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Grupos Sanguíneos Raros

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

O Que os Torna Únicos?

DESTAQUES:
• Células sanguíneas carregam substâncias em sua superfície chamadas de antígenos;
• A presença ou ausência de diferentes antígenos, devido à herança genética, define o grupo sanguíneo de uma pessoa;
• Existem mais de 45 sistemas sanguíneos diferentes;
• Portadores do ‘Sangue Dourado’, como o Rh-nulo, são especiais por não possuírem antígenos na superfície dos glóbulos vermelhos.

grupos sanguíneos

Estamos habituados aos grupos sanguíneos mais comuns, como A, B, AB ou O, quando perguntamos a alguém sobre seu grupo sanguíneo. Esses grupos fazem parte do sistema ABO, o mais frequentemente utilizado em todo o mundo, junto com o sistema Rh. Pertencer a um desses grupos significa ter ou não antígenos específicos na superfície dos glóbulos vermelhos. Antígenos são como “etiquetas específicas” em diferentes partes das células sanguíneas que o sistema imunológico pode reconhecer. A presença ou ausência dessas etiquetas, devido à herança genética, define o grupo sanguíneo de uma pessoa.

Os sistemas de grupos sanguíneos podem ser comparados a “clubes exclusivos” em nosso corpo, cada um controlado por um conjunto específico de genes. Cada gene determina quais “símbolos” (antígenos) estão presentes em nosso sangue. Para identificar esses “símbolos”, é necessário compreender e confirmar as variações genéticas que afetam a aparência do nosso sangue. Em resumo, cada grupo sanguíneo é como um clube distinto com sua própria identidade genética.

A Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT) identificou surpreendentes 360 antígenos nos glóbulos vermelhos, agrupando-os em 45 sistemas. Isso significa que, além dos conhecidos sistemas ABO e Rh, existem muitos outros sistemas menos frequentes na população mundial que variam conforme a etnia, como se fossem diferentes clubes sanguíneos, cada um com combinações únicas de antígenos.

É o caso do sistema Duffy, composto de três antígenos: Fya, Fyb e Fynull. O gene responsável pela codificação desses antígenos é o gene Duffy; além disso, este sistema sanguíneo desempenha um grande papel na resistência ou suscetibilidade à malária, já que o Plasmodium vivax, parasita causador da doença, usa a proteína Duffy para entrar nas células vermelhas do sangue. Pessoas com sangue Duffy negativo são naturalmente mais resistentes à infecção por esse tipo de malária.

Os anticorpos anti-Fya e anti-Fyb podem causar reações transfusionais hemolíticas imediatas e tardias, e também podem levar à doença hemolítica do recém-nascido, caracterizada pela destruição das hemácias fetais por anticorpos maternos, os quais são produzidas a partir do primeiro estímulo em gestações anteriores ou transfusão anterior à uma gestação que se encontra em curso.

O sistema Luterano é composto por diversos antígenos, sendo o principal chamado de antígeno Lutheran (Lu). Existem dois tipos principais de antígenos luteranos, chamados Lu(a) e Lu(b). Dependendo de quais desses antígenos uma pessoa tem, ela terá um grupo sanguíneo luterano específico, como Lu(a+b-) ou Lu(a-b+), entre outros. 

Como último exemplo, o sistema Kidd codificado pelo gene SLC14A1 é outro sistema de grupos sanguíneos que envolve antígenos encontrados na superfície das células vermelhas do sangue. Neste sistema, o antígeno principal é chamado de antígeno Jk, que possui três formas principais: Jka, Jkb e jk3. 

Esses anticorpos podem desencadear reações transfusionais violentas e imediatas que podem levar à morte, além de contribuírem para reações transfusionais retardadas. Durante a gravidez, eles podem causar a doença hemolítica do recém-nascido e também conduzir a hemólises moderadas.

Essa diversidade é essencial para entender a complexidade dos grupos sanguíneos, indo além dos convencionais A B, AB, O e Rh.

Geralmente, o termo “sangue raro” é usado para descrever o sangue que não possui um antígeno de alta prevalência. Cerca de cem dos aproximadamente 360 antígenos conhecidos dos glóbulos vermelhos são antígenos de alta prevalência. Um desses exemplos é o «sangue dourado”: um grupo sanguíneo raro chamado Rh-nulo, o qual cerca de 50 pessoas no mundo possuem.

Os portadores desse grupo sanguíneo são especiais porque não têm nenhum dos antígenos na superfície dos glóbulos vermelhos. Para se ter uma ideia da raridade, aproximadamente uma em cada seis milhões de pessoas tem esse grupo sanguíneo incomum, frequência essa estimada nas populações onde foi descoberto o grupo em 1961, entre os aborígenes na Austrália. 

Vale lembrar que grupo Rh-nulo é diferente do Rh- negativo: enquanto o primeiro possui total ausência de antígenos na superfície dos glóbulos vermelhos, o segundo por sua vez, possui todos os antígenos e ausência de RhD. Além disso, existe uma variedade de outros antígenos cuja base molecular e bioquímica ainda não foi elucidada.

grupos sanguíneos

É crucial ressaltar que, além dos sistemas sanguíneos ABO e Rh, que são amplamente considerados na prática clínica diária, a atenção a outros sistemas também é fundamental. O conhecimento abrangente de diferentes grupos sanguíneos é de grande importância. Na realização de transfusões sanguíneas, a garantia de compatibilidade é essencial para prevenir complicações. Alguns sistemas sanguíneos menos observados estão associados a condições específicas, fornecendo aos médicos insights valiosos para o tratamento.

Na pesquisa médica, a análise desses grupos contribui para uma compreensão mais profunda do funcionamento do corpo humano. Durante a gravidez e transplantes, a identificação dos grupos sanguíneos é vital para a segurança da mãe e do bebê, assim como para o sucesso dos transplantes. Em síntese, o conhecimento aprofundado dos grupos sanguíneos desempenha um papel essencial na promoção de tratamentos mais seguros e impulsiona avanços significativos na medicina.

 

Colaboração:

dnaJonathan de Oliveira Rios sobre o autor

Biólogo e Mestre em Ciências pela Universidade Federal do Triângulo-Mineiro – UFTM, atualmente doutorando em genética pela UNESP de São José do Rio Preto. Interesses de pesquisa: Resistência de mosca de frutas e polimorfismos genéticos associados a anemia falciforme. Atualmente desenvolve pesquisas com SNPs na Université de Paris Cité, França.

 

Referências:

Artigo científico intitulado “Blood Group System”, publicado em 2017 na revista Transfusion Medicine Reviews, por Lawicki, S. e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Blood groups systems”, publicado em 2014 na Indian Journal Of Anaesthesia, por Rath, G.. e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Principais Questões sobre Doença Hemolítica Perinatal”, publicado em 2022 pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira na Fundação Oswaldo Cruz, por Rath, G.. e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Rare Blood Groups in ABO, Rh, Kell Systems – Biological and Clinical Significance”, publicado em 2022 na revista Prilozi, por Ristovska, E. e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Red Cell Immunogenetics and Blood Group Terminology”, publicado em 2023 pela ISBT. Disponível em: https://www.isbtweb.org/

Artigo científico intitulado “Sistema de grupo sanguíneo Duffy: biologia e prática transfusional”, publicado em 2005 na Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia,, por Pagliarini, E. e colaboradores.

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(Editoração: Fernando F. Mecca e Priscilla Elias)

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