#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque no jornalismo da semana)
Enquanto as áreas privadas já perderam até 20,6% da vegetação nativa local, as terras indígenas perderam apenas 1%
Um estudo realizado pela organização MapBiomas indicou que os territórios indígenas são responsáveis pela proteção de áreas florestais e contra o avanço do desmatamento no Brasil, especialmente na Amazônia. O principal resultado deste estudo mostra que, no Brasil todo, enquanto as áreas privadas já perderam até 20,6% da vegetação nativa local, as terras indígenas perderam apenas 1%. Segundo a pesquisa, entre 1990 e 2020, o Brasil perdeu cerca de 69 milhões de hectares da floresta amazônica e apenas 1,1 milhão foi destruído em regiões em que moram a população indígena. Enquanto isso, foram desmatados mais de 47,2 milhões de hectares em locais privados.
Um dado importante é que, atualmente, as terras indígenas ocupam apenas 13,9% do território brasileiro e representam 109,7 milhões de hectares de vegetação nativa. Até 2020, a área representou 19,5% de toda a vegetação nativa no Brasil. “Os dados de satélite não deixam dúvidas que são os indígenas que estão retardando a destruição da floresta amazônica. Sem seus territórios, a floresta certamente estaria muito mais perto de seu ponto de inflexão a partir do qual ela deixa de prestar os serviços ambientais dos quais nossa agricultura, nossas indústrias e cidades dependem”, disse o coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo.
O desmatamento no Brasil, principalmente na Amazônia, segue em alta. Em 2022 um recorde alarmante foi batido: os níveis de desflorestamento foram os maiores no primeiro trimestre dos últimos seis anos. Em março deste ano houve uma redução de 15% de áreas desmatadas em relação ao mesmo mês do ano anterior, mas nem isso foi capaz de compensar a destruição. Em todo o período foram 941,3 quilômetros quadrados de floresta perdidos.
Uma das atividades que muito contribui para o desmatamento na região amazônica é o garimpo. Segundo os dados da MapBiomas, a presença de garimpeiros aumentou consideravelmente nos últimos anos e, até 2020, já representava um crescimento de 495% em relação a 2010. A quase totalidade (93,7%) dos garimpos do Brasil em 2020 concentravam-se na Amazônia. As maiores áreas de garimpo em terras indígenas estão em território Kayapó (7602 ha) e Munduruku (1592 ha), no Pará, e Yanomami (414 ha), no Amazonas e Roraima.
É importante lembrar que a atividade do garimpo é ilegal nas terras indígenas, no entanto um projeto de lei do governo Bolsonaro (PL 191/2020) prevê a a autorização do garimpo nessas terras. O projeto propõe regras para a mineração, exploração de hidrocarbonetos, como petróleo, e a geração de energia elétrica em terras indígenas.
A MapBiomas é uma Iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Seu principal objetivo é a busca da conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais do uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: https://mapbiomas.org/.
Colaboração: Jéssica de Moura Soares sobre a autora
Jéssica de Moura Soares é Bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Matéria no site MapBiomas, intitulada “Terras indígenas contribuem para a preservação das florestas”, publicada em 2022. https://mapbiomas.org/terras-indigenas-contribuem-para-a-preservacao-das-florestas
Matéria no site Tecmundo, intitulada “Amazônia tem desmatamento recorde no primeiro trimestre de 2022”, publicada em 11/04/22. https://www.tecmundo.com.br/ciencia/236860-amazonia-tem-desmatamento-recorde-primeiro-trimestre-2022.htm
Matéria no site Tecmundo, intitulada “Terras indígenas são barreira contra desmatamento na Amazônia, diz estudo”, publicada em 26/04/22. https://www.tecmundo.com.br/ciencia/237480-terras-indigenas-barreira-desmatamento-amazonia-diz-estudo.htm