#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)
O sal-gema é extraído de rochas subterrâneas e a causa do colapso em mina de Maceió que representa ‘risco iminente’ de afundamento do solo no bairro de Mutange
Você já ouviu falar do famoso sal rosa do Himalaia amplamente usado em dietas? Esse é um tipo de sal-gema. Apesar disso, o sal-gema não é propriamente usado na cozinha, sendo amplamente necessário na indústria química em processos para fabricação de itens variados como: cloro, soda cáustica, ácido clorídrico, bicarbonato de sódio, papel, celulose, vidro, sabão, detergente, pasta de dente, bem como de PVC (um tipo de plástico). O sal marinho comumente comercializado e usado na alimentação é extraído a partir da evaporação da água do mar, enquanto o sal-gema é retirado por uma perfuração subterrânea. Diante de sua importância industrial, a Braskem (uma indústria petroquímica) vem explorando esse minério no território de Maceió desde os anos 70. Há pelo menos dez anos, os órgãos de fiscalização vinham alertando sobre o risco de desabamento do solo. Desde 2020, ao todo, mais de 14 mil imóveis foram desocupados e 60 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas nas áreas onde ficam as minas na capital alagoana.
Entenda a linha do tempo de acontecimentos que levaram as recentes preocupações com risco de desabamento de bairros de Maceió:
- Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 foi registrado, agravando as rachaduras e crateras no solo, além de provocar danos irreversíveis nos imóveis.
- Um ano depois, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao governo federal, confirmou que a instabilidade no solo foi provocada pela mineração de sal-gema.
- Em junho de 2019 foram emitidas ordens de evacuação para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Com o agravamento do problema, a ordem foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol. Com isso, áreas antes habitadas foram transformadas em bairros fantasmas.
- Depois que a mineração foi apontada como a principal causa da instabilidade, a Braskem tem fechado e tentado estabilizar mais de 35 minas na região do Mutange e de Bebedouro, com profundidade média de 886 metros. No entanto, após 5 tremores de terra somente no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o “risco de colapso em uma das minas”, a de número 18, próximo da lagoa Mundaú, o que poderia provocar o surgimento de uma imensa cratera.
- O professor da Universidade Federal do Alagoas (UFAL), Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, avalia que há uma grande probabilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas vizinhas, formando uma cratera próxima ao tamanho do estádio do Maracanã.
- Com o desabamento, a água da lagoa, terra e detritos seriam escoados para dentro da cratera, provocando a formação de um lago com profundidade de 8 a 10 metros. Segundo a Defesa Civil, esse fenômeno tornaria a água da lagoa salgada e toda a área de mangue na região seria impactada “de forma bastante trágica”.
- O Serviço Geológico do Brasil enviou uma nova equipe a Maceió para avaliar o problema, que é monitorado também pela Defesa Civil Nacional.
- A Justiça Federal determinou a retirada de pouco mais de 20 famílias que ainda vivem nas áreas de risco nos bairros do Bom Parto. Apesar de não haver ordem para evacuação no Pinheiro, um hospital no bairro transferiu todos os seus pacientes para outras unidades de saúde.
Para o professor Pedro Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), as consequências da tragédia são comparáveis ao desastre de Chernobyl – acidente nuclear que aconteceu na Rússia. “Uma área de grande exclusão, onde as pessoas não vão poder voltar, pelo menos não tão rapidamente, afetando diversas famílias. É considerado hoje o maior desastre ambiental em ambiente urbano”, diz Côrtes.
Neste contexto,o Brasil que tem sido visto de forma negativa quando o assunto é o meio ambiente devido a 4 anos de negligência com a pauta por parte do governo Bolsonaro, chega à cúpula do clima da ONU (COP 28) em Dubai, mostrando mudanças críticas em suas políticas ambientais. Nesta COP28, o país apresenta dados de redução no desmatamento da Amazônia, como principal resultado da mudança das políticas ambientais da nova gestão, mas com grandes problemáticas socioambientais a enfrentar. Diante disso e da compra de parte da Braskem pertencente a Novonor, antiga Odebrecht, pela estatal brasileira, Petrobrás, o governo deve enfrentar mais problemáticas ambientais diante do desastre em Maceió e maiores desafios para sua regularização.
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências:
Matéria no site CNN, intitulada “Devastação causada por colapso de mina em Maceió é “nossa Chernobyl”, diz especialista”, publicada em 02/12/2023. https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/devastacao-causada-por-colapso-de-mina-em-maceio-e-nossa-chernobyl-diz-especialista/
Matéria no site G1, intitulada “Brasil chega à COP28 com trunfo contra desmatamento e ‘esqueletos’ no armário”, publicada em 30/11/2023. https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/devastacao-causada-por-colapso-de-mina-em-maceio-e-nossa-chernobyl-diz-especialista/
Matéria no site G1, intitulada “Braskem à venda? Entenda oferta, fatia da Petrobras e o que está em jogo”, publicada em 18/05/2023. https://www.bbc.com/portuguese/articles/c032drl6376o
Matéria no site G1, intitulada “INFOGRÁFICO: Entenda o risco de colapso das minas da Braskem em Maceió”, publicada em 01/12/2023. https://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2023/12/01/infografico-entenda-o-risco-de-colapso-das-minas-da-braskem-em-maceio.ghtml
Matéria no site G1, intitulada “O que é o sal-gema, causa do afundamento em área de mina em Maceió, e para que é usado? Ele é igual ao sal marinho?”, publicada em 05/12/2023. https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2023/12/05/o-que-e-o-sal-gema-causa-do-afundamento-em-area-de-mina-em-maceio-e-para-que-e-usado-ele-e-igual-ao-sal-marinho.ghtml