#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)
O estudo preenche uma lacuna taxonômica na fauna pseudosuchiana brasileira
Antes da ascensão dos dinossauros e dos pterossauros, os pseudosuchianos – répteis ancestrais dos crocodilos – dominavam os ecossistemas terrestres do período geológico Triássico. Esse período teve alguns dos episódios evolutivos mais notáveis da história da vida na Terra. Dentre estes episódios, houve o surgimento de grupos como o Gracilisuchidae, composto por espécies carnívoras de constituição leve e com menos de 1 metro de comprimento.
Antes do estudo, o registro de fósseis de gracilisuchídeos estava geograficamente restrito à China e Argentina. Dessa forma, a pesquisa mostra pela primeira vez a presença desses animais no Brasil, preenchendo uma lacuna da evolução da fauna brasileira. O artigo foi fruto do estudo de Rodrigo T. Müller da Universidade Federal de Santa Maria (Rio Grande do Sul) e foi publicado em junho de 2024 na revista Scientific Reports.
Para identificação do fóssil encontrado, foram feitas análises filogenéticas com o material. A filogenia é uma ciência que analisa a história evolutiva de uma espécie ou de um grupo de espécies. Essa história é inferida por meio da análise de características moleculares e morfológicas, e permite a compreensão de maneira mais clara das relações evolutivas entre diferentes espécies.
A descoberta do crânio de um animal pré-histórico levou a pesquisa a identificar esse réptil. Nomeado Parvosuchus aurelioi, o animal media aproximadamente um metro de comprimento e se destaca como um dos menores carnívoros de seu ecossistema. Em seguida, foi feita a reconstrução do esqueleto composto por crânio completo, vértebras, pelve e membros posteriores.
Apesar de seu tamanho modesto, o Parvosuchus aurelioi possuía dentes afiados e em forma de lâmina, indicando suas habilidades como caçador. Diferente de seus parentes maiores, que atacavam grandes herbívoros como os dicinodontes, o Parvosuchus provavelmente se alimentava de presas menores e se dedicava à caça e à procura de alimento.
Rodrigo Müller, autor do artigo, explica que, “embora os primeiros pseudosuchianos tenham recebido muito menos atenção do que os dinossauros na cultura pop, estes répteis desenvolveram um vasto espectro de formas antes do surgimento dos dinossauros […] Como o Parvosuchus vivia em ambientes dominados por predadores muito maiores, como o Prestosuchus chiniquensis, de sete metros de comprimento , podemos imaginar que ele tinha que ser um animal furtivo para caçar presas e, ao mesmo tempo, evitar predadores maiores que ele […] É um fóssil incrível que mostra que há muitos segredos da paleontologia brasileira ainda a serem desvendados.”
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências:
Artigo científico intitulado “A new small-sized predatory pseudosuchian archosaur from the Middle-Late Triassic of Southern Brazil”, publicado na revista Scientific Reports em 2024, de autoria de Muller. https://www.nature.com/articles/s41598-024-63313-3
Matéria no site SoCientifica, intitulada “Espécie de réptil predador ancestral dos crocodilos é encontrada no Brasil”, publicada em 23/06/2024. https://socientifica.com.br/especie-de-reptil-predador-ancestral-dos-crocodilos-e-encontrada-no-brasil/