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Estudo em cavalos indica causas genéticas da perda gestacional em humanos

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Pesquisa destaca a relevância dos cavalos como modelo para investigar abortos espontâneos e anomalias cromossômicas em gestações humanas

Uma pesquisa realizada pela Cornell Univeristy, em Nova York, realizou um estudo com cavalos – os quais compartilham muitas semelhanças importantes com os humanos em relação aos cromossomos e à gestação – que revelou que 42% dos abortos espontâneos nesses animais nos primeiros dois meses de gestação foram causados por complicações devido a um conjunto extra de cromossomos, uma condição chamada triploidia. Isso é uma novidade segundo os pesquisadores, pois, durante o período embrionário (até oito semanas após a concepção), a triploidia raramente havia sido relatada em mamíferos fora do contexto humano. O trabalho foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e oferece pistas sobre as causas da perda gestacional precoce em humanos.

cavalos gestação humanos
Imagem: news.cornell.edu

Segundo Mandi de Mestre, professora de medicina equina na Cornell Univeristy, “o estudo indica que, nas primeiras seis semanas de gestação, esta provavelmente será a principal causa de perda gestacional após a concepção natural.”

Abortos espontâneos ocorrem em 10 a 20% das gestações humanas, e são comumente associados a erros cromossômicos, mas, até agora, não existiam modelos animais adequados que replicassem as características dessa condição. Por isso, as novas descobertas ajudarão os veterinários a entender melhor as causas da perda gestacional em cavalos e identificam esses animais como um excelente modelo para o estudo dos abortos espontâneos humanos. “Pudemos estudar o impacto dos erros cromossômicos durante toda a gravidez nos cavalos,” disse de Mestre. “Descobrimos que a triploidia está associada apenas às perdas na gravidez inicial.”

No estudo, o laboratório de Mandi recebeu 256 amostras de fetos e placentas de veterinários que trataram cavalos com perda gestacional ao longo de 10 anos. Utilizando essas amostras, os pesquisadores investigaram a prevalência de diferentes tipos de erros no número de cópias dos cromossomos e sua associação à perda gestacional. Eles descobriram que erros cromossômicos ocorreram em 57,9% das perdas gestacionais até o dia 55 de gestação, em 57,2% das perdas entre os dias 56 e 110, e em apenas 1,4% das perdas entre os dias 111 e o final da gestação. 

cavalos gestação humanos
Desenvolvimento dos fetos de cavalo nos dias 10, 20,30, 65, 180 e 300, respectivamente. Fonte: clubedohipismo.com.br

A aneuploidia (perda ou ganho de um único cromossomo inteiro) foi principalmente associada aos abortos nas primeiras 10 semanas de gestação, enquanto deleções ou duplicações de apenas parte de um cromossomo foram encontradas em abortos após 110 dias. Esses dados se mostraram muito semelhantes aos observados em vários grandes estudos em mulheres, de acordo com o artigo.

Os cavalos são um bom modelo para estudar as gestações humanas porque têm um período de gestação semelhante (11 meses comparado a nove meses nas mulheres) e o embrião se desenvolve em um ritmo semelhante nas fases iniciais. Além disso, os cromossomos dos cavalos têm um conteúdo genético muito similar ao dos cromossomos humanos, o que os torna particularmente relevantes para o estudo dos erros cromossômicos.

As razões para a perda gestacional precoce em mulheres têm sido difíceis de determinar porque a maioria dos fetos durante esse período é perdida em casa, deixando os cientistas sem material — e dados — para estudar. Por isso, as descobertas do estudo fornecem pistas sobre a frequência de erros cromossômicos durante o período equivalente às primeiras seis semanas de gestação humana. Por outro lado, devido ao valor dos cavalos e ao apego emocional que seus donos têm por eles, os cavalos recebem um alto nível de cuidado, com acompanhamento rotineiro das gestações, o que fornece dados extensos para pesquisa. 

Em termos de saúde equina, o estudo também fornece novos detalhes sobre anomalias cromossômicas comuns que provavelmente mudarão o manejo clínico das gestações. Por exemplo, se um clínico determinar que um cavalo tem um erro cromossômico significativo, ele pode optar por não prolongar essa gestação administrando hormônios, uma prática comum em éguas prenhes.

O estudo também direcionará os pesquisadores para o desenvolvimento de novos testes diagnósticos para anomalias cromossômicas em fetos de cavalos, e para a investigação dos mecanismos moleculares que levam a essas anomalias.

 

Colaboração:

Jéssica de Moura Soares sobre a autora

Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Science Daily, intitulada “Horse miscarriages offer clues to causes of early human pregnancy loss”, publicada em 05/08/24. https://www.sciencedaily.com/releases/2024/08/240805164431.htm

 

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