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O que se sabe sobre a varíola dos macacos?

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Pesquisas mostram que a doença manifestada no surto atual difere de surtos anteriores fazendo os cientistas reavaliarem o que sabem sobre a varíola dos macacos

A varíola dos macacos consiste em uma zoonose (doença infecciosa transmitida entre animais e pessoas) viral, causada pelo vírus Monkeypox (MPX), que tem ganhado destaque na mídia devido ao surto de alta transmissão entre humanos. Esse vírus foi identificado pela primeira vez em 1958 em macacos e roedores em um laboratório dinamarquês, enquanto os casos humanos foram identificados pela primeira vez na República Democrática do Congo em 1970.

Quando comparado com surtos anteriores, o surto atual apresenta uma menor taxa de mortalidade comparado a dados históricos. No entanto, este fato está sendo reavaliado por pesquisadores, que acreditam que essa taxa de mortalidade pode ser maior do que as estimativas atuais. Isso porque alguns países (por exemplo, a África), podem não estar registrando todas as mortes devido a limitação de recursos para testes e vigilância. Além disso, estima-se que a taxa possa  aumentar, de acordo com a disseminação do vírus.

O principal sintoma característico da doença consiste na erupção de lesões na pele de forma generalizada, como nas mãos, pés e rosto das pessoas. Atualmente, tem-se observado um aumento de erupções em regiões de mucosas ( nome dado ao conjunto formado por epitélio mais tecido conjuntivo que reveste as cavidades úmidas do corpo, em contraste com a pele onde a superfície é seca).

Apesar de não serem mais graves, são regiões de um tecido sensível, podendo causar imensa dor na garganta ou em áreas genitais e retais, segundo Jason Zucker, especialista em doenças infecciosas (médico de doenças da Universidade de Columbia, em Nova York). As lesões causam inflamações, podendo até levar a choque séptico (condição com risco de vida causada por uma inflamação grave).

A Organização Mundial da Saúde (OMS), usa o número de lesões como referência da gravidade da doença. No entanto, as lesões nas mucosas são mais difíceis de identificar e caracterizar que as lesões de pele. Sendo assim,  Andrea McCollum, epidemiologista que lidera a equipe de poxvírus nos EUA (Centros de Controle e Prevenção de Doenças em Atlanta, Geórgia), afirma que a esse sistema de referência pode precisar de ajustes. 

varíola
Marcas vermelhas é um dos principais sintomas da varíola do macaco – Fonte: Drauzio Varella

As mortes pela varíola dos macacos ocorreram em pelo 10 países. Diante disso, os pesquisadores têm conduzido esforços para entender como o vírus contribuiu para essas mortes. Além das infecções cutâneas, a encefalopatia é uma característica comum da apresentação clínica da varíola e, embora raros, casos de encefalite, convulsões e acidente vascular cerebral foram descritos após infecção.

Ainda não está claro se a encefalite  (inflamação do cérebro que ocorre quando um vírus infecta diretamente o cérebro ou quando um vírus, uma vacina ou outra coisa ativa a inflamação) por varíola dos macacos ocorre como resultado do vírus infectar tecidos cerebrais ou por causa de uma resposta imune excessiva que causa inchaço cerebral. Jonathan Rogers, neuropsiquiatra da University College London, afirma que “Temos que ir além de considerar a varíola dos macacos uma doença de pele e respiratória”.

Das mais de 57.000 pessoas confirmadas como tendo infecções por varíola, pelo menos 22 morreram, representando uma taxa de mortalidade de cerca de 0,04%. Isso é significativamente menor do que os 1-3% que foram relatados durante surtos causados ​​por uma cepa viral semelhante na África Ocidental nas últimas décadas. McCollum explica que o local no corpo que o vírus infecta pela primeira vez pode ditar a gravidade da doença, sendo a infecção em mucosas mais complicada que quando ocorre na pele.

A maioria das infecções do surto atual é resultante de contato sexual. Além disso, Zucker explica que mais dados também são necessários para entender se os efeitos de um caso grave de varíola dos macacos podem persistir após a infecção desaparecer. Em adição,  McCollum conclui que “Esta não é uma doença leve e pode ser bem séria”.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes:

Artigo científico intitulado “Neurological and psychiatric presentations associated with human monkeypox virus infection: A systematic review and meta-analysis”, publicado na revista eClinicalMedicine em 2022, de autoria de Badenoch e cols. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2589537022003741?via%3Dihub

Matéria no site Nature Briefing, intitulada “How deadly is monkeypox? What scientists know” publicada em 13/09/2022. https://www.nature.com/articles/d41586-022-02931-1

Matéria no site Viva Bem UOL, intitulada “Varíola dos macacos: primeira morte no Brasil é motivo para preocupação?” publicada em 29/07/2022.   https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/07/29/monkeypox-primeira-morte-e-aumento-de-casos-sao-motivo-para-preocupacao.htm

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