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A genética do suicídio - Ilha do Conhecimento
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A genética do suicídio

#Ciência et al. (Especiais temáticos repletos de informações científicas)

O comportamento suicida é hereditário, mas ainda sabemos pouco sobre isso.

Destaques
– É preciso rompermos com a relutância em falar sobre suicídio, já que não existe conscientização sem informação.
– O suicídio é uma das maiores causas de morte ao redor do mundo, principalmente entre jovens;
– O comportamento suicida é hereditário: quem tem um familiar suicida apresenta riscos maiores de cogitar ou cometer um suicídio;
– O entendimento da genética do suicídio pode auxiliar na atenção precoce à saúde mental.

Apesar dos esforços constantes dos profissionais de saúde mental, as taxas de suicídio ao redor do mundo continuam crescendo. Nos Estados Unidos, o suicídio já é a décima causa de morte, e um número cada vez mais preocupante de jovens adultos e adolescentes tem se tornado vítima desse transtorno. É assustador constatar que, no ano de 2016, o suicídio foi a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos ao redor do mundo. Nesse triste cenário, o Brasil figura como o 8° país com o maior número de suicídios. Iniciativas como a criação da campanha Setembro Amarelo para a conscientização sobre o tema e a divulgação do Centro de Valorização da Vida (CVV) são excelentes formas de alcançar a população, mas os profissionais de saúde mental deveriam se atentar mais ao fator genético do suicídio.

A primeira evidência de que o comportamento suicida possui um fator genético foi a observação de que familiares de suicidas tinham uma chance maior de ter o mesmo comportamento, sempre comparando com indivíduos sem esse histórico familiar. Muitas vezes, os casos de suicídio estão associados com o diagnóstico de transtornos de humor – depressão e bipolaridade – ou algum outro transtorno neuropsiquiátrico, que também são hereditários. Apesar disso, nem sempre o risco aumentado de suicídio, evidenciado por um familiar suicida, é acompanhado por um histórico de transtorno psiquiátrico.

Desse modo, podemos chegar a duas conclusões. A primeira é que existe um risco aumentado dos familiares de suicidas apresentarem também o comportamento suicida; e a segunda é que os transtornos psiquiátricos mais graves, como o transtorno bipolar, a depressão maior, a esquizofrenia e o abuso de substâncias também são hereditários e aumentam o risco de suicídio. É importante ressaltar que isso não é uma sentença: o comportamento suicida ou os transtornos não são inevitáveis só porque existe um histórico familiar psiquiátrico agravante. Então, qual a importância de saber que o suicídio é um comportamento hereditário? Para que estudar sua genética?

Existem múltiplos sinais aos quais podemos estar atentos de que um indivíduo cogita o suicídio, e a importância de saber desse histórico reside na atenção que se deve prestar a familiares de suicidas. Ou seja, sabendo-se do risco aumentado, o paciente deve ser tratado ao primeiro sinal de transtorno psiquiátrico. Em casos extremos, a Associação Brasileira de Psiquiatria recomenda a atenção aos devidos sinais: presença de transtornos mentais; tentativa prévia de suicídio; comentários ou pensamentos suicidas (“preferia não ter nascido”, por exemplo); eventos traumáticos recentes, como a morte de parentes ou separações; organização de detalhes ou despedidas; impulsividade; entre outros. Acesse o site do Setembro Amarelo para mais informações: https://www.setembroamarelo.com.

A tentativa de estudar a genética do suicídio visa identificar, de forma precoce, os indivíduos com predisposição ao comportamento suicida ou a transtornos mentais. Atualmente, existe uma lista extensa de genes associados ao suicídio, mas ainda estamos engatinhando na busca de associações fortes e na determinação de genes realmente decisivos para o comportamento suicida, principalmente porque a genética é apenas um dos fatores envolvidos na sua origem. A esperança é que consigamos diagnosticar, com testes precoces, a predisposição ou risco de suicídio e, com essa informação, aconselhar melhor sobre as diversas formas de intervenção na área da saúde mental, como encaminhar a psicoterapeutas e psiquiatras.

Neste Setembro Amarelo, aproveite para se informar, saber como identificar sinais e não deixe de buscar ajuda.

suicídio
Imagem: Joey Guidone, na revista Medicinsk Vetenskap, n. 3/2020.

Colaboração:

Victor Hugo Calegari de Toledo sobre o autor            

Cientista biomédico, é aluno de pós-graduação (mestrado) pelo programa de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), atualmente orientado pelo Profa. Dra. Helena Brentani (FMUSP). Trabalha com genética psiquiátrica, diferenças sexuais no desenvolvimento do cérebro e bioinformática.

Fontes consultadas:

– Artigo científico intitulado “Genome-wide significant regions in 43 Utah high-risk families implicate multiple genes involved in risk for completed suicide”, publicado na Revista Molecular Psychiatry em 2020, de autoria de Coon, H. e colaboradores.

– Artigo científico intitulado “Exploring Comorbidity Within Mental Disorders Among a Danish National Population”, publicado na Revista JAMA Psychiatry em 2019, de autoria de Plana-Ripoll, O. e colaboradores.

– Livro “The Neurobiological Basis of Suicide”, de autoria de Zai, C. e colaboradores, publicado pela editora CRC Press: Taylor & Francis em 2012.

– Site do projeto de prevenção ao suicídio da Organização Pan-Americana de Saúde (https://www.paho.org/pt/topicos/suicidio).

(Editoração: Beatriz Spinelli, Eduardo Borges e Fernando Mecca)

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