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Sobre ● Categoria: Artigo – Revista Eletrônica Frontiers for Young Minds ● Título Original: Water Controls Amazonian Biodiversity ● Ano de publicação: 2018 ● Link do artigo original: https://kids.frontiersin.org/articles/10.3389/frym.2018.00047 |
RESUMO
Quase tudo no rio Amazonas é verdadeiramente gigantesco e espantoso. Ele atravessa mais de 7.000 km. A área de drenagem de água e materiais para o rio Amazonas, desde as terras altas até às planícies do rio, abrange cerca de 7 milhões de km2. Esta área liga ecossistemas aquáticos e terrestres que contêm 20% da água doce e a maior parte da diversidade de organismos vivos da Terra. As zonas úmidas, onde as massas de água afetam diretamente a biodiversidade, cobrem 30% da Amazônia. A água em várias formas, desde rios voadores sob a forma de nuvens, à precipitação, ao fluxo de água das terras altas para as terras baixas, é um fator importante que afeta a biodiversidade da Amazônia. Este efeito pode ser observado em toda a Amazônia, e a água tem controlado o ecossistema desta área durante muitos anos. A Amazônia contém numerosas espécies que, em conjunto, formam uma floresta complexa, tanto em terra como debaixo de água.
O maior rio da Terra
A Amazônia é a área drenada pelo rio Amazonas e cobre cerca de 7 milhões de km2. Esta enorme área contém uma grande proporção das espécies microbianas, animais e vegetais do mundo que, em conjunto, formam uma floresta complexa, tanto à superfície como debaixo de água. Quase tudo neste poderoso rio é verdadeiramente gigantesco e espantoso. O Amazonas atravessa mais de 7.000 km do norte da América do Sul, desde o rio Apurímac, na Cordilheira dos Andes, no sul do Peru, até ao Oceano Atlântico, no norte do Brasil (Figura 1).

A área de onde a imagem maior foi tirada é indicada pelo tracejado sobre a imagem da Terra no canto superior direito. A imagem maior mostra diferenças de altitude acima do nível do mar representadas por cores: verde indica terras baixas, onde estão os grandes rios; amarelo indica as rochas e solos antigos expostos; e branco indica cadeias de montanhas, os Andes.
A água é essencial para a vida porque as funções biológicas, como respiração, fotossíntese e digestão, acontecem na água. Rios, igarapés, águas subterrâneas e nuvens conectam e sustentam todos os organismos vivos da floresta amazônica. Portanto, a água é a fonte da biodiversidade da Amazônia.
O rio Amazonas tem cerca de 9 milhões de anos e durante a estação das chuvas, pode ter até 50 km de largura em certos locais. Uma bacia hidrográfica, ou divisor de águas, é a área onde a água e os materiais, como areia, organismos vivos, troncos e folhas fragmentadas, são drenados através de córregos e rios, movendo-se das terras mais altas da bacia hidrográfica para as planícies, devido à gravidade. Este fluxo descendente de água liga os ecossistemas aquáticos e terrestres na bacia hidrográfica do rio Amazonas, que cobre uma área maior do que toda a Europa e contém 20% de toda a água doce do mundo. A Amazônia alberga também a maior parte da diversidade de organismos vivos da Terra.
Na Amazônia, podemos encontrar entre 4.000 e 15.000 espécies de plantas (incluindo a castanha-do-pará e o açaí), mais de: 400 espécies de mamíferos (por exemplo onças, preguiças e morcegos),1.300 espécies de aves (incluindo tucano e gavião-real), 400 espécies de répteis (incluindo jiboias e jacarés), 400 espécies de anfíbios (incluindo sapos) e cerca de 3.000 espécies de peixes de água doce (como as piranhas e o pirarucu). É mais difícil de estimar formas de vida menores que as citadas anteriormente, mas os cientistas já descreveram mais de 100.000 espécies de invertebrados, como insetos e aranhas.Todos os meses são descritas muitas espécies novas de fungos e algas. Toda esta biodiversidade depende da dinâmica hídrica única da região.
