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Fato ou Fake? E o que mais? - Ilha do Conhecimento
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Fato ou Fake? E o que mais?

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

Conheça alguns dos muitos termos relacionados às informações falsas.

DESTAQUES:
• Informações errôneas sempre existiram, mas agora têm uma facilidade maior de propagação;
• Há vários tipos de informações falsas, e cada uma tem nome próprio;
• A Revolta da Vacina é um bom exemplo histórico do grave impacto de informações falsas.

Quando recebemos uma “notícia” que fornece uma informação interessante ou aparentemente útil ficamos tentados a repassar para pessoas que temos relações mais próximas. Algumas vezes, essa “notícia” pode até nos soar como duvidosa, mas, por não possuirmos conhecimento aprofundado sobre o assunto, podemos acabar a encaminhando para outras pessoas e, dessa forma, sem percebermos, estamos repassando uma Fake News.

Com as tecnologias de comunicação avançadas, as Fake News têm sido disseminadas com muita facilidade, principalmente nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens. Algumas vezes, passamos uma determinada mensagem por conta dos nossos sentimentos e emoções, pois essa mensagem nos atinge de alguma forma e nos leva a tomar atitudes sem reflexão.

Essa ação tem relação com o que os estudiosos denominam de pós-verdade, que, resumidamente, é uma circunstância na qual os fatos objetivos influenciam menos na formação da opinião pública do que apelos à emoção ou à crença pessoal. Surge, então uma nova forma das pessoas se relacionarem com as informações. Mas por que estamos vivendo nesse contexto? É uma pergunta que ainda demanda muito estudo, mas que tem a ver com um momento de crise na credibilidade em diferentes instituições, como a ciência e a mídia, por exemplo. 

A ideia de questionar as instituições por si só não é algo negativo. No caso da ciência, é importante esse questionamento, pois é por meio da constante interrogação que o próprio conhecimento científico é construído. A ciência não é um conjunto de verdades a serem aceitas, mas de conhecimentos a serem aperfeiçoados constantemente. Entretanto, para que um conhecimento seja questionado, ele passa por um processo de estudo rigoroso, fundamentado em bases científicas e com uso de métodos adequados. 

No caso da pós-verdade, as informações simplesmente são colocadas em xeque sem um aporte científico e, o mais grave, com a intenção de descredibilizar as instituições e a ciência. Há, algumas vezes, uma mistura de saberes da ciência com saberes populares, que têm por traz uma finalidade política e tudo vira “notícia”.  

O leitor nesse ponto do texto deve estar se perguntando o motivo pelo qual a palavra notícia está sendo escrita entre aspas. A ideia é destacar que pode haver um equívoco em considerar que uma notícia pode ser falsa. Quando fazemos uma tradução, a partir da língua inglesa, de Fake News, entendemos “Fake” como falso e “News” como notícia. Contudo, há que se questionar, do ponto de vista do jornalismo, se uma notícia pode ser falsa.

Autores como Bruno Leal nos apresenta que: “[…] notícia só pode ser notícia quando trouxer conteúdos verdadeiros”. O fato de algumas notícias apresentarem enunciados duvidosos ou de má qualidade não segue o mesmo processo de uma informação falsa, pois essas últimas simulam uma linguagem jornalística para se passar por sérias e verídicas, mas não tem relação com as características do jornalismo.   

Seguindo nessa discussão, argumenta-se que deveríamos utilizar o termo “informação falsa” e não “notícia falsa”. O problema, nos parece, está na tradução do termo Fake News. Então vejamos mais alguns problemas…

Se buscarmos outras definições, podemos encontrar a expressão (também da língua inglesa) False News, que tem como tradução notícia falsa. Ora, Fake News e False News são a mesma coisa? A resposta é não! 

false fake

Associados à distribuição de informações incorretas, podemos ainda encontrar outros termos: misinformation, disinformation, mal-information. 

fato fake news informações falsas

A respeito de posturas que nos levam a informações falsas, ainda podemos apresentar o negacionismo e o revisionismo: 

 

Informações falsas sempre existiram!

O exemplo da revolta da vacina!

Para contextualizar a questão de informações falsas e com intencionalidade, do tipo disinformation, vamos apresentar um fato histórico e importante no Brasil, o qual tem algumas semelhanças com a negação à vacinação e as informações falsas que ocorreram em relação à vacina contra a COVID-19.

