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Cientistas reportam pela primeira vez a ausência de microrganismos no solo em geleira na Antártica

Solos aparentemente sem vida ressaltam os desafios de explicar os resultados negativos na ciência.

 

Cientistas se surpreenderam ao ver que amostras de solo coletadas na Antártica não continham microrganismos. O ecologista Noah Fierer e seus colegas relataram no June Journal of Geophysical Research: Biogeosciences o fato, que para o conhecimento deles, esta é a primeira vez que cientistas encontraram solos que não parecem suportar qualquer tipo de vida microbiana.

Já é bem conhecido que, mesmo nos ambientes mais adversos, os micróbios sempre parecem sobreviver. Eles já foram encontrados nos mais extremos lugares, desde fontes hidrotermais do fundo do mar, com temperaturas altíssimas, até no alto do Monte Everest. Células microbianas já foram encontradas até mesmo agarradas ao casco da Estação Espacial Internacional. Por isso, não havia nenhuma razão para a equipe de Fierer esperar que estas 204 amostras de solo, coletadas perto da geleira Shackleton na Antártica, fossem diferentes.

 

Geleira Shackleton. Foto: Chris Larsen / UAF / NASA.

 

Tipicamente, uma colher de solo pode facilmente conter bilhões de microrganismos, e os solos da Antártica de outras regiões geladas geralmente hospedam pelo menos alguns milhares por grama. Portanto, era esperado que todas as amostras conteriam pelo menos um pouco de vida, mesmo o ar ao redor da geleira sendo muito frio e árido. No entanto, surpreendentemente, alguns dos solos mais frios e secos não pareciam ser habitados por microrganismos. Os resultados sugerem que condições extremamente frias e áridas podem ser um limite rígido na habitabilidade microbiana. 

Além disso, também foram levantadas questões sobre como os resultados científicos negativos devem ser interpretados. Isso porque provar um resultado negativo é bastante difícil. Nenhuma medição é perfeitamente sensível, portanto sempre há a possibilidade de que um experimento bem executado não consiga detectar algo que, de fato, está lá. Assim, foram anos de experimentos baseados em vários métodos independentes antes que Fierer, da University of Colorado Boulder e seu colaborador Nick Dragone, finalmente se sentissem confiantes o suficiente para anunciar que haviam encontrado solos aparentemente livres de microrganismos. Ainda assim, os cientistas declararam intencionalmente apenas que não foram capazes de detectar vida em suas amostras, não que os solos fossem naturalmente estéreis.

De toda forma, suas evidências são seguras para sugerir que que o frio e a aridez representam um sério desafio à vida, ainda que houvesse alguns microrganismos não detectados no solo. “É a combinação de várias condições ambientais muito desafiadoras que restringe a vida, mais do que apenas uma agindo por si só”, diz Dragone. “É um tipo de restrição muito diferente do que, digamos, apenas alta temperatura.”

Correlacionando com os cientistas que procuram evidências de vida fora da Terra, eles inevitavelmente serão forçados a andar na linha tênue entre a evidência de ausência e a ausência de evidência. “O desafio volta a esse tipo de questão filosófica, como você prova uma negativa?” Fierer diz. Porém, de modo geral, o que se tenta fazer em outros planetas, como em Marte, é oposto do que fazem os cientistas na Terra. Na Terra, alegar que um ambiente não tem vida é um desafio científico difícil.

 

News: Jéssica Soares

sobre a autora

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Science News, intitulada “Missing Antarctic microbes raise thorny questions about the search for aliens”, publicada em 20/07/2021.
https://www.sciencenews.org/article/antarctica-microbes-habitability-aliens-extraterrestrial

 

(Editoração: André Pessoni)

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