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Como o cérebro regula as emoções?

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Novo estudo identifica múltiplos sistemas de regulação emocional, fornecendo alvos para terapia

Você já quis gritar durante um dia particularmente ruim, mas conseguiu se segurar? Agradeça ao seu cérebro e à forma como ele regula as suas emoções, o que pode ser fundamental para navegar na vida cotidiana. À medida que percebemos os acontecimentos que se desenrolam à nossa volta, a capacidade de ser flexível e reformular uma situação tem impacto não só na forma como nos sentimos, mas também no nosso comportamento e na tomada de decisões. Na verdade, vários dos problemas associados à saúde mental estão relacionados com a incapacidade dos indivíduos de serem flexíveis, como quando pensamentos negativos persistentes tornam difícil perceber uma situação de forma diferente.

Para ajudar a resolver estas questões, um novo estudo liderado na Universidade de Dartmouth está entre os primeiros a separar a atividade relacionada à geração de emoções da regulação de emoções no cérebro humano. As descobertas fornecem novos indícios que podem ajudar a informar tratamentos terapêuticos relacionados à saúde mental e à dependência química. As descobertas foram publicadas na revista Nature Neuroscience.

Segundo os pesquisadores, os resultados fornecem uma nova visão sobre como funciona a regulação emocional, identificando alvos que poderiam ter aplicações clínicas. Por exemplo, os sistemas que os cientistas identificaram poderiam ser bons alvos para a estimulação cerebral para melhorar a regulação da emoção.

Usando métodos computacionais, os pesquisadores examinaram dois conjuntos de dados de fMRI (Ressonância Magnética Funcional – uma técnica de neuroimagem utilizada para estudar as reações cerebrais humanas enquanto a pessoa realiza alguma atividade) independentes, que foram obtidos anteriormente pelo coautor do presente estudo, Peter Gianaros, da Universidade de Pittsburgh. A atividade cerebral dos participantes foi registrada em um scanner de ressonância magnética funcional enquanto eles visualizavam imagens que provavelmente provocariam uma reação negativa, como uma cena sangrenta ou animais de aparência assustadora.

Os participantes foram então solicitados a recontextualizar o estímulo, gerando novos tipos de pensamentos sobre uma imagem para torná-la menos aversiva, antes que uma imagem neutra fosse apresentada seguida por outra imagem desagradável.

Ao examinar a atividade neural, os pesquisadores puderam identificar as áreas do cérebro que são mais ativas quando as emoções são reguladas do que quando as emoções são geradas. Dessa forma, o novo estudo revelou que a regulação emocional, também conhecida na neurociência como “reavaliação”, envolve áreas específicas do córtex pré-frontal anterior e outras hierarquias corticais de nível superior cujo papel na regulação emocional não tinha sido previamente isolado com este nível de precisão. Estas regiões também estão envolvidas em outras funções cognitivas de alto nível e são importantes para o pensamento abstrato e representações do futuro a longo prazo.

Quanto mais as pessoas forem capazes de ativar essas regiões cerebrais seletivas para a regulação emocional, mais resilientes serão para experimentar algo negativo sem deixar que isso as afete pessoalmente. Estas descobertas baseiam-se também em outras pesquisas que ligam estas áreas a uma melhor saúde mental e à capacidade de resistir às tentações e evitar a dependência de drogas, por exemplo.

Os resultados também demonstraram que a amígdala, que é conhecida como a região cerebral relacionada à ameaça, responsável pelas emoções negativas e há muito considerada um antigo centro de ameaça subcortical, responde a experiências aversivas da mesma maneira, quer as pessoas usem seus pensamentos para autorregular negativamente a emoção negativa ou não.

Os pesquisadores também estavam interessados em identificar os produtos neuroquímicos que interagem com os sistemas de regulação emocional. Neurotransmissores como a dopamina e a serotonina moldam a forma como as redes de neurônios se comunicam e são alvos tanto de drogas ilícitas quanto de tratamentos terapêuticos. Alguns neurotransmissores podem ser importantes para permitir a capacidade de autorregulação ou “regulação negativa”. A equipe comparou os mapas cerebrais de regulação emocional dos dois conjuntos de dados com mapas de ligação de neurotransmissores de 36 outros estudos e viram que os sistemas envolvidos na regulação das emoções negativas coincidiam com sistemas neurotransmissores específicos.

“Nossos resultados mostraram que os receptores para canabinóides, opioides e serotonina, incluindo 5H2A, eram especialmente ricos em áreas envolvidas na regulação emocional”, diz o autor sênior Tor Wager, Professor de Neurociências e diretor do Centro de Imagens Cerebrais em Dartmouth. “Quando os medicamentos que se ligam a estes receptores são tomados, afetam preferencialmente o sistema de regulação emocional, o que levanta questões sobre o seu potencial para efeitos a longo prazo na nossa capacidade de auto-regulação”.

As descobertas do estudo sugerem que os efeitos dos medicamentos sobre a depressão, incluindo drogas psicodélicas, e outros distúrbios de saúde mental podem funcionar, em parte, alterando a forma como pensamos sobre os acontecimentos da vida e a nossa capacidade de auto-regulação. Isto pode ajudar a explicar porque é que as drogas, especialmente as psicodélicas, são susceptíveis de ser ineficazes sem o tipo certo de apoio psicológico.

O estudo poderia ajudar a melhorar as abordagens terapêuticas, aumentando a nossa compreensão de porquê e como as abordagens psicológicas e farmacêuticas precisam ser combinadas em tratamentos integrados. “É importante considerar estes tipos de conexões que vêm da ciência básica”, diz Wager. “Compreender os efeitos das drogas requer compreender os sistemas cerebrais envolvidos e o que eles estão fazendo no nível cognitivo”.

 

Colaboração:

Jéssica de Moura Soares sobre a autora

Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Science Daily, intitulada “Researchers map how the brain regulates emotions”, publicada em 03/04/2024. https://www.sciencedaily.com/releases/2024/04/240403170916.htm

 

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