A erradicação da fome é um dos maiores desafios atuais da humanidade. Crianças que enfrentaram a fome, mesmo que futuramente sejam bem alimentadas, ainda sofrem com os efeitos tardios da inanição, que comprometem seu crescimento, desenvolvimento do cérebro e aumentam sua susceptibilidade a doenças. Entretanto, surge uma nova esperança para reverter os efeitos fisiológicos da má nutrição infantil: a reposição da microbiota intestinal. Primeiramente, cientistas tiveram que identificar quais tipos de bactérias são presentes no intestino durante o desenvolvimento de recém-nascidos saudáveis. Utilizando a flora intestinal saudável como parâmetro, foi então possível qualificar o estado da microbiota em crianças sujeitas à má nutrição severa. Foi então realizado um tratamento de nove semanas com crianças mal nutridas de Bangladesh, que receberam intervenções terapêuticas ou à base convencional de alimentos, ou complementada por bactérias selecionadas. A análise das fezes demonstrou que ao fim do tratamento com bactérias intestinais, crianças mal nutridas apresentaram sinais de recuperação mais evidentes do que aquelas tratadas somente com alimentação convencional, e sua microbiota passou a se assemelhar bastante com a de crianças saudáveis. Embora o período de análise seja muito precoce para acessar a recuperação física em longo prazo, o tratamento de microbiota proporcionou mudanças moleculares significantes no sangue das crianças que indicam melhoras na saúde, como a presença de proteínas que contribuem para o crescimento ósseo e desenvolvimento do sistema nervoso e imunológico. Os pesquisadores também alimentaram leitões recém-nascidos com o suplemento bacteriano, e detectaram que o tratamento não somente contribuiu para maturar a microbiota intestinal dos animais, como também favoreceu no crescimento. O trabalho contribui com uma nova e promissora maneira de melhorar a nutrição de crianças e melhorar sua qualidade de vida quando adultos.
Tweet-science: Priscila S. Rothier
Artigo original: Revista Science (Jul/2019) # A sparse covarying unit that describes healthy and impaired human gut microbiota development. Autores: A. S. Raman, J. L. Gehrig e colaboradores.
(Editoração: Fernando Mecca, André Pessoni e Caio Oliveira)