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O fungo força aracnídeos reclusos a irem em áreas expostas melhorando a dispersão de seus esporos
Um fungo recentemente descoberto e nomeado em homenagem ao naturalista britânico Sir David Attenborough transforma aranhas das cavernas em zumbis. A mudança comportamental se assemelha à observada em formigas infectadas por fungos, como os Cordyceps, que se tornaram famosos após serem apresentados no jogo e na série de ficção The Last of Us.
O fungo Gibellula attenboroughii induz as aranhas a abandonarem seus nichos ocultos, como cavernas, e migrarem para suas entradas, onde morrem. Esse local, com maior fluxo de ar, favorece a dispersão dos esporos.A espécie de fungo (Gibellula attenboroughii) faz aranhas se moverem de seus nichos ocultos característicos – cavernas – para morrerem nas entradas de cavernas, que possuem maior fluxo de ar, auxiliando na dispersão de seus esporos. O estudo que elucida esse mecanismo foi publicado em 24 de janeiro na revista Fungal Systematics and Evolution.
O fungo foi observado pela primeira vez em uma aranha tecelã de orbes (Metellina merianae) no teto de um depósito de pólvora abandonado na Irlanda do Norte por uma equipe que filmava uma série de documentários da BBC em 2021. Pesquisadores do Reino Unido se uniram ao micologista João Araújo, do Natural History Museum of Denmark, que os auxiliou no trabalho com os fungos.
Os cientistas acreditam que depois que um esporo gruda em uma aranha, seu micélio (parte vegetativa de um fungo ou colônia bacteriana, que consiste de uma massa de ramificação) afunda no corpo e se multiplica, consumindo os órgãos internos de seu hospedeiro. “Se cortarmos a aranha infectada, não veremos mais nenhuma aranha. É apenas a massa fúngica dentro, que tem a forma da aranha”, comenta Araújo. Assim, os corpos frutíferos emergem para espalhar os esporos para novos hospedeiros.

Para investigar se o fungo que aparece no documentário da BBC era uma nova espécie, Araújo e seus colegas consideraram sua ecologia, forma e genética. Esta foi a primeira espécie do gênero Gibellula encontrada em aranhas das cavernas, mostrando que ela ocupa um nicho único, diz Araújo. Além disso, as características físicas das estruturas do fungo, como os corpos frutíferos e as células produtoras de esporos, bem como as distinções em seu DNA sugeriram uma nova espécie.
As aranhas desempenham um papel fundamental no funcionamento do ecossistema e, portanto, seus parasitas devem merecer atenção especial. Sendo, esse caso, um exemplo fascinante de uma relação parasita-hospedeiro, tais fungos podem ajudar no controle de pragas nas lavouras e levar a inovações médicas. A ciclosporina, por exemplo, é uma droga com origem em um fungo zumbificante que ajuda a prevenir a rejeição de órgãos transplantados. “Talvez hoje não haja uma aplicação imediata. Mas talvez um dia, depois que todas essas peças estiverem juntas, possamos descobrir algo maior” afirma Araújo.
Colaboração:
Vitor Batista sobre o autor
Vitor Batista é graduando em ciências biológicas na FFCLRP/USP e acredita que a ciência precisa ser difundida para o público com linguagem acessível, sendo alcançada por meio de projetos como a Ilha do Conhecimento.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Matéria da Science News, intitulada “A fungus named after Sir David Attenborough zombifies cave spiders“, publicada em fevereiro de 2025.