Image default

O risco de fragilidade na velhice é diferente para homens e mulheres

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Pesquisadores da UFSCar e da University College London analisaram dados de 1.747 idosos acompanhados ao longo de 12 anos e mapearam os diferentes percursos que podem levar a um desfecho negativo

Estudo divulgado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da University College London (Reino Unido) demonstrou que os fatores que aumentam o risco de fragilidade na velhice são diferentes entre homens e mulheres. A condição chamada de síndrome da fragilidade é caracterizada pela presença de três ou mais dos seguintes fatores: perda de peso involuntária, fadiga, fraqueza muscular, diminuição da velocidade de caminhada e baixa atividade física.

Pessoas idosas com essa síndrome devem ser priorizadas na atenção primária à saúde por serem mais suscetíveis a quedas, hospitalizações, incapacidade e morte precoce. De acordo com resultados publicados na revista Archives of Gerontology and Geriatrics, há maior risco de desenvolver a síndrome da fragilidade em homens com osteoporose, baixo peso, doenças cardíacas e com percepção da audição avaliada como ruim. Já entre as mulheres, o risco está associado a alta concentração sanguínea de fibrinogênio (um marcador de doença cardiovascular), diabetes e acidente vascular cerebral (AVC).

As conclusões se baseiam na análise de dados de 1.747 pessoas idosas que integram o English Longitudinal Study of Ageing (Estudo Elsa), uma pesquisa populacional realizada no Reino Unido. Os indivíduos foram avaliados de quatro em quatro anos entre 2004 e 2016. Para este trabalho, os pesquisadores selecionaram pessoas com 60 anos ou mais e que inicialmente não tinham a síndrome da fragilidade e nem pré-fragilidade, ou seja, quando estão presentes um ou dois fatores mencionados anteriormente.

Os cientistas explicam que a síndrome da fragilidade tem um fenótipo (ou conjunto de sinais e sintomas facilmente identificáveis) criado para detectar previamente pessoas em maior risco de sofrer uma queda, hospitalizações, incapacidade e morte precoce.

“O que fizemos neste estudo foi retornar alguns passos antes desse processo se iniciar e identificar quais características ao longo da vida dessas pessoas idosas podem acarretar a fragilidade. Isso porque sabemos que, quando se pensa em envelhecimento e qualidade de vida no envelhecimento, é muito importante saber os principais fatores de risco para se antecipar aos problemas, pois desse modo podemos direcionar as políticas públicas para homens e mulheres”, explica Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e autor do estudo. 

velhice
A síndrome da fragilidade serve como um sinal amarelo para desfechos negativos em pessoas idosas. Foto: Reprodução geridades.

O trabalho é fruto da tese de doutorado de Dayane Capra de Oliveira, conduzida sob orientação de Alexandre. Oliveira explica que, embora a fragilidade seja uma ferramenta baseada nas questões biológicas do indivíduo, a diferença encontrada entre os fatores de risco que levam homens e mulheres a desenvolver a síndrome está ancorada nos distintos papéis sociais e acesso a recursos ao longo da vida. “Enquanto os fatores socioeconômicos, distúrbios musculoesqueléticos, doenças cardíacas e baixo peso parecem sustentar o processo de fragilidade nos homens, nas mulheres o processo parece estar ancorado em distúrbios cardiovasculares e neuroendócrinos”, diz Oliveira.

Os pesquisadores explicam que, apesar de homens e mulheres apresentarem alguns fatores de risco semelhantes para a fragilidade – como idade avançada, baixa escolaridade, sedentarismo e sintomas depressivos, por exemplo –, diferenças na composição corporal e localização de deposição de gordura entre os dois sexos ao longo da vida e na velhice podem desencadear aparecimento de componentes de fragilidade de forma direta ou indireta, mediando alterações metabólicas que acarretam no surgimento de doenças que aumentam o risco de fragilidade.

Vale destacar que a síndrome da fragilidade é mais comum em mulheres do que em homens, até porque a expectativa de vida das mulheres é maior. “Essa é uma questão complexa, que está ancorada nas diferenças da expectativa de vida entre os dois gêneros e nos tipos de doenças mais prevalentes entre homens e mulheres. Basicamente, as mulheres são mais afetadas por doenças crônicas que não matam, mas geram incapacidade. Então, como uma consequência dessa realidade, elas vivem mais tempo e podem desenvolver mais a síndrome de fragilidade do que os homens”, explica Alexandre.

“A síndrome da fragilidade serve como um sinal amarelo para desfechos negativos em pessoas idosas. Chegou-se a acreditar que ela se dava por uma via única, mas nosso estudo reforça que diferentes percursos podem levar à fragilidade em pessoas idosas. Identificar diferenças nesse processo entre homens e mulheres é importante para a formulação de políticas públicas. Isso pode ter reflexos na atenção básica de saúde e resultar em planos de ação e intervenção em pessoas idosas mais focados no gênero”, explica o pesquisador.

 

Colaboração:

Jéssica de Moura Soares sobre a autora

Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Agência Fapesp, intitulada “Fatores que aumentam o risco de fragilidade na velhice são diferentes entre homens e mulheres”, publicada em 30/01/24. https://agencia.fapesp.br/fatores-que-aumentam-o-risco-de-fragilidade-na-velhice-sao-diferentes-entre-homens-e-mulheres/50730

 

Postagens populares

Pesquisa mostra que tímpano foi fundamental para répteis sobreviverem e se proliferarem ao longo da história evolutiva

IDC

Vírus no sangue de catadores de materiais recicláveis

IDC

Prêmio Nobel 2024

IDC

Estudos apontam que boas práticas utilizadas na agricultura que podem reduzir emissões de carbono no campo

IDC

Pesquisa mostra as alterações cerebrais que acontecem durante a maternidade

IDC

A pior extinção em massa do mundo teve início com Mega El Niño

IDC