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DESTAQUES: • A planta Cannabis sativa possui propriedades farmacológicas e industriais; • A indústria têxtil vem exigindo alternativas de materiais sustentáveis, sendo a utilização dessa planta uma delas; • Propriedades da Cannabis sativa dependem da compreensão de seus componentes CBD, THC e cânhamo industrial. |
Um dos principais metabólitos das plantas são os óleos essenciais. Por definição, os óleos essenciais são misturas complexas de compostos voláteis, lipofílicos e produzidos por organismos vivos e isolados apenas por meios físicos: prensagem e destilação de uma planta inteira ou partes dela (folhas, frutas, flores ou caule).
Os óleos essenciais da Cannabis são secretados pelos tricomas glandulares presentes na epiderme foliar e nas inflorescências do vegetal. Esses óleos possuem propriedades analgésicas e anti cancerígenas frequentemente relatadas.
De interesse farmacológico, industrial e cosmético, os óleos essenciais extraídos de plantas constituem-se em recursos facilmente disponíveis, haja visto as diferentes possibilidades de cultivos e resultados promissores a partir de seu manejo correto, uma vez que não são recursos infinitos e seu uso demasiado pode levar ao seu esgotamento.
Antes mesmo do processo de exploração das propriedades vegetais, é imprescindível pensar conjuntamente em ações que assegurem a preservação e conservação das variadas espécies de plantas, levando em conta as peculiaridades climáticas e aspectos geográficos para o cultivo e manejo das espécies de interesse.
No que se refere aos compostos da Cannabis sativa, o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol) são dois dos canabinóides mais conhecidos encontrados no vegetal, podendo ser facilmente obtidos a partir de processamentos por hidrodestilação e vapor. Estes compostos possuem propriedades distintas e possíveis efeitos na saúde.
O TCH, principal composto psicoativo da Cannabis, tem como efeitos terapêuticos:
- alívio da dor;
- relaxamento muscular;
- redução da náusea.
O THC é controlado em muitos países devido aos seus efeitos psicoativos, como: euforia, disforia, sedação, alteração da percepção do tempo, diminuição do tempo de reação, alteração nas funções sensoriais e possíveis prejuízos de controle motor, aprendizado e na memória de curto prazo.Já o CBD não está envolvido com os efeitos procurados por quem usa a Cannabis por lazer. Entretanto, ele tem como benefícios terapêuticos:
- melhora das respostas anti-inflamatórias;
- efeito analgésico;
- combate a ansiedade;
- tem propriedades neuroprotetoras.
Com relação à utilização legal do composto, o CBD derivado do cânhamo com menos de 0,3% de THC é legalizado em diversos países e encontra-se disponível sob diferentes formas, como óleos, cápsulas e produtos de uso tópico.
Efeitos sinérgicos entre o THC e o CBD são frequentemente relatados e podem ser encontrados associados em diferentes produtos, aprimorando os efeitos terapêuticos de ambos compostos. E, por possuírem propriedades distintas, esses canabinoides se tornaram foco de inúmeras pesquisas no campo da medicina e da farmacologia.
Além da utilização medicamentosa, os óleos essenciais, extraídos de plantas, como no caso de Cannabis sativa, contém substâncias, os terpenóides, com importantes efeitos inseticidas e repelentes sobre os insetos e suas demais formas de vida, como os ovos e as larvas. Nesse sentido, o uso de inseticidas baseado em extratos vegetais parece ser uma alternativa promissora, mais viável economicamente e sustentável para o combate de insetos, em relação aos inseticidas tradicionais. O ônus econômico enfrentado por regiões na qual doenças são transmitidas por insetos, como dengue, zika, malária e febre amarela,é uma realidade preocupante, o que também justificaria a busca de novas alternativas de inseticidas.
Cada vez mais as pesquisas exploram o modo como as plantas utilizam mecanismos de defesa a partir de sua composição para combater artrópodes (insetos e aracnídeos, por exemplo). Isso porque as doenças transmitidas por esses vetores representam mais de 17% de todas as doenças infecciosas, principalmente em países com maiores problemas ambientais, demográficos e sociais, causando mais de 700 mil mortes por ano. Nesse sentido, é de grande interesse o desenvolvimento de novas alternativas que minimizem a incidência dessas doenças através do controle de seus vetores.
Outra finalidade da Cannabis sativa que vem ganhando força é a sua utilização industrial. Esse produto, chamado de cânhamo industrial, possui uma concentração menor que 0,3% do composto TCH e vem se mostrando como uma alternativa natural na indústria têxtil.
Embora seu cultivo ainda seja limitado em alguns países, nos locais onde é permitido, como o caso da União Europeia, a produção agrícola de baixo impacto de Cannabis sativa vem ganhando visibilidade e utilidade, já que a indústria têxtil é uma das indústrias mais poluentes, devido à elevada utilização de energia, a utilizando em grande quantidade de produtos químicos e também de água. Estima-se que cerca de 20% da poluição das águas residuais industriais seja causada pelos processos de acabamentos têxtil e tingimento das peças.
Assim, a utilização das fibras de cânhamo se destaca por sua sustentabilidade e biodegradabilidade, necessitando de quantidades mínimas de água e herbicidas para seu cultivo, mas também por sua resistência e durabilidade quando comparada com outras fibras naturais. Além disso, essas fibras possuem propriedades de absorção de umidade, tornando-os confortáveis para utilizar em diferentes climas.
Nesse panorama geral e multidiverso, a utilização da Cannabis sativa em diferentes áreas vem se mostrando promissora e extremamente viável.
Colaboração:
Priscilla Elias Ferreira da Silva sobre a autora
Priscilla é licenciada em Ciências Biológicas, mestra em Ciências (Clínica das Doenças Infecciosas e Parasitárias) e doutora em Ciências (Parasitologia e Imunologia Aplicadas) pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Infectologia da UFTM. Faz pesquisas na área da Leishmaniose Visceral (LV) com ênfase em estudos envolvendo flebotomíneos.
Referências
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Artigo científico intitulado “Industrial hemp fiber: A sustainable and economical alternative to cotton.”, publicado na revista Journal of cleaner production em 2020, de autoria de Schumacher, A.; Pequito, S. e Pazou, J.
Artigo científico intitulado “Advances and Perspectives in Tissue Culture and Genetic Engineering of Cannabis.”, publicado na revista International Journal of Molecular Sciences em 2021, de autoria de Hesami, M.; Baiton, A.; Alizadeh, M. e colaboradores.
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(Editoração: Fernando F. Mecca e Nathália A. Khaled)