Matéria no site BBC News Brasil, intitulada “Novo medicamento contra câncer de colo de útero é maior avanço em 20 anos, dizem cientistas”, publicada em 23 de outubro de 2023. https://www.bbc.com/portuguese/articles/cmj5p57d7v2o