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Cientistas apontam que extremos climáticos provavelmente levarão à extinção de mamíferos terrestres durante a próxima montagem do supercontinente
Os mamíferos dominaram a Terra durante aproximadamente 55 milhões de anos graças às suas adaptações ao aquecimento e à regulação da temperatura do planeta.
Devido à ação humana, o processo de aquecimento global tem sido intensificado e algumas hipóteses trazem que o aumento da temperatura global pode inviabilizar a manutenção da vida no planeta. No entanto, as condições que tornariam a Terra naturalmente inóspita para os mamíferos podem desenvolver-se mais cedo devido a processos de longo prazo ligados às placas tectónicas (as perturbações de curto prazo não são consideradas aqui). Sendo assim, cientistas da Universidade de Bristol desenvolveram uma pesquisa, publicada na Nature Geoscience, cujos primeiros modelos climáticos de um supercomputador indicam que os mamíferos devem ser capazes de sobreviver cerca de 250 milhões de anos na Terra.
Para o estudo, a equipe aplicou modelos climáticos, simulando tendências de temperatura, vento, chuva e umidade para o próximo supercontinente — chamado Pangea Ultima —, esperado para se formar nos próximos 250 milhões de anos. Para estimar o futuro nível de CO2, a equipe usou modelos de movimento de placas tectônicas, química e biologia oceânica para mapear entradas e saídas de CO2. Dessa forma o estudo mostra que, somado ao aquecimento global, processos tectônicos na crosta terrestre que resultam na formação de supercontinentes, também levariam a erupções vulcânicas mais frequentes. Como elas produzem enormes emissões de dióxido de carbono na atmosfera, aqueceriam ainda mais o planeta.
Hoje, as medidas críticas de estresse térmico raramente são excedidas em terra e, nesse caso, apenas em escalas de tempo curtas (horas ou dias). Se apenas a geografia mudasse, o estresse térmico crítico não seria excedido, mas conduziria o clima para limites críticos. Num ponto onde grandes regiões do supercontinente ultrapassam estes limites críticos por períodos superiores a 30 dias, a maior parte dos Trópicos tornaria-se inabitável e, isto estenderia-se pelas latitudes médias a altas.
Os mamíferos, incluindo os humanos, sobreviveram historicamente graças à sua capacidade de se adaptar a extremos climáticos, especialmente por meio de adaptações como pelagem e hibernação no frio, bem como curtos períodos de hibernação em tempo quente.
Alexander Farnsworth, um dos autores e pesquisador sênior associado da Universidade de Bristol, afirmou: “O supercontinente recém-formado efetivamente criaria um triplo golpe, composto pelo efeito de continentalidade, sol mais quente e mais CO2 na atmosfera, aumentando o calor para grande parte do planeta. O resultado é um ambiente principalmente hostil, desprovido de fontes de alimentos e água para os mamíferos.” Por fim, ele afirma que “Temperaturas generalizadas entre 40ºC e 50ºC, e até mesmo mais extremas diariamente, aliadas a altos níveis de umidade selariam nosso destino, em última análise. Os humanos — juntamente com muitas outras espécies — pereceriam devido à incapacidade de dissipar esse calor por meio do suor, resfriando seus corpos.”
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências:
Artigo científico intitulado “Climate extremes likely to drive land mammal extinction during next supercontinent assembly”, publicado na revista Nature Geoscience em 2023, de autoria de Coale e colaboradores. https://www.nature.com/articles/s41561-023-01259-3#Sec6
Matéria no site O Globo, intitulada Cientistas usam modelos climáticos para apontar a data em que Terra enfrentará extinção em massa; entenda”, publicada em 30/04/2024. https://oglobo.globo.com/mundo/clima-e-ciencia/noticia/2024/04/30/cientistas-usam-modelos-climaticos-para-apontar-a-data-em-que-a-terra-enfrentara-uma-extincao-em-massa-entenda.ghtml