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Os especialistas em genética se preocupam que o fenômeno promova diluição do DNA das baleias azuis, diminuindo a adaptação da espécie à adversidades
As baleias azuis são classificadas como Ameaçadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Embora já não sejam mais caçadas, as baleias azuis ainda sofrem ameaça diante da atividade humana nos oceanos.
Diante da problemática da extinção dessa espécie, muitos estudos foram desenvolvidos para entender a sua estrutura populacional e padrões de migração. No entanto, permanece uma grande lacuna no entendimento das migrações das baleias azuis e de sua ecologia populacional, particularmente na América do Norte. Sendo assim, em um estudo publicado em janeiro na revista Conservation Genetics, cientistas examinaram os genomas de baleias azuis do Atlântico Norte para identificar indícios de consanguinidade, que poderiam atrapalhar a recuperação da espécie.
Descobriu-se que há um fluxo gênico unidirecional, ou seja, uma transferência de DNA por meio do cruzamento unicamente das baleias-comuns para as baleias azuis, onde o DNA de baleias comuns compõe 3,5% do genoma da baleia azul da América do Norte.
Uma questão de conservação pendente é se as baleias azuis nas porções oriental e ocidental do oceano Atlântico Norte compreendem uma única população. Sendo assim, estudos anteriores sugerem um baixo grau de mistura entre as baleias azuis orientais e ocidentais. No entanto, os cantos das baleias azuis registadas no Atlântico Nordeste e no Atlântico Noroeste são semelhantes, mas distintos dos cantos das baleias azuis em outros oceanos, sugerindo que a estrutura populacional, se existir, é provavelmente menor e evoluiu recentemente.
Além de ser notável a preocupação reprodutiva das populações de baleias azuis entre indivíduos da mesma espécie, havia também a preocupação da hibridização dessas baleias com as comuns. Sendo assim, os autores já apontavam como preocupante a direção do fluxo gênico ser das baleias comuns para as baleias azuis.
Para elucidar as questões de genética populacional das baleias azuis, os pesquisadores montaram um genoma para a população do Atlântico Norte, construindo-o a partir de fragmentos de DNA de vários indivíduos. Esse genoma serviu como base para analisar os genomas completos ou parciais de 31 baleias da região. Mark Engstrom, coautor do estudo e geneticista ecológico da Universidade de Toronto, comparou esse processo com a montagem de um grande quebra-cabeça sem ter uma imagem de referência.
Com os resultados, foi possível observar que a extensão da mistura genética encontrada foi surpreendente e muito além do que havia sido reportado anteriormente. Estudos anteriores com baleias-comuns não mostraram herança de DNA de baleias azuis, sugerindo que talvez somente as baleias azuis se acasalem com híbridos ou sejam capazes de fazê-lo.
Os genomas também mostraram menos consanguinidade do que o esperado entre as baleias azuis do Atlântico Norte. Foi descoberto um fluxo genético significativo entre as baleias do Atlântico Ocidental e Oriental, provavelmente devido às baleias ocidentais que seguem a corrente do Atlântico Norte em direção ao leste para se alimentar. Esse intercâmbio genético é uma notícia positiva, sugerindo que a população é geneticamente mais diversa e, portanto, mais resiliente. Uma vez que a consanguinidade afeta diretamente a capacidade dos seres vivos de adaptação à adversidades. Por fim, as análises de sequenciamento e estrutura populacional deste estudo fornecem uma base genômica para informar estratégias de conservação contínuas para esta espécie icônica.
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências:
Matéria no site SoCientifica, intitulada “Baleias azuis estão acasalando com outras espécies e com seus descendentes híbridos, revela DNA”, publicada em 06/02/2024. https://socientifica.com.br/baleias-azuis-estao-acasalando-com-outras-especies-e-com-seus-descendentes-hibridos-revela-dna/