Um fio de cabelo pode guardar traços químicos de várias drogas, sendo o bastante para afirmar que o dono do cabelo entrou em contato com alguma droga. Conhecendo a taxa de crescimento e analisando cortes transversais de fios de cabelo, cientistas podem inclusive apontar quando houve o contato com a substância. Esse tipo de análise é feito há décadas, mas há uma importante ressalva: as técnicas usadas até então não permitiam diferenciar o consumo da droga e o contato externo com a mesma. Isso quer dizer que se, por exemplo, há suspeita de uma morte por envenenamento, é possível verificar se a vítima teve contato com um veneno, mas não revela se ela realmente consumiu, ou se aplicou o veneno em seu jardim no dia de sua morte. Entretanto, pesquisadores desenvolveram uma nova técnica que permite diferenciar traços químicos aderidos externamente ao cabelo daqueles incorporados pela raiz, via corrente sanguínea. Utilizando fios de cabelo de voluntários que consumiram Zolpidem, um remédio para sono, os pesquisadores mostraram que cortar o fio de cabelo na orientação longitudinal aumenta a sensibilidade dos testes a esse composto químico, permitindo distinguir entre consumo e contaminação. Eles também testaram um método de lavagem do fio que removeu o Zolpidem contaminando externamente o fio, mas não removeu a droga de dentro do cabelo, depositada pelo sistema circulatório no fio em crescimento.
Tweet-science: Fernando F. Mecca
Artigo original: Revista Analytical Chemistry (Mar/2019) # Hair Analysis: Contamination versus Incorporation from the Circulatory System—Investigations on Single Hair Samples Using Time-of-Flight Secondary Ion Mass Spectrometry and Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization Mass Spectrometry. R. Erne, L. Bernard, A. Steuer, e colaboradores.
(Editoração: Priscila Rothier, Gabriel Ferreira, André Pessoni e Caio Oliveira)