#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)
Pesquisadores desenvolvem galinhas que botam ovos dos quais nascem apenas fêmeas, evitando o sacrifício de machos
Cerca de 8 milhões de pintinhos machos são abatidos anualmente, pela indústria alimentícia, por não botarem ovos. Essa prática é comum no mundo inteiro, tendo apenas a sexagem in-ovo para evitá-la. Essa metodologia permitia o descarte de ovos antes de nascerem, ao detectar o sexo do embrião ainda no ovo em até 6 dias de incubação. Diante desta problemática, pesquisadores israelenses desenvolveram galinhas geneticamente editadas que põem ovos dos quais nascem apenas fêmeas.
A Compassion in World Farming (CIWF), grupo de defesa do bem-estar animal, apoiou a pesquisa e Yuval Cinnamon, do Instituto Volcani (Israel) e principal cientista da pesquisa, disse à BBC News que o desenvolvimento do que ele chama de “galinha Golda” terá um grande impacto no bem-estar animal na indústria avícola.
A equipe de Cinnamon ainda não publicou a pesquisa porque planeja licenciar a tecnologia por meio de sua empresa associada, a Huminn Poultry. Isso significa que o estudo ainda não foi avaliado por pares. Esses pares são cientistas independentes do grupo de pesquisa que avaliam os trabalhos quando publicados em revistas científicas. Para desenvolver as galinhas geneticamente modificadas, os pesquisadores alteraram um cromossomo sexual (que carrega as informações genéticas relacionadas ao sexo) das galinhas.
As fêmeas possuem cromossomos sexuais WZ, os machos possuem ZZ. Ao alterar o cromossomo Z de fêmeas, construindo um sistema ainda não publicado, o qual é ativado quando exposto à luz azul, os pesquisadores conseguem expor os ovos a esta luz e impedir o desenvolvimento do ovo de macho que precisa do cromossomo Z funcional. Por outro lado, a fêmea não é afetada pela exposição à luz. Assim, o ovo da fêmea se desenvolve e do macho não.
Os pintinhos fêmeas que nascem a partir desse processo não apresentam material genético diferente do usual, tampouco os ovos que põem, de acordo com Cinnamon. Dessa forma, o produto é o mesmo sem que haja o sacrifício de pintinhos macho.
A organização britânica de bem-estar animal, CIWF, trabalhou em conjunto com os pesquisadores e acompanhou a pesquisa por três anos. O principal assessor de política do grupo, Peter Stephenson, disse que a inovação pode ser uma “evolução realmente importante” para o bem-estar animal. “Normalmente, sou muito cauteloso em usar edição genética de animais de fazenda. Mas este é um caso excepcional, e eu e meus colegas da CIWF apoiamos”, diz ele.
Enbal Ben-Tal Cohen, que liderou a pesquisa, disse à BBC News que a pesquisa está em estágio avançado de desenvolvimento — e que a equipe está trabalhando em conjunto com criadores para aperfeiçoar o processo. “Ao longo de muitos anos de pesquisa, houve uma série de desafios difíceis que superamos com sucesso e, finalmente, agora que temos uma solução viável, espero que a indústria a adote muito em breve”, afirma.
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Fontes:
Matéria no site BBC News, intitulada “As galinhas geneticamente editadas que podem salvar bilhões de pintinhos de serem triturados vivos”, publicada em 14/12/2022. https://www.bbc.com/portuguese/geral-63970399
Matéria no site Wikipédia, intitulada “Projeto de lei quer proibir que milhões de pintinhos machos sejam triturados vivos em São Paulo”, publicada em 11/02/2021. https://conexaoplaneta.com.br/blog/projeto-de-lei-quer-proibir-que-milhoes-de-pintinhos-machos-sejam-triturados-vivos-em-sao-paulo/#fechar
