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Pesquisa avaliou a percepção de especialistas da área de mineração em águas profundas sobre processo de gestão e governança da atividade
A mineração em águas profundas consiste em enviar máquinas para o fundo do oceano, onde elas irão escavar e minerar os assoalhos marinhos em busca de metais e minérios. Recentemente, empresas privadas e governos vêm pressionando a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA na sigla em inglês) avance com a autorização de licenças para a mineração em águas internacionais. No entanto, a prática põe em risco a saúde dos ecossistemas marinhos e, por isso, é tema de discussão entre os especialistas. Diante disso, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com as instituições alemãs Helmholtz Centre Postdam e TMG Think Tank para Sustentabilidade fizeram uma pesquisa para avaliar qual a percepção de especialistas sobre esta atividade. Os pesquisadores concluíram que não há consenso sobre como a mineração em águas profundas pode ser praticada. O estudo foi publicado no periódico científico Frontiers in Marine Science.
A coleta de dados do estudo foi realizada por meio da aplicação de questionários e entrevistas com 16 profissionais e especialistas em mineração em águas oceânicas profundas envolvidos com as negociações da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA). A entidade tem mais de 160 estados membros e é responsável por organizar a exploração de minerais no fundo do mar em áreas internacionais. Os entrevistados reconhecem a importância de uma gestão integrada entre comunidades, empresas e tomadores de decisão na avaliação do impacto da mineração em mares profundos, concordando com a importância de uma abordagem de gestão e governança que leve em conta as necessidades e impactos de determinada atividade para diferentes setores e usuários. No que tange a mineração em águas profundas, isso significa avaliar seus impactos para o ecossistema em relação a outras atividades e atores, como pesca e pescadores, ao longo do tempo. Essa avaliação está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável dos Oceanos, da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU).
Diante dos potenciais danos ao ecossistema marinho, o tema é considerado controverso. Em reunião da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), em julho de 2023, o governo brasileiro, assim como o governo de outros 18 países, se posicionou contra a mineração em águas internacionais pelo menos nos próximos dez anos. Para Maila Guilhon, uma das autoras do estudo, o resultado do estudo surpreendeu os autores ao mostrar que os atores-chave no gerenciamento de mineração em águas profundas compreendem a importância da gestão baseada em ecossistemas. Isso pode refletir nas regulações e práticas institucionais da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos.
Dentre as perspectivas dos pesquisadores, há a pretensão de criar grupos de discussão para planejar treinamentos e desenvolver instrumentos de orientação sobre o assunto. Sua intenção é elaborar um documento que auxilie na tomada de decisões das delegações da ISA em consonância com o que estabelece a gestão baseada em ecossistemas na mineração em águas profundas.
Este texto foi baseado em uma matéria da Agência Bori com o selo da iniciativa Ressoa Oceano (na qual a Ilha do Conhecimento é parceiro). Saiba mais no Instagram @ressoaoceano.
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências:
Matéria no site Agência Bori, intitulada “Gestão da mineração em águas profundas com olhar para os ecossistemas ainda é desafio para especialistas”, publicada em 14/11/2023. https://abori.com.br/oceanografia/para-especialistas-gestao-da-mineracao-em-aguas-oceanicas-com-olhar-para-os-ecossistemas-ainda-e-desafio/
Matéria no site Green Peace, intitulada “O que é a mineração em águas profundas?”, publicada em 02/06/2023.https://www.greenpeace.org/brasil/blog/o-que-e-a-mineracao-em-aguas-profundas/