Rios que podem voar
A Amazônia é uma paisagem tropical coberta principalmente por florestas tropicais. A chuva que cai nos rios e florestas da Amazônia provém da evaporação do Oceano Atlântico e do metabolismo do próprio ecossistema amazônico. A água da chuva pode chegar diretamente aos rios ou pode ser captada pela floresta, percorrer a copa e os troncos das árvores e, finalmente, chegar ao solo.
A água subterrânea pode então descer até rios menores, levando consigo o solo e outros materiais, e incorporar o escoamento superficial ou infiltrar-se no solo em reservatórios. Estes processos fazem parte daquilo a que chamamos de ciclo hidrológico (da água) de uma bacia hidrográfica. O ciclo hidrológico começa com a precipitação (chuva), a que se segue o escoamento dessa água para os cursos de água e rios, a infiltração da água no solo e um processo de evapotranspiração, em que a água é devolvida à atmosfera através de sua evaporação do solo e das superfícies aquáticas ou das folhas, caules e flores das plantas.
A vegetação ao longo das margens dos cursos de água e dos rios ajuda a diminuir e a abrandar o escoamento da água para essas massas de água. Estas zonas são designadas por zonas ripícolas e as plantas que aí se encontram são designadas por vegetação ripícola.
A vegetação ripícola tem duas funções principais: em primeiro lugar, devolve a água à atmosfera, através da evapotranspiração; e, em segundo lugar, suaviza a queda da água que atinge o solo, ajudando os processos de infiltração, que devolvem a água ao solo. As árvores de grande porte com grandes sistemas radiculares podem então aceder à água subterrânea mesmo durante as estações mais secas. Algumas árvores podem liberar até 1.000 litros de água para a atmosfera por dia!
Por isso, a Amazônia e os seus grandes rios funcionam como bombas de vapor de água, que lançam água para a atmosfera e formam uma densa camada de nuvens que contêm grandes quantidades de água. Essas nuvens fluem com os ventos, formando incríveis rios voadores. Devido às altas temperaturas na Amazônia e à grande quantidade de chuva que cai em torno do equador, a Amazônia tem este enorme poder de trocar água entre a floresta e a atmosfera.
A Cordilheira dos Andes, com 4.000m de altura, a oeste do continente sul-americano, funciona como uma barreira aos ventos e nuvens que atravessam o continente e vêm do Oceano Atlântico. O resultado é uma enorme quantidade de chuvas sobre as áreas do centro, leste e sul do Brasil e seus países vizinhos. Este rio de nuvens transporta anualmente milhares de milhões de litros de água sob a forma de vapor, o que é quase igual à quantidade de água que flui do próprio rio Amazonas para o oceano todos os anos. Assim, esses rios no céu mudam o clima do continente e, eventualmente, o do mundo inteiro.
Rios que pulsam
A espessa camada de nuvens derrama a sua forte precipitação sobre as terras baixas, forçando os grandes rios a inundar e a água dos rios a espalhar-se pelas terras mais altas, submergindo muitas plantas . Estas florestas inundam-se, tendo uma fase terrestre e uma fase aquática todos os anos (Figura 2).
As águas das cheias nestas florestas podem atingir até 8m de altura durante 300 dias! A maioria das árvores ali passa metade do ano fora de água e a outra metade em diferentes níveis de submersão. Estas florestas de inundação contêm mais de 1000 espécies de árvores. Este sistema de água pulsante controla muitos dos processos biológicos das plantas, como a floração, que por sua vez influenciam as comunidades de animais terrestres, que se alimentam ou vivem nestas florestas. Além dos animais aquáticos, como os peixes e os golfinhos de água doce, que usam as florestas inundadas quando o nível da água é elevado.

A imagem superior mostra a precipitação sobre um igarapé que deságua no rio Tapajós, com uma ampla floresta inundada em suas margens; a imagem inferior mostra um típico igarapé de terra firme e sua vegetação ripária.
