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O exercício físico pode mudar o seu DNA?

O ambiente e as nossas ações podem interagir com o nosso DNA, de acordo com a epigenética

Destaques:
– Alterações epigenéticas não conseguem modificar a sequência do nosso DNA, mas podem ativar e inativar determinados genes;
– Essas alterações podem ser benéficas ou não, dependendo dos genes atingidos por elas;
– Nossa interação com o ambiente, como a prática de exercícios físicos, dita como e quais genes são afetados epigeneticamente.

Antes de iniciarmos, é preciso deixar claro que o exercício físico não consegue alterar a sequência do nosso DNA, ou seja, o nosso código genético, mas já é consensual que os genes não são os únicos responsáveis por passar as características hereditárias e biológicas de uma geração para a próxima. A epigenética ganhou grande destaque na comunidade científica por um conjunto de mecanismos complementares ao funcionamento dos genes. Um destes mecanismos é o da metilação do DNA, isto é, a adição de um grupo metil na posição 5′ (cinco-linha) da citosina, geralmente em regiões chamadas de ilhas de CpG.  A metilação do DNA pode ser desencadeada por fatores ambientais, tais como nossa alimentação ou nossos hábitos. Então, os exercícios físicos podem mudar o nosso DNA? A resposta é sim! Por meio da epigenética, ainda que a sequência do DNA não mude, o exercício pode levar à metilação de alguns genes, regulando sua atividade.

Há inúmeros benefícios em praticar o exercício físico ou atividade física, como aumento da massa muscular, melhora no condicionamento físico entre outros, mas você já parou para imaginar quais seriam esses benefícios quando relacionados a sua genética? A literatura científica apresenta que o exercício físico realizado de forma aguda ou crônica pode influenciar de maneira positiva a expressão gênica, através de mecanismos epigenéticos.

Nos últimos anos, começaram-se a investigar quais seriam as influências ao nível molecular da prática de exercícios físicos, desvendando que uma prática regular de forma aguda é suficiente para proporcionar o processo de hipometilação (redução da metilação) em genes relacionados ao músculo esquelético, devido a uma mudança na dinâmica de metilação do DNA. Os achados da literatura também justificam que a hipometilação do DNA se destaca como um evento precoce dos genes induzidos por contração no momento do exercício agudo. Então, sempre que sobrar um tempo – uns 30 minutos no dia – se exercite e imagine os inúmeros benefícios que o processo de metilação pode proporcionar para os seus genes. 

Se o exercício agudo já é suficiente para proporcionar diferenças no processo de metilação quais são os verdadeiros benefícios do exercício crônico?

A prática crônica de exercícios físicos pode proteger contra diabetes e melhorar o sistema imunológico, como mostrou um estudo que investigou os benefícios do treinamento de força em jovens do sexo masculino durante 8 semanas, com prática 3 vezes na semana, e, como era de se imaginar, o exercício trouxe aumento de força. Interessantemente, além disso, o estudo mostra que ocorreu o processo de metilação do DNA em várias regiões, destacando os genes relacionados à diabetes e às vias imunológicas. Além desses resultados, houve também uma metilação diferenciada e diferenças de expressões do mRNA em genes relacionados ao fator de crescimento GHRH e FGF1

Algumas pessoas, por afinidades, optam por realizar exercícios aeróbios e estes estão entre os exercícios mais estudados em diferentes populações e idades, quando o assunto é a epigenética. Um estudo buscou investigar as alterações epigenéticas do exercício cardiorrespiratório quando relacionado à pressão arterial (PA) e, como conclusão, apresentou que a metilação do DNA também tem um papel na redução da PA dos participantes de diferentes idades. Os autores adotaram 12 semanas de treinamento com prática semanal de 4 vezes e duração de 40 minutos.

Como era esperado, o exercício aeróbio apresentou diversos benefícios físicos e bioquímicos, reduzindo os níveis de colesterol LDL e a pressão arterial, por exemplo. No sentindo biomolecular, os níveis apresentados de metilação demonstraram associações benéficas com os valores da PA dos participantes, de forma que os autores vincularam o mecanismo de metilação com o treinamento físico e as inúmeras alterações do desempenho cardiovascular.

A relação dos exercícios físicos com a epigenética ainda necessita de mais investigações, pois se trata de um novo campo da ciência que está conquistando espaço em grupos de pesquisa e revistas científicas. O importante é saber que sim, nós possuímos a liberdade de escolher hábitos de vida quais interações faremos com o ambiente e, dessa forma, guiar quais marcas epigenéticas vamos proporcionar ao nosso DNA. Assim, mais estudos sobre epigenética podem revelar impactos dos nossos hábitos que ainda não conhecemos, permitindo que façamos escolhas com sabedoria e sempre com o pensamento na sua vida ao longo prazo.

Colaboração: Guilherme da Silva Rodrigues sobre o autor

Fontes consultadas:

– Artigo científico intitulado “Acute exercise remodels promoter methylation in human skeletal muscle”, publicado na revista Cell Metabolism em 2012, de autoria de Barres, R. e colaboradores;

– Artigo científico intitulado “Epigenetic changes in leukocytes after 8 weeks of resistance exercise training”, publicado na revista European journal of applied physiology em 2016, de autoria de Denham, J. e colaboradores;

– Artigo científico intitulado “Exercise training alters the genomic response to acute exercise in human adipose tissue”, publicado na revista Epigenomics em 2018, de autoria de Fabre, O. e colaboradores;

– Artigo científico intitulado “Effects of Physical Exercise on Endothelial Function and DNA Methylation”, publicado na revista International journal of environmental research and public health em 2019, de autoria de Ferrari, L. e colaboradores.

(Editoração: Beatriz Spinelli, Fernando Mecca, Carolina Verruma e Caio Oliveira)

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