#ESPECIAL DE FÉRIAS (Especiais temáticos sobre diferentes áreas da ciência)
As descobertas e notícias mais interessantes do ano que passou, resumidas para você!
| Mais um ano se completou, e com ele mais tantas novidades e descobertas no mundo da ciência. São tantas que é impossível acompanhar, e mesmo lendo as mais importantes, é difícil saber de antemão quais terão impacto ao longo do tempo. É pensando nisso que nós da Ilha do Conhecimento preparamos o melhor da ciência de 2022, um resumo do que aconteceu de mais interessante para a ciência de acordo com diversos sites de divulgação científica do mundo! |
Reconhecimento do emaranhamento quântico
O anúncio dos prêmios Nobel é sempre um evento importante para a ciência e, neste ano, o prêmio na categoria de Física foi bastante chamativo. Os cientistas Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger foram reconhecidos por seus diversos trabalhos que, em conjunto, comprovam e explicam o emaranhamento quântico (do inglês, quantum entanglement). A teoria que explica o emaranhamento foi postulada na primeira metade do século XX e é um ponto chave para a mecânica quântica. Trata-se de um fenômeno no qual alterações das características de uma partícula causam mudanças em outra partícula, instantaneamente, mesmo que elas estejam distantes uma da outra.
Os experimentos envolveram utilizar pares de fótons emaranhados, disparados para diferentes sentidos e passando por filtros polarizadores, isto é, que só permitem a passagem dessas partículas caso estejam vibrando em uma direção específica. Essas descobertas abrem possibilidades para novas e revolucionárias tecnologias na área de comunicação, criptografia e computação.
Inteligência artificial
A inteligência artificial tem ganhado cada vez mais espaço como uma ferramenta para as descobertas científicas, especialmente depois do estrondoso sucesso do AlphaFold, um programa capaz de prever a estrutura 3D de proteínas. Duas dessas novas ferramentas foram particularmente atrativas neste ano.
Cientistas do grupo de Yue Ma, da Academia Chinesa de Ciências, utilizaram uma inteligência artificial para procurar por novos antibióticos, baseados nos genomas de microrganismos da nossa flora intestinal. Como resultado, foram descritos mais de 2 mil possíveis candidatos, dos quais 216 foram sintetizados e 181 mostraram efeito antibiótico em laboratório. Esses são resultados muito promissores no combate a bactérias super-resistentes, especialmente porque muitos desses novos antibióticos são completamente diferentes daqueles que já conhecíamos.
Já o grupo de Mia Chiquier, da Universidade de Columbia, criou uma inteligência artificial que consegue predizer as próximas palavras de uma conversa, e em seguida fabricar um som capaz de camuflar o que está sendo dito. Desse modo, as pessoas conversando em uma sala conseguem se entender perfeitamente, mas programas de espionagem em seus celulares ou assistentes virtuais, por exemplo, não conseguem.
Telescópio Espacial James Webb
Em janeiro de 2022 o telescópio James Webb alcançou seu destino e, desde então, tem encantado astrônomos e leigos com suas incríveis fotografias. Mas, para além de imagens bonitas, o telescópio é uma importante ferramenta para o estudo de exoplanetas, galáxias distantes, e até mesmo para a compreensão das origens do universo.
Mpox: a varíola dos macacos
A nova varíola, agora chamada de mpox pela OMS, nos deu um grande susto ao se proliferar logo depois da longa e grave pandemia de COVID-19: em maio de 2022 ela já estava presente em países por todos os continentes.
Se por um lado ainda não há uma vacina específica e tratamentos para a doença, por outro temos a sorte de poucos casos serem letais, e de as vacinas tradicionais contra varíola ajudarem a conter a doença, ainda que muito longe de ter a eficácia desejada. O uso dessas vacinas e mudanças comportamentais ligadas ao conhecimento de que a mpox se espalha pelo contato pele-com-pele levaram a redução na velocidade de transmissão, dando-nos relativo alívio quanto a essa doença.
COP27: boas e más notícias
A conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas de 2022 trouxe uma boa novidade: as nações participantes acordaram em criar um fundo de auxílio para países mais pobres atingidos por catástrofes associadas às mudanças climáticas.
Por outro lado, a conferência falhou em criar acordos limitando o uso de combustíveis fósseis, e alguns cientistas apontam que já estamos sem tempo para evitar que a temperatura global média ultrapasse 2 graus célsius acima da era pré-industrial.
Novidades sobre COVID-19
A fase mais crítica da pandemia de COVID-19 ficou para trás, mas não nos vimos totalmente livres da doença. Neste ano a variante Omicron emergiu, com uma capacidade maior de evadir defesas imunológicas. Novas vacinas foram desenvolvidas, incluindo sprays nasais, e outras ainda estão em diferentes fases de desenvolvimento.
