Descoberta do fóssil mais antigo já registrado dá pistas sobre as raízes evolutivas do desenvolvimento embrionário em animais.
A descoberta do fóssil de um bilhão de anos representa um marco para o entendimento evolutivo de animais. Antes dessa descoberta, o registro de seres multicelulares se remetia à era Ediacarana (635–541 milhões de anos atrás). O fóssil encontrado é de uma era pré-Ediacarana e tem cerca de 1 bilhão de anos, o que sugere uma nova linha evolutiva dos animais. Antes, a hipótese evolutiva explicava que a origem dos animais era marinha, mas esse achado mostra que a origem dos animais pode ter início em água doce, como em lagos. O fóssil foi encontrado em um lago nas Terras Altas do Noroeste da Escócia e sua descoberta foi publicada em 13 de abril de 2021 na revista Current Biology.
Os autores discutem que já havia sido relatada a probabilidade de haver registros fósseis da era pré-Ediacarana que poderiam trazer informações ontogênicas, ou seja, que dizem respeito à origem e ao desenvolvimento de um organismo. Nesse caso, essa descoberta permite um entendimento diferenciado da origem evolutiva de seres multicelulares e, por sua vez, de animais.
Neste trabalho foram analisadas cerca de 50 amostras de formações rochosas sedimentares conhecidas por preservarem fósseis, tais como fosfato de cálcio (francolita) e minerais de argila, que mantêm características biológicas celulares e subcelulares intactas. A análise permitiu identificar organismos bentônicos e planctônicos, sendo alguns já documentados previamente. Devido à alta preservação propiciada, também foi possível identificar um desenvolvimento embrionário que culminou na origem do organismo Bicellum brasieri, recém descoberto.
Foram observadas no fóssil dois tipos de células que apresentavam uma morfologia própria, cujos arranjos celulares finais poderiam ser explicados pela adesão diferencial célula-célula, a qual os pesquisadores afirmam ser similar à diferenciação de tecidos em organismos multicelulares atuais. Com base nisso, os cientistas explicam que a morfologia geral do fóssil é mais consistente com uma origem holozoária (grupo de organismos que inclui os animais e seus parentes unicelulares mais próximos, excluindo os fungos), formando estágios multicelulares dentro de ciclos de vida complexos.
Os pesquisadores concluíram que esses fósseis demonstram diferenciação celular simples e processos morfogênicos semelhantes aos vistos em alguns animais pluricelulares hoje. Em entrevista, Paul Strother, pesquisador que liderou o trabalho, explicou que a biologia propunha que a origem dos animais incluía a incorporação e reaproveitamento de genes anteriores que haviam evoluído anteriormente em organismos unicelulares. Neste trabalho os autores viram que o Bicellum pode representar uma origem evolutiva dos animais diferente daquela antes proposta e que essas informações genéticas podem ter sido incorporadas ao genoma animal meio bilhão de anos depois, finaliza Strother.
News: Iasmin Taveira
Fontes e mais informações sobre o tema:
Artigo científico intitulado “A possible billion-year-old holozoanwith differentiated multicellularity”, publicado na revista Current Biology em 2021, de autoria de Strother e colaboradores.
https://physoc.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.14814/phy2.14744
Matéria no site CNN Brasil, intitulada “Descoberta de fóssil de 1 bilhão de anos traz nova teoria sobre evolução”, publicada em 04/05 /2021.
https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/2021/05/04/descoberta-de-fossil-de-1-bilhao-de-anos-traz-nova-teoria-sobre-evolucao
Site do Serviço Geológico do Brasil, publicado em 03/12/2016.
http://www.cprm.gov.br/publique/CPRM-Divulga/Breve-Historia-da-Terra-1094.html#:~:text=Ali%2C%20animais%20multicelulares%20marinhos%2C%20depois,%2C%20at%C3%A9%20recentementre%2C%20de%20Vendiano.&text=%C3%89%20o%20%C3%A9on%20atual%2C%20iniciado%20h%C3%A1%20542%20milh%C3%B5es%20de%20anos.
(Editoração: André Pessoni)