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Cientistas produzem biogás a partir do bagaço de maçã

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Estudo feito por grupos da Unicamp e da UFABC mostra que a utilização da bioenergia evita a emissão de gases que causam o efeito estufa

Cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal do ABC (UFABC) utilizaram com sucesso bagaço de maçã como biomassa para produzir biogás. Eles conseguiram demonstrar que o bagaço pode ser valorizado utilizando a tecnologia de digestão anaeróbia, em um conceito biorrefinaria, sendo capaz de produzir o gás metano, produto que pode ser usado como bioenergia.

Biorrefinaria se refere, de forma geral, a uma instalação, industrial ou não, que, ao utilizar biomassa como insumo e ter seus processos e equipamentos altamente integrados, produz uma gama de produtos de maior valor agregado, como combustíveis, energia e químicos. Dessa forma, a pesquisa, publicada na revista Biomass Conversion and Biorefinery, contempla os objetivos da área de “economia circular”, cujos princípios são a redução de custos e o fechamento dos ciclos de produção de resíduos, consequentemente levando ao avanço da reutilização e reciclagem de bioenergia e biomateriais.

A matéria prima do trabalho, a maçã, está entre as frutas mais consumidas em todo o mundo, tanto in natura como processada em produtos como suco, vinagre e cidra. Mas, assim como em outras indústrias, os subprodutos gerados são geralmente descartados sem qualquer aplicação posterior. No conceito de biorrefinaria, o bagaço da maçã é considerado uma matéria-prima barata e atrativa que pode ser valorizada por diferentes rotas tecnológicas, como recuperação de açúcares fermentáveis, produção de etanol, compostos funcionais, fibras, aditivos alimentares, pectina, ácidos e enzima, além de apresentar um alto potencial para obtenção de energia renovável por meio da tecnologia de digestão anaeróbica.

biogás maçã
Esquema da utilização do bagaço de maçã na digestão anaeróbica, produzindo energia e ainda subprodutos que podem ser empregados na indústria de alimentos. Traduzido de: https://link.springer.com/article/10.1007/s13399-022-03534-6.

A biorrefinaria com tecnologia de digestão anaeróbia gera energia elétrica e térmica, reduz emissões de gases de efeito estufa e valoriza o resíduo, convertido em adubo orgânico. A digestão anaeróbia é um processo microbiológico que envolve consumo de nutrientes e produção de metano. No caso do processo desenvolvido no trabalho, a digestão anaeróbia do tipo seca (com concentração total de sólidos dentro do reator acima de 15%) é considerada um tratamento interessante para resíduos orgânicos sólidos e uma destinação final mais adequada ambientalmente quando comparada com aterros sanitários.

Além da produção de metano, o manejo do bagaço com a digestão anaeróbica pode levar à produção de ácidos graxos voláteis, que podem ser  separados e purificados e utilizados em diversas indústrias, incluindo farmacêutica, alimentícia e química. Assim, a tecnologia proposta no artigo permite a gestão de subprodutos agroalimentares em simultâneo com a produção de biogás.

Os resultados da biorrefinaria mostraram um rendimento de 36,61 litros (L) de metano por quilo de sólidos removidos, o que pode gerar 1,92 quilowatt-hora (kWh) de eletricidade e 8,63 megajoules (MJ) de calor por tonelada de bagaço de maçã. Isso significa que a bioenergia recuperada pela indústria poderia suprir 19,18% de eletricidade e 11,15% de calor nos gastos operacionais do reator. Isso é evidência de que os biocombustíveis e a bioeletricidade podem contribuir para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e a emissão de gases de efeito estufa procedentes dos resíduos orgânicos.

Além disso, o grupo de pesquisa constatou que a emissão evitada de gases de efeito estufa gerados pelo biogás representou 0,14 quilograma (kg) de dióxido de carbono (CO2) equivalente de eletricidade e 0,48 kg de CO2 equivalente de calor por tonelada de bagaço de maçã. Portanto, “a tecnologia de digestão anaeróbia é estável e pode ser implementada em indústrias de pequena e média escala, auxiliando na transição para a economia circular e oferecendo uma melhor destinação para os resíduos de frutas, o que é uma alternativa para a valorização de subprodutos, proporcionando ganhos para a cadeia produtiva”, diz Tânia Forster Carneiro, um das autoras do estudo.

 

Colaboração: Jéssica de Moura Soares sobre a autora

Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico de autoria de Carneiro, T. e demais colaboradores, intitulado “Valorization of apple pomace for biogas production: a leading anaerobic biorefinery approach for a circular bioeconomy“, publicado na revista Biomass Conversion and Biorefinery, em 14/11/2022. https://link.springer.com/article/10.1007/s13399-022-03534-6

Matéria no site Agência Fapesp ,intitulada “Biogás produzido com bagaço de maçã pode minimizar o uso de combustível fóssil na indústria”, publicada em 17/01/2023. https://agencia.fapesp.br/biogas-produzido-com-bagaco-de-maca-pode-minimizar-o-uso-de-combustivel-fossil-na-industria/40481/

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