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Estímulo elétrico pode melhorar a função mental humana

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque no jornalismo da semana)

Um estudo piloto demonstrou que estímulos elétricos podem melhorar funções cerebrais e o método pode ser uma nova abordagem no tratamento de doenças mentais

Um estudo realizado em humanos no Massachusetts General Hospital, em Boston, avaliou o desempenho de funções cognitivas de 12 pacientes submetidos à cirurgia cerebral para o tratamento de epilepsia. A avaliação foi feita através de um método que consiste em colocar centenas de minúsculos eletrodos em todo o cérebro a fim de registrar sua atividade e identificar a origem das convulsões. As funções cognitivas envolvem, por exemplo, a percepção, a atenção, a memória, a linguagem e as funções executivas. Os pesquisadores perceberam que essas funções eram melhoradas após pequenos estímulos elétricos direcionados.

estímulos mente
Estímulos elétricos direcionados melhoram funções cognitivas relacionadas ao autocontrole e flexibilidade mental. Fonte: Wikimedia

Doenças mentais como depressão e ansiedade causam déficits cognitivos. Por exemplo, o processo de mudança de um padrão de pensamento ou comportamento para outro é prejudicado nessas circunstâncias, onde os pacientes muitas vezes são incapazes de se desvencilhar do comportamento habitual direcionado ao sofrimento. Os principais aspectos de controle cognitivo são facilmente mensuráveis, usando exercícios de conflito cognitivos. Tempos de resposta mais lentos nessas tarefas refletem uma dificuldade de exercer controle para superar o conflito de resposta. De acordo com o estudo, foi possível identificar que o estímulo elétrico da cápsula interna ou corpo estriado levou a uma melhora do desempenho cognitivo dos pacientes. Essas estruturas se relacionam tanto com funções motoras e sensoriais, como com funções cognitivas. Assim, os pesquisadores desenvolveram algoritmos de inteligência artificial para que, após a estimulação, eles pudessem rastrear as habilidades de controle cognitivo dos pacientes, tanto a partir de suas ações quanto diretamente de sua atividade cerebral. 

O trabalho teve como autor principal o Dr. Alik Widge, professor assistente de psiquiatria e membro da Equipe de Descoberta Médica sobre Dependência da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, e foi realizado em colaboração com o Dr. Sydney Cash, do Massachusetts General Hospital, especialista em pesquisa em epilepsia, e com o Me. Darin Dougherty, especialista em estimulação cerebral clínica. O estudo foi publicado na revista Nature Biomedical Engineering. Widge explica que esse sistema desenvolvido pode ler a atividade cerebral, “decodificar” quando o paciente está tendo dificuldade e aplicar uma pequena explosão de estímulos elétricos no cérebro para ajudá-lo a superar essa dificuldade. Dessa forma, combinando inteligência artificial (IA) com estimulação elétrica cerebral direcionada, foi possível melhorar funções cerebrais específicas relacionadas ao autocontrole e flexibilidade mental, aumentando o controle cognitivo dos participantes durante uma situação de conflito. Além disso, alguns pacientes que apresentavam ansiedade relataram que esse distúrbio também melhorou após os estímulos elétricos, uma vez que foram mais eficientes ao desviar seus pensamentos de angústia e se concentrar no que queriam. 

Esse estudo se destaca por ser o primeiro a melhorar uma função mental ligada a uma desordem de forma confiável, através de estímulos específicos promovendo uma melhoria cognitiva. Além disso, o uso de IA para realizar estímulos elétricos de acordo com a percepção das dificuldades cognitivas dos pacientes foi duas vezes mais eficiente que promover estímulos em momentos aleatórios. Sendo assim, Widge sugere o uso desse método para tratamento de doenças como depressão e ansiedade severa e resistente à medicamentos. Ele adiciona que esta abordagem pode dar aos pacientes uma ferramenta que irá permitir que eles assumam o controle de suas próprias mentes ao invés de suprimir os sintomas e os déficits decorrentes de seus distúrbios.

Os dados deste estudo sugerem que essa abordagem pode tratar distúrbios mentais como ansiedade e depressão ao invés de apenas suprimir os sintomas derivados dessas desordens. Fonte: Pixabay

A agência de controle americana Food and Drug Administration (FDA), responsável pela proteção e promoção da saúde pública, já aprovou a meta para melhorar o controle cognitivo e o próximo passo é a condução de testes clínicos. Sendo assim, Widge diz que esta pesquisa pode chegar à prática médica atual de forma rápida, uma vez que a metodologia seja aprovada pela agência, visto que o procedimento pode ser realizado com ferramentas e dispositivos existentes.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB e faz mestrado em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico intitulado “Closed-loop enhancement and neural decoding of cognitive control in humans”, publicado na revista Nature Biomedical Engineering em 2021, de autoria de Basu e colaboradores. https://www.nature.com/articles/s41551-021-00804-y

Matéria no site Science Daily, intitulada “Researchers boost human mental function with brain stimulation”, publicado em 01/11/2021. https://www.sciencedaily.com/releases/2021/11/211101141757.htm

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