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Conheça mais sobre a importância das línguas de sinais para a comunidade surda.
Sobre Categoria: Livro Título: Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos surdos Autor: Oliver Sacks Ano de publicação: 2010 Editora: Companhia de Bolso Páginas: 216 |
Neste livro, Oliver Sacks, famoso por seus estudos sobre o funcionamento do cérebro humano, faz uma viagem no mundo da linguagem, discutindo como uma língua é essencial para a nossa constituição como seres humanos. Porém, vivemos em uma sociedade em que a maioria das pessoas fazem uso da língua oral (Português, Francês, Inglês, Russo…): como, então, as pessoas privadas de audição – os surdos ou deficientes auditivos – se desenvolvem e se comunicam?
É nesse ponto que o autor desvenda as línguas de sinais e, consequentemente, o mundo dos surdos. Ao longo do livro – que não tem a pretensão de ser técnico, mas sim um relato sobre as impressões do autor sobre o assunto – Sacks argumenta em razão das línguas dos sinais como sendo àquelas desenvolvidas naturalmente e da sua importância para as funções neurais: por ser uma língua com características visuais-espaciais, os sinalizantes acabam desenvolvendo as funções cerebrais relacionadas a essas características. Essas questões são exemplificadas pelo autor por meio de relatos sobre as suas observações na Universidade da Gallaudet, universidade voltada para os estudos surdos em Washington DC, nos Estados Unidos, e na ilha de Marthas Vineyard, também nos Estados Unidos, conhecida pelo convívio de ouvintes e surdos de forma harmoniosa, em que a língua de sinais faz parte da realidade de ambos os grupos.
Além dos relatos reais, Oliver Sacks faz uma viagem à história do surdo, desde a Antiguidade Clássica – marcada pela exclusão violenta desses indivíduos, os quais não eram vistos como humanos, por não usarem a língua oral – às implicações do Congresso de Milão, que determinou que todos os surdos deveriam aprender a oralizar, sendo que as línguas de sinais foram proibidas; até o desenvolvimento do bilinguismo nos dias atuais, em que as línguas de sinais e a língua oral são incentivadas e desenvolvidas no sujeito com a mesma importância.
Todas essas questões são importantes para desmistificar vários mitos em torno dos surdos e das línguas de sinais: você sabia que a expressão surdo-mudo é pejorativa? Os surdos apenas não fazem uso da língua oral, sem nenhum prejuízo ao seu aparelho fonador, e fazem uso da língua de sinais, por isso não podem ser considerados mudos. Ademais, você sabia que podemos produzir qualquer texto em línguas de sinais? Desse modo, por ser uma língua, conseguimos cantar, recitar poemas, discutir um assunto ou contar uma piada, assim como com as línguas orais.
Vale destacar, porém, que o livro é uma introdução ao mundo dos surdos e das línguas de sinais, escrito originalmente em 1988. Hoje, os estudos surdos e os estudos linguísticos relacionados às línguas de sinais evoluíram e já trazem novas contribuições importantes para o campo. No entanto, “Vendo vozes” é um primeiro passo importante rumo ao mundo da surdez, vista não só como uma patologia, mas principalmente como uma diferença, cercada por uma cultura extremamente rica. Afinal, nas palavras do autor, “é facílimo aceitarmos como natural a língua, nossa própria língua – talvez seja preciso encontrarmos outra língua, […] para nos surpreender, nos maravilhar novamente”.
Colaboração: Beatriz Spinelli sobre a autora
Licenciada em Letras e mestra em Saúde, interdisciplinaridade e reabilitação pela Unicamp, pesquisando o ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos. Trabalha como editora de materiais didáticos na área de Linguagens e suas Tecnologias e tem um carinho muito grande pela educação especial, principalmente a educação bilíngue para surdos. Tem interesse por novas tecnologias voltadas à educação e por divulgação científica.
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(Editoração: Beatriz Spinelli, Fernando Mecca, Loren Queli Pereira e Nathália Khaled)