Xenotransplantes: de porcos para humanos
Em janeiro de 2022 ocorreu o primeiro transplante de um coração de porco geneticamente modificado para um humano. Embora o paciente tenha sobrevivido apenas 2 meses, estes são resultados positivos, considerando que o transplante de órgãos de outros animais, sem modificações genéticas, é rejeitado pelo sistema imune imediatamente.
Este experimento, bem como outros que fizeram transplantes semelhantes com rins em pacientes já legalmente mortos (isto é, com morte cerebral) são primeiros passos importantes para desenvolver essas tecnologias e permitir o transplante seguro de outros animais para humanos.
Cidades perdidas na Amazônia
Comumente se pensa na floresta amazônica e seus habitantes originais como selvagens, com pequenas populações tribais. Mas novas descobertas utilizando o Lidar – uma espécie de radar que usa pulsos de laser para determinar distâncias – revelou grandes cidades escondidas sob a densa vegetação da Amazônia na Bolívia, incluindo um monumento piramidal, imponentes passarelas entre o centro urbano e assentamentos menores, canais e reservatórios de água. Os pesquisadores apontam que é necessário estudar mais a Amazônia, e que muitas cidades, como esta ou maiores, devem ser reveladas nas próximas décadas.
Fusão nuclear: energia do futuro?
Usinas elétricas baseadas em fusão nuclear são um sonho antigo. Enquanto as usinas de fissão nuclear existentes causam a quebra de átomos, que formam assim outros átomos menores e liberam energia, uma usina de fusão faria com que dois átomos se fundissem, formando um átomo maior que cada um dos iniciais, mas menor que sua soma; a diferença dessas massas seria liberada em forma de energia. A fusão nuclear já foi conseguida antes em laboratório, mas sempre com um gasto de energia maior do que a fusão produziu. Até agora.
Em dezembro de 2022, um grupo do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, utilizou lasers projetados sobre uma minúscula cápsula com hidrogênio, causando a fusão desses átomos e liberando mais energia do que foi aplicada. O experimento ainda é um passo pequeno em direção ao uso comercial desta fonte de energia, mas também um passo crucial e marcante.
Novas luzes sobre a evolução humana
O passo-a-passo da nossa evolução é frequentemente alterado por novas descobertas. Em 2022, duas novidades trouxeram impacto significativo para o que sabemos de nossa própria história.
Uma nova técnica de datação de fóssil foi utilizada para verificar a idade de um Australopithecus, um dos mais antigos representantes da nossa linhagem evolutiva, descoberto na África do Sul. Estimou-se que o fóssil tenha entre 3,4 e 3,7 milhões de anos de idade – mais de 1 milhão a mais do que se supôs anteriormente. Essa idade desafia a ideia de que os nossos mais antigos parentes teriam surgido no leste da África.
Também utilizando uma diferente forma de datar fósseis, uma equipe analisou um Homo sapiens da Etiópia e reviu sua idade: antes estimado em 190 mil anos, agora os cientistas apontam que ele tem pelo menos 230 mil anos de idade. Os pesquisadores ainda querem estimar melhor a idade máxima do fóssil, mas esta diferença de idade é o bastante para levantar questionamentos sobre este ter sido considerado um fóssil com feições “modernas” em comparação com outras descobertas da região.
Relembrados os pontos mais importantes da ciência de 2022, agora nos resta olhar para frente e aguardar mais fascinantes notícias em 2023. Fique ligado na Ilha do Conhecimento para não perder nada!
Colaboração:
Fernando Figueiredo Mecca sobre o autor
Biólogo, mestre em neurociências, é atualmente doutorando e professor. Fernando também é um dos revisores de texto da Ilha e quem costuma trocar e-mails com os colaboradores. Estuda os efeitos de antidepressivos sobre sinais elétricos de áreas específicas do cérebro. Tem também interesse em evolução, ensino de ciências e divulgação científica.
Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências bibliográficas:
https://www.thefocus.news/culture/what-does-locally-real-mean-2022-physics-nobel-prize-explained/
https://www.nobelprize.org/uploads/2022/10/popular-physicsprize2022-2.pdf
https://www.science.org/content/article/technology-spying-you-new-ai-could-prevent-eavesdropping
https://www.paho.org/pt/noticias/28-11-2022-oms-recomenda-novo-nome-para-variola-dos-macacos
https://bigthink.com/the-present/top-10-science-stories-2022/
https://bigthink.com/the-past/omo-human-fossils/
