#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque no jornalismo da semana)
Foi identificado que dois circuitos cerebrais influenciam o sucesso da perda de peso em pessoas obesas.
Em abril deste ano foi publicado um estudo que demonstrou a relação entre duas redes funcionais (FNs, do inglês “functional networks”), FN1 e FN2, e a perda de peso em idosos obesos após seis meses de uma intervenção baseada em comportamento. O líder da pesquisa é o professor de radiologia Dr. Jonathan Burdette, da Wake Forest University School of Medicine e foi publicado em abril na revista Obesity.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são obesas. Destas, 650 milhões são adultos, 340 milhões são adolescentes e 39 milhões são crianças. A OMS estima que, até 2025, aproximadamente 167 milhões de pessoas (entre adultos e crianças) ficarão menos saudáveis por estarem acima do peso ou obesas. Sendo assim, a obesidade é um problema de saúde mundial que deve ser tratado.
A literatura científica já discute que a obesidade traz problemas de saúde para pessoas idosas. Com base nisso, os autores trabalharam com 71 idosos com obesidade que foram recrutados a partir de um estudo de recuperação de peso. Além disso, uma pesquisa de 2018 realizada pelo mesmo pesquisador que liderou a atual descoberta, identificou FN1 e FN2 como circuitos envolvidos na perda de peso bem-sucedida. Diante disso, este estudo teve como objetivo determinar se o grau de perda de peso após 6 meses de uma intervenção baseada em comportamento estava relacionado à conectividade de FN1 e FN2 neste grupo.
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Para investigar essa hipótese, os pesquisadores realizaram um estudo clínico randomizado e avaliaram dados de ressonância magnética funcional desses circuitos após um jejum noturno no grupo de idosos. Redes cerebrais funcionais em repouso e durante uma tarefa de estímulo alimentar foram analisadas para examinar as relações entre as redes e a mudança de peso durante 6 meses.
Os pesquisadores observaram que durante o repouso a relação da função cerebral em FN1, que envolve habilidades sensoriais e motoras, foi significativamente associada à perda de peso em seis meses. Já em relação ao estado de estímulo alimentar, a perda de peso foi significativamente associada ao FN2, que está envolvido com o sistema límbico (que é responsável por respostas emocionais) e na capacidade de focar a atenção.
Com base nisso, os autores destacam a importância dos seus resultados e sua implicação em práticas clínicas. Eles destacam que existem dois vieses distintos da rede cerebral relacionados ao grau de sucesso com a perda de peso: dentro do estado de repouso, há um viés motivacional sensório-motor (atividades de movimentação e percepção por meio dos órgãos sensoriais) para buscar comida, enquanto ao processar os sinais alimentares, há um déficit no controle executivo (processos que apoiam muitas atividades diárias, incluindo o planejamento, o raciocínio flexível, a atenção concentrada e a inibição comportamental) e na rede de atenção.
Em entrevista, Burdette destaca a importância de seus resultados. “Essas descobertas mostram que as propriedades da rede cerebral de pessoas que tiveram menos sucesso na perda de peso foram diferentes das pessoas que tiveram mais sucesso”, disse Burdette. “Algumas pessoas têm um viés sensório-motor inconsciente mais forte para buscar comida, enquanto outras parecem ter menos. Em uma sociedade de abundância de alimentos com dicas de comida em todos os lugares, essa informação pode ajudar a explicar por que algumas pessoas têm tanta dificuldade em tirar o excesso de peso e manter isto.
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Esses dados permitem o desenvolvimento de intervenções mais individualizadas, que combatem diretamente esses vieses inconscientes da rede cerebral. Dentre elas, os autores destacam procedimentos como implementação combinada de treinamento baseado em mindfulness e pesagens diárias, juntamente com tratamento adaptativo e personalizado. O professor Burdette reforça que “os dados fornecem mais informações sobre circuitos funcionais complexos no cérebro e explica que também propiciaram uma compreensão mecanicista de por que as pessoas não estão perdendo peso. Em teoria, se você souber mais sobre impulsos e controle, seremos capazes de adaptar as terapias a um indivíduo em vez de tratar todos da mesma forma.”
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Artigo científico intitulado “Longitudinal relationship of baseline functional brain networks with intentional weight loss in older adults”, publicado na revista Obesity em 2022, de autoria de Burdette e colaboradores. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/oby.23396
Matéria no site Science Daily, intitulada “Brain networks can play role in weight-loss success”, publicada em 03/05/2022. https://www.sciencedaily.com/releases/2022/05/220503141329.htm
Matéria no site da Organização Mundial de Saúde (OMS), intitulada “Dia Mundial da Obesidade 2022: acelerar ação para acabar com a obesidade”, publicada em 20/04/2022. https://www.paho.org/pt/noticias/4-3-2022-dia-mundial-da-obesidade-2022-acelerar-acao-para-acabar-com-obesidade.