As espécies mudam ao longo dos riachos das terras altas para rios maiores e suas florestas inundadas, mais abaixo ao longo da bacia hidrográfica . Essa sucessão na estrutura ambiental determinada pela água é observada tanto na composição de espécies quanto na estrutura da floresta, provavelmente um resultado da adaptação a diferentes níveis de água no solo . Por outras palavras, cada riacho parece ser único no que diz respeito às espécies que surgem nestes ambientes.
Por incrível que pareça, as florestas inundadas podem ser muito diferentes umas das outras. Dependendo do tipo de solo do rio, os tipos de espécies presentes nessas florestas podem variar. Os rios da Amazônia têm duas origens principais: os solos jovens da Cordilheira dos Andes e os solos das antigas rochas expostas do Brasil e da Guiana.
Os rios que correm sobre solos jovens criam florestas inundadas chamadas florestas de Várzea, e os rios que correm sobre solos antigos criam florestas inundadas chamadas florestas de Igapó. Esses dois tipos de florestas são muito diferentes nas espécies de árvores e no tamanho total. A origem geológica do rio afeta as propriedades químicas da água, o que resulta em diferenças notáveis na cor da água: as florestas de várzea ocorrem ao longo de rios de água branca, e as florestas de Igapó em rios de água preta ou clara.
Rios que correm debaixo da terra
As plantas e os animais que vivem em habitats ribeirinhos nas margens de rios e riachos respondem à quantidade de água presente no solo. A pulsação da água nos habitats ripícolas é muito mais aleatória e menos previsível do que nos rios, uma vez que a maior parte da variação do nível da água nos habitats ripícolas provém da precipitação que cai diretamente sobre estes habitats. Os compartimentos terrestres e aquáticos na Amazônia de terra firme estão intimamente relacionados e as alterações num deles podem ter consequências enormes no outro. Por exemplo, foi demonstrado que a degradação das matas ciliares pode levar à redução do número de espécies aquáticas.
Nas terras mais altas da Amazônia, que não são diretamente afetadas pelas cheias dos grandes rios, a água também rege a biodiversidade. Estas áreas úmidas, que cobrem cerca de 1 milhão de km2, contêm uma rede densa e interligada de pequenos cursos de água, que são formados e mantidos por água subterrânea. É destes pequenos cursos de água que provém, de fato, a maior parte da água dos grandes rios.
A água controla a biodiversidade da Amazônia
Desde rios voadores sob a forma de nuvens, passando pela precipitação e pelo fluxo de água das terras altas para as terras baixas, a água é um fator importante que afeta a biodiversidade na Amazônia. As espécies da Amazônia desenvolveram muitas formas de viver ou interagir com a água, o que levou a um elevado número de espécies em cada área. Além disso, a maioria das populações humanas da Amazônia vive perto dos seus rios e está habituada ao ritmo pulsante desses rios. As florestas amazônicas, a nível local, afetam a qualidade e a distribuição da água e, a nível mais global, podem afetar a estabilidade do clima. A água tem controlado o ecossistema desta área durante muitos anos criando diferentes habitats que resultam em uma enorme biodiversidade.
Declaração de conflito de interesses
Os autores declaram que a pesquisa foi conduzida na ausência de qualquer relação comercial ou financeira que poderia constituir um potencial conflito de interesses.
Colaboração:
Priscilla Elias Ferreira da Silva sobre a autora
Licenciada em Ciências Biológicas, Mestra em Ciências (Clínica das Doenças Infecciosas e Parasitárias). Doutora em Ciências (Parasitologia e Imunologia Aplicadas) pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Infectologia da UFTM. Faz pesquisas na área da Leishmaniose Visceral (LV) com ênfase em estudos envolvendo flebotomíneos.
Artigo Original:
O texto apresentado é uma adaptação do artigo “Water Controls Amazonian Biodiversity”, publicado pela revista Frontiers For Young Minds em 10 de setembro de 2018, de autoria de Mortati, A. F., André, T. O artigo original pode ser acessado
(Editoração: Nathália A. Khaled)