O produto é o primeiro canabidiol desenvolvido no Brasil e não está vinculado a uma indicação clínica pré-definida.
No último fim de semana (10), farmácias de todo o país receberam o primeiro extrato de canabidiol com desenvolvimento nacional. O produto é uma mistura de canabidiol (CBD) e óleo de milho e foi desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), em parceria com o laboratório paranaense Prati-Donaduzzi.
O canabidiol é um composto encontrado em plantas de maconha (Cannabis sativa) com ação sobre o cérebro e outros componentes do sistema nervoso central. Suas aplicações na medicina já são estudadas há décadas no Brasil e em outros países, com efeitos positivos no tratamento de esclerose múltipla, doença de Parkinson, epilepsia, ansiedade, esquizofrenia e outros distúrbios.
Extrato de canabidiol. Imagem: Shutterstock
A maconha também apresenta a substância tetra-hidrocanabinol (THC), que é responsável pelos efeitos derivados do consumo da planta. A fórmula do extrato desenvolvido pela USP não inclui o THC, mas esse composto também tem efeitos terapêuticos e faz parte do Mevatyl, único canabidiol disponível no mercado brasileiro antes do novo extrato ser disponibilizado. O Mevatyl é produzido pela empresa GW Pharma e tem comercialização restrita ao tratamento de contrações musculares involuntárias decorrentes de esclerose múltipla.
É justamente na restrição de indicação que reside outra diferença entre o extrato desenvolvido na USP e o Mevatyl. O extrato é classificado como um fitofármaco (de origem vegetal) e pode ser indicado para diferentes finalidades, a critério da equipe médica e dos pacientes. As condições básicas para indicação são evidências de que o canabidiol pode ser benéfico para o caso do paciente e que seu uso ocorra após o fracasso de todas as alternativas tradicionais de tratamento. A venda do produto segue as mesmas normas do comércio de substâncias que atuam sobre o sistema nervoso central, como antidepressivos, sendo necessária a apresentação de receituário tipo B (cor azul).
Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) retirou o canabidiol da lista de substâncias proibidas no país. A mudança de classificação de substância proibida para controlada foi feita com base em evidências científicas de que o canabidiol tem potencial terapêutico e não causa dependência se usado de forma isolada. Apesar disso, o plantio de maconha ainda é ilegal no Brasil e os pesquisadores precisaram importar plantas da Europa para produzir o extrato.
News: Luanne Caires
Fontes:
Canabidiol desenvolvido na USP chega às farmácias (Jornal da USP)
https://jornal.usp.br/ciencias/canabidiol-desenvolvido-na-usp-chega-as-farmacias/
(Editoração: André Pessoni)