No ano de 1904 ocorreu, na cidade do Rio de Janeiro, a “Revolta da Vacina”, que foi um motim popular organizado contra a vacinação em massa para a varíola. A revolta da vacina deixou cerca de 3,5 mil mortos no Rio de Janeiro e algumas pessoas presas. 

A história resumida desse episódio iniciou no ano de 1903, quando o médico sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) havia se tornado diretor-geral de Saúde Pública da cidade do Rio de Janeiro, com a missão de combater duas epidemias que assolavam o povo carioca: a febre amarela e a peste bubônica. Oswaldo Cruz determinou algumas medidas drásticas para combater a febre amarela, transmitida pelo mosquito e para a peste bubônica, transmitida por ratos. Os agentes de saúde entravam nas casas e percorriam os bairros com fumacê para combater os mosquitos.

fato fake news informações falsas
Charge da revolta da vacina, satirizando Oswaldo Cruz (Praga do Povo). Adaptado de: Tab UOL.

Para a peste bubônica, eles entravam nas casas para caçar ratos. Essas “invasões” foram deixando o povo incomodado. Nesse contexto já conturbado, surge a vacina da varíola, e um deputado e um senador que faziam oposição ao governo começaram uma campanha contrária à vacinação. Enquanto Oswaldo Cruz explicava o que era a vacina, os políticos discursavam dizendo que a vacina servia para introduzir uma doença dentro do corpo das pessoas, que se tratava de um projeto de assassinato em massa da população.

Jornais de oposição ao governo passaram a divulgar charges e crônicas que induziam a ideia de que os agentes de saúde abusavam das moças na hora de vaciná-las. Ainda se espalhou a história de Leocádia Cypriana, conhecida como Preta Cypriana, apontando que a morte dela teria ocorrido por causa da vacina. Na época, um médico legista colocou como causa da morte uma septicemia consecutiva à vacina.

Quando o jornal A Notícia publicou o projeto de lei que tornaria a vacinação obrigatória se iniciou a Revolta da Vacina, no dia 10 de novembro de 1904. A revolta durou 5 dias, na qual os manifestantes viram bondes e os queimaram, derrubaram árvores e outros tipos de vandalismo na cidade do Rio de Janeiro.

Charge satirizando a obrigatoriedade da vacinação (Higiene à muque). Fonte: Multirio.

Resultado da revolta: A lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação foi revogada em 16 de novembro de 1904 e foi decretado estado de sítio no Rio de Janeiro. Podemos apontar que a revolta aconteceu por meio de informações falsas que chegavam a uma população com pouca ou nenhuma escolarização (muitos analfabetos ou semianalfabetos) e que, apesar da boa intenção de Oswaldo Cruz em falar sobre a vacina, essa informação era acadêmica e não era compreendida por grande parte da população.

Consequências: No ano de 1908 ocorreu uma nova e forte epidemia de varíola no Rio de Janeiro e foi nessa nova onda de contaminação que a população começou a se vacinar de forma voluntária. Somente em 1971 a varíola foi considerada erradicada no Brasil. Essa larga diferença de tempo deixa claro o impacto negativo que informações falsas podem ter sobre o desenvolvimento da sociedade.

 

Colaboração:

fato ou fakeMarcia Borin da Cunha sobre a autora

Marcia tem formação em Química, com estudos de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) na área de Educação. Desde o ano de 2006 pesquisa sobre a divulgação da ciência e, a partir de 2019, tem como um dos seus estudos as questões que envolvem as informações falsas sobre ciência.

 

Referências:

Capítulo de livro intitulado “Fake News: do passado ao presente”, de autoria de Leal, B. como parte do livro “Novos combates pela história: desafios – ensino”, de autoria de Pinsky, J., Pinsky, C. e Fico, C., publicado pela editora Contexto em 2021.

Matéria no site Multirio intitulada “A revolta da Vacina.”, publicada em 19/10/2016. https://www.multirio.rj.gov.br/index.php/artigos/11429-a-revolta-da-vacina

Matéria no site TAB Uol intitulada O que foi a Revolta da Vacina, e quais suas semelhanças com o mundo de 2020”, publicada em 22/08/2020. https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/08/22/o-que-foi-a-revolta-da-vacina-e-quais-suas-semelhancas-com-o-mundo-de-2020.htm

(Editoração: Fernando F. Mecca, Loren Pereira e Nathália Khaled)

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