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Como o salgadinho do mercado pode alterar o seu cérebro?

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Estudo publicado na Nature relata efeito de alimentos ultraprocessados, ‘junk foods’, no cérebro de adultos masculinos

Os padrões de atividade cerebral de pessoas saudáveis que passaram dias comendo alimentos ultraprocessados ou ‘junk foods’ – alimentos com alto valor calórico e baixo valor nutricional – é similar ao de pessoas com obesidade. Este foi o resultado principal de um estudo publicado na revista Nature no dia 21 fevereiro de 2025, por pesquisadores das Universidades de Tübingen, Bonn e Potsdam (Alemanha).

Os resultados mostram que o cérebro dos participantes que ingeriram ultraprocessados por curtos períodos de tempo teve resposta à insulina, hormônio principal responsável por controlar a quantidade de glicose no sangue, modificada. Esta alteração pode facilitar o desenvolvimento de obesidade e outras doenças associadas, como a diabetes tipo 2. 

salgadinho
Exemplo de alimentos ultraprocessados, ‘junk foods’, disponíveis em mercados. Fonte: https://pxhere.com/

Os pesquisadores recrutaram 29 voluntários para participarem do estudo. Todos eram homens com idades entre 19 e 27 anos e considerados saudáveis. Por cinco dias, 18 voluntários se alimentaram apenas de alimentos ultraprocessados e o restante, o grupo controle, seguiu sua dieta regular. A atividade do cérebro de todos os 29 participantes foi registrada antes do início da dieta, imediatamente após e na semana seguinte ao seu término. 

A pesquisadora líder do estudo, Stephanie Kullmann, em entrevista à revista Nature, ressalta que não esperava que os efeitos da alimentação com ultraprocessados fossem tão evidentes. Os resultados dos testes feitos imediatamente após o período de cinco dias registraram que os participantes que se alimentaram de ultraprocessados tiveram maior atividade em áreas do cérebro relacionada ao sistema de recompensa e a mudanças na dieta comparado ao grupo controle. Este padrão foi similar ao registrado em pessoas com obesidade em estudos anteriores. Uma semana depois, os testes foram repetidos e os resultados indicaram que os 18 voluntários que se alimentaram de comidas ultraprocessadas tiveram atividade menor em áreas do cérebro relacionadas à memória e resposta a imagens de comida, comparado ao grupo controle. 

Os pesquisadores concluem que a resposta do cérebro à insulina acontece antes que haja de fato ganho de peso e desenvolvimento de obesidade. Eles descrevem, porém, que o número de voluntários e a restrição a participantes homens restringe a generalização dos resultados. Além disso, relatam que o grupo que se alimentou de alimentos ultraprocessados teve dificuldade em atingir o valor de ingestão de 1500 calorias por dia (seguindo dieta elaborada por nutricionista), ingerindo apenas 1200 calorias/dia.

Este estudo é mais uma evidência sobre como padrões mundiais de alimentação que favorecem a ingestão de alimentos de alto valor calórico e baixo valor nutricional (como os salgadinhos que compramos no mercado) podem ser danosos para saúde, não necessariamente pelo aumento imediato de peso, mas, por exemplo, pela mudança em padrões de atividade do nosso cérebro.

 

Colaboração:

Bruna Lima Ferreira sobre a autora

Bruna é bióloga e mestre pela USP e pesquisadora colaboradora do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado (PCMC). É fascinada pelas relações que as pessoas têm com a natureza e pela busca de estratégias que promovam comportamentos mais sustentáveis e a reaproximação (e valorização) da sociedade e natureza. Acredita no papel da popularização científica e ensino de ciências para construção de uma ciência democrática.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico intitulado “A short-term, high-caloric diet has prolonged effects on brain insulin action in men”, publicado na revista Nature Metabolism em 2025, de autoria de Kullmann S. e colaboradores.

Matéria na Revista Nature intitulada “How a junk-food splurge can change your brain activity”, publicada em 21 de fevereiro de 2025. 

 

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