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Proteja seu gato de FIV e FeLV

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

Estas são doenças são muito graves e comuns; conheça-as melhor!

DESTAQUES:
• FeLV (Vírus da Leucemia Felina) e FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina) são retrovírus perigosos para os gatos, que podem até ser letais;
• Ambos podem permanecer assintomáticos por longos períodos. Para detecção precoce, são necessários testes laboratoriais;
• A prevenção é essencial: isolar gatos infectados e manter uma boa higiene. A vacinação é recomendada para gatos sadios! Mas por enquanto só há vacina para FeLV;
• Para evitar FIV é importante manter os gatos dentro de casa ou em recintos seguros!

O Vírus da Leucemia Felina (FeLV) e o Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) são retrovírus com impacto mundial na saúde dos gatos domésticos. o FeLV pode causar tumores (principalmente linfoma) e anemia, levando o felino a doenças infecciosas secundárias causadas pelos efeitos supressores do vírus na medula óssea e no sistema imunológico. Já o FIV pode causar uma síndrome da imunodeficiência adquirida, além de aumentar o risco de infecções oportunistas, doenças neurológicas e tumores.

O FeLV é responsável pela vasta maioria das síndromes clínicas em gatos. Um estudo realizado por Pedersen (2014) revelou que a taxa de mortalidade de gatos infectados por FeLV em domicílios contendo outros gatos é estimada em aproximadamente 50% em dois anos e 80% em três anos. Embora a infecção seja considerada uma infecção progressiva, muitos tutores optam por fornecer tratamento e cuidados adequados para os gatos infectados e diagnosticados corretamente. 

Com relação aos estágios da infecção, tanto FIV quanto FeLV se apresentam sob uma longa fase assintomática, ou seja, em que os gatos não apresentam sinais clínicos. Mais tarde, a maioria dos gatos infectados por FeLV apresentam inicialmente anemia ou imunossupressão. Os sinais clínicos associados à FeLV podem ser classificados como tumores, distúrbios hematológicos, doenças imunomediadas, imunossupressão, neuropatia e distúrbios reprodutivos.

Os sinais clínicos em gatos naturalmente infectados por FIV geralmente refletem doenças secundárias como infecções e neoplasias. Sinais neurológicos são comumente relatados, resultantes de função anormal ou inflamação dos órgãos afetados. Em alguns casos observam-se sinais clínicos transitórios como febre, letargia, enterite, estomatite, dermatite, conjuntivite e aumento dos linfonodos. A fase aguda da doença pode durar algumas semanas e após esse período, os gatos parecerão clinicamente saudáveis.

Essas doenças virais podem ser diagnosticadas por meio de testes de triagem como por exemplo, os imunocromatográficos ou ELISA que irão detectar a proteína p27 (Figura 1) do capsídeo do FeLV e anticorpos específicos para FIV.

gato fiv felv
Figura 1. Estrutura e genoma do FeLV (a) e FIV (b), evidenciando as proteínas do capsídeo. Imagem: Quizlet (adaptado).

De modo geral, inúmeros retrovírus são instáveis fora dos animais hospedeiros e são inativados em muito pouco tempo em superfícies secas, com persistência ambiental relativamente baixa. Desinfetantes e detergentes hospitalares bem como boas práticas de higiene são aliadas na inativação rápida do FeLV e do FIV.

Nos casos de internações é importante garantir que os gatos hospitalizados não tenham contato direto uns com os outros. Embora a transmissão no ambiente seja baixa, vale ressaltar que ambos os vírus são transmitidos de forma eficiente através dos fluidos corporais contaminados, especialmente sangue. Por isso, há grande chance de transmissão durante relações sexuais entre os gatos.

Gatos infectados com retrovírus devem ser isolados em ambientes seguros, sob responsabilidade do tutor, para prevenir a infecção de outros gatos e para protegê-los contra outras doenças infecciosas. Por outro lado, gatos não infectados que residem em domicílios com gatos infectados pelo FeLV devem ser vacinados. Muitos médicos veterinários recomendam fortemente a vacina, uma vez que a imunidade protetora ao FeLV ocorre entre duas e três semanas após a primeira vacinação.

Dentre as recomendações ressalta-se a proteção dos gatos ao FeLV até pelo menos três semanas após o reforço. Tutores devem ser informados sobre a limitação da eficácia da vacina. É importante ressaltar que atualmente temos vacina somente para FeLV, não para FIV.

Manter os gatos de estimação dentro de casa, incluindo o fornecimento de recintos externos seguros, é a base da prevenção do FIV. Os gatos que vivem dentro de casa têm menos probabilidade de serem expostos ao FIV através de mordidas de gatos infectados, especialmente em áreas onde a prevalência da doença é alta. Com relação às boas práticas para prevenir FIV e FeLV, salienta-se:

1) a testagem de gatos para FIV, especialmente se eles estiveram em contato com gatos potencialmente infectados ou se apresentarem sinais de doença (Figura 2). Os testes podem ajudar na detecção precoce e no tratamento da infecção pelo FIV. 

2) Manter uma boa higiene,  fornecer uma dieta equilibrada, e tratar prontamente quaisquer condições concomitantes para melhorar a saúde geral e a imunidade dos gatos infectados.

gato fiv felv
Figura 2. Procedimentos sugeridos por Westman et al. (2022) para realização do teste rápido de detecção do FIV. A-D) coletar amostra biológica do gato, conforme instruções de uso; E) Segurando a pipeta plástica descartável na posição vertical, dispensar 1 gota (10µL) da amostra obtida no poço da amostra; F) Quando a amostra for completamente absorvida no poço da amostra, adicionar 2 gotas (80µL) do tampão no dispositivo teste; G) Cronometrar o tempo e em seguida ler o resultado no tempo do teste. (Instruções do teste rápido ECO diagnóstico veterinário). Imagem: Westman et al., 2022 (Adaptado).

 

Esse texto foi feito como parte das atividades do Grupo de Estudos de Animais de Pequeno Porte (GEAPP). Saiba mais em https://www.instagram.com/geapp__/ (@geapp_).

Figura 3. Folder sobre retroviroses felinas desenvolvido pelo GEAPP. Fonte: Santana, B. B.; Tayar, K.S. (2024).

 

Colaboração:

Bruno Borges Santana sobre o autor

Graduando em Medicina Veterinária pela Universidade de Uberaba. Atualmente, atua como aluno de Iniciação Científica no curso de Medicina Veterinária da UNIUBE. Além disso, évice-presidente do Grupo de Estudos de Animais de Pequeno Porte (GEAPP) da Universidade de Uberaba.

 

Joely Ferreira Figueiredo Bittar sobre a autora 

Graduação em Medicina Veterinária, Mestra em Medicina Veterinária, possui doutorado em Ciência Animal e pós-doutorado pelo Centro de Pesquisas René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ Minas Atua na área de Medicina Veterinária Preventiva, com ênfase em Doenças Parasitárias de Animais e Diagnóstico Laboratorial.

Kamilla Souza Tayar sobre a autora 

Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade de Uberaba. Atualmente, atua como aluna de Iniciação Científica no projeto no curso de Medicina Veterinária da Uniube. Além disso é presidente do grupo de estudos de animais de pequeno porte (GEAPP) da Universidade de Uberaba.

 

Priscilla Elias Ferreira da Silva sobre a autora

Licenciada em Ciências Biológicas, Mestra em Ciências (Clínica das Doenças Infecciosas e Parasitárias). Doutora em Ciências (Parasitologia e Imunologia Aplicadas) pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Infectologia da UFTM. Faz pesquisas na área da Leishmaniose Visceral (LV) com ênfase em estudos envolvendo flebotomíneos.

 

Referências

Site Quizlet. https://quizlet.com/gb/753710818/feline-retrovirus-flash-cards/

Pedersen NC. An update on feline infectious peritonitis: virology and immunopathogenesis. Vet J. 2014 Aug;201(2):123-32. doi: 10.1016/j.tvjl.2014.04.017. Epub 2014 May 2. PMID: 24837550; PMCID: PMC7110662. 

Little S, Levy J, Hartmann K, et al. 2020 AAFP Feline Retrovirus Testing and Management Guidelines. Journal of Feline Medicine and Surgery. 2020;22(1):5-30. doi:10.1177/1098612X19895940

Hartmann K. Clinical aspects of feline retroviruses: a review. Viruses. 2012 Oct 31;4(11):2684-710. doi: 10.3390/v4112684. PMID: 23202500; PMCID: PMC3509668.

Shi-Jia Le, Gen-Yang Xin, Wei-Chen Wu, Mang Shi, Genetic Diversity and Evolution of Viruses Infecting Felis catus: A Global Perspective, Viruses, 10.3390/v15061338, 15, 6, (1338), (2023).

Obert LA, Hoover EA. Relationship of lymphoid lesions to disease course in mucosal feline immunodeficiency virus type C infection. Vet Pathol. 2000 Sep;37(5):386-401. doi: 10.1354/vp.37-5-386. PMID: 11055861.

Westman ME, Coggins SJ, van Dorsselaer M, Norris JM, Squires RA, Thompson M, Malik R. Feline immunodeficiency virus (FIV) infection in domestic pet cats in Australia and New Zealand: Guidelines for diagnosis, prevention and management. Aust Vet J. 2022 Aug;100(8):345-359. doi: 10.1111/avj.13166. Epub 2022 May 16. PMID: 35578381; PMCID: PMC9546031.

Grondahl-Rosado, Ricardo. (2009). Rastreio virológico de carnívoros errantes e caracterização genética viral. Thesis for: Integrated Masters in Veterinary Medicine.

 

(Editoração: Fernando F. Mecca)

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