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Pesquisa identificou 20 tipos de gestos exibidos durante saudações de reeencontros entre elefantes
Muitas espécies se comunicam combinando sinais em combinações de gestos e vocais. Os elefantes vivem em sociedades onde os indivíduos se separam e se reúnem regularmente. Após o reencontro, os elefantes frequentemente envolvem-se em elaborados rituais de saudação, onde utilizam vocalizações e atos corporais produzidos com diferentes partes do corpo e de diversas modalidades sensoriais (por exemplo, audível, tátil). No entanto, ainda não era sabido se esses atos corporais representam gestos comunicativos, nem mesmo se os elefantes combinam vocalizações e gestos durante a saudação. Diante disso, pesquisadores europeus descobriram que os elefantes usam uma combinação de 20 gestos para manter vínculos sociais. A pesquisa foi publicada em maio de 2024 na revista Communications Biology.
Elefantes vivem numa sociedade que vive em constante “fissão-fusão”, onde os indivíduos se separam por períodos de meses e depois se reúnem novamente. Sendo assim, para o estudo, foram analisados os eventos de separação-reunião a fim de explorar o comportamento de saudação de elefantes da espécie Loxodonta africana, semi-cativos na reserva Jafuta, no Zimbábue. Assim, foi observado se os elefantes usavam gestos silenciosos-visuais, sonoros e táteis direcionando-os para o público com base no seu estado de atenção visual e como combinavam esses gestos com vocalizações durante a saudação.
O trabalho mostrou que os elefantes selecionam a modalidade gestual apropriadamente de acordo com a atenção visual do seu público, sugerindo evidências de uso comunicativo intencional de primeira ordem. Além disso, os elefantes integram vocalizações e gestos em diferentes combinações e ordens. “Descobrimos que eles selecionam estes gestos visuais, acústicos e táteis tendo em conta se o parceiro de saudação está olhando para eles ou não, o que sugere que estão conscientes das perspectivas visuais dos outros. Preferem usar gestos visuais quando o parceiro está olhando para eles, e gestos táteis quando não está”, disse a bióloga cognitiva e comportamental Vesta Eleuteri, da Universidade de Viena, na Áustria, principal autora do estudo.
O pesquisadores descobriram ainda que a combinação mais frequente consiste em vocalizações estrondosas com gestos de bater as orelhas, usadas com mais frequência entre as fêmeas. Segundo Eleuteri, elefantes fêmeas de diferentes grupos familiares podem ter fortes laços sociais entre si, formando “grupos de vínculo”. Estudos anteriores na natureza relataram que quando esses grupos se encontram, os elefantes realizam elaboradas cerimônias de saudação para anunciar e fortalecer o seu vínculo social.
A glândula temporal, localizada entre o olho e a orelha, produz uma substância chamada temporina, que contém informações químicas sobre a identidade ou o estado emocional e sexual de um elefante. Esses animais usam frequentemente as suas trombas para verificar as glândulas temporais dos outros.
Eleuteri explica que a urina e as fezes dos elefantes também contêm informações químicas importantes para os elefantes. Sendo assim, eles podem defecar ou urinar durante os cumprimentos para liberar esta informação importante. Outra opção é que o façam devido à excitação de se verem uns aos outros. Mas o fato de os elefantes moverem frequentemente as suas caudas para o lado ou abanarem as caudas quando urinam e defecam sugere que podem estar convidando os destinatários a cheirá-los. Talvez não precisem dizer uns aos outros como estão, pois podem sentir o cheiro uns dos outros.
Os autores concluem, portanto, que os elefantes mostram sensibilidade à atenção visual de outros elefantes e combinam gestos e vocalizações para compor sua comunicação. Dessa forma, o estudo avança a compreensão do surgimento da intencionalidade da comunicação (sonora e visual) entre diferentes espécies.
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências:
Artigo científico intitulado “Multimodal communication and audience directedness in the greeting behaviour of semi-captive African savannah elephants”, publicado na revista Communications Biology em 2024, de autoria de Eleuteri e colaboradores. https://www.nature.com/articles/s42003-024-06133-5#Abs1
Matéria no site G1, intitulada “Ronco, rugido ou mostrar o traseiro: estudo acha 20 gestos que elefantes usam para manter vínculos sociais”, publicada em 14/05/2024. https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/05/14/estudo-identifica-que-elefantes-usam-gestos-especificos-para-cumprimentar-membros-de-grupo-e-fortalecer-vinculo-social.ghtml