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Corpo humano é capaz de criar campo de oxidação natural

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

A existência desse campo tem implicações para a qualidade do ar e saúde humana

Os radicais hidroxila (OH) são radicais livres (moléculas quimicamente instáveis com alto poder de reagir com outras substâncias) responsáveis ​​pela oxidação da maioria dos gases poluentes. No ambiente, esses radicais são produzidos por uma reação entre a luz solar e o ozônio (O3). Sabendo que seres humanos emitem componentes químicos — ao respirar ou transpirar, por exemplo, uma pesquisa publicada na Science em setembro de 2022 e liderada por Nora Zannoni, química do Instituto de Ciências Atmosféricas e do Clima de Bolonha (Itália), foi capaz de observar que as substâncias produzidas pelo nosso corpo alteram outras.

Nessa pesquisa foi observado que o esqualeno, um óleo naturalmente produzido pelo corpo humano com função de hidratar e manter a barreira de proteção da pele, quando em contato com o gás ozônio, reage e produz radicais hidroxila. Esses radicais são capazes de “limpar o ambiente” e mudar as substâncias químicas ao redor.

A ideia do estudo partiu de um único ponto em comum entre outras pesquisas que visam fazer análises de quais componentes são emitidos por móveis, pinturas ou cortinas em espaços fechados: o ser humano. Sendo assim, buscaram compreender como o ser humano afeta a atmosfera ao seu redor. Para isso, os pesquisadores usaram uma sala feita inteiramente de aço inoxidável — uma “câmara de controle climático” onde não havia nada além das duas mulheres e dos dois homens, que participaram do experimento.

Para as análises, os pesquisadores variaram a temperatura e umidade na sala, trocaram as roupas dos participantes para expor mais ou menos pele e mediram os níveis de ozônio que entravam na câmara de metal.

corpo humano oxidação
O experimento foi feito em uma câmara de aço inoxidável e foi controlado desde a roupa até a pasta de dente usada pelos participantes. Fonte: Mikal Schlosser, Universidade Técnica da Dinamarca/Reprodução BBC News

Como resultado, os pesquisadores observaram que quanto mais pele exposta, maior a oxidação promovida pelos radicais OH. Para medir o campo de radicais OH, foi criado um método que permite mensurar a reatividade total de OH, baseado em um modelo cinético-químico (capaz de estudar a velocidade das reações químicas) na Universidade da Califórnia. Ao medir a reatividade total de OH, os pesquisadores puderam determinar a concentração de radicais no ambiente.

Os produtos de oxidação encontrados na sala com os participantes foram consistentes com os ensaios químicos que funcionaram como controle do experimento realizado. De modo geral, foi observado que altas concentrações de radicais OH foram encontradas quando as pessoas foram expostas ao ozônio. Além disso, um  modelo de dinâmica de fluidos feito pela Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA) foi usado para mostrar a extensão espacial do campo de oxidação de OH e sua dependência da quantidade de ozônio com base na ventilação do gás para o interior da sala.

Os pesquisadores observaram a formação de um gradiente espacial formado por radicais OH. O modelo gráfico, mostra um campo de oxidação de diferentes tonalidades que sai do nosso corpo para o exterior. “Os gradientes (os diferentes valores e, portanto, as diferentes cores) que vemos coincidem com a evidência empírica que medimos. Por isso tivemos a confiança de mostrar que em torno do ser humano aparecia isso”, enfatizou Willians.

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Modelagem por computador da reatividade de OH (esquerda) e concentração de OH (direita) ao redor de corpos humanos em uma situação típica interna enquanto pessoas sentadas ao redor de uma mesa. Quanto mais vermelho o gradiente de cores, maior a reatividade de radicais OH e sua concentração. Fonte: Max Planck Gesellschaft

Os autores da pesquisa deixam claro que sua pesquisa teve um foco químico e que é uma análise inicial. Zannoni explica que “Em ambientes reais temos muito mais fontes, mas já temos uma linha de base que poderia ajudar, por exemplo, a mitigar a acumulação e a concentração de tóxicos em ambientes fechados e melhorar a qualidade do ar”. No entanto, a pesquisa fomenta perspectivas de aplicação na saúde e melhoria da qualidade do ar.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes:

Artigo científico intitulado “The human oxidation field”, publicado na revista Science em 2022, de autoria de Zannoni e colaboradores. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abn0340

Matéria no site BBC News, intitulada “O curioso campo de oxidação que rodeia nossos corpos e ajuda a ‘limpar o ambiente’” publicada em 21/09/2022. https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-62